"Um país pacífico como o Brasil não pode ser confundido com um país desarmado e indefeso. Vivemos em paz com nossos vizinhos, mas o Brasil é detentor de enormes riqueza e possuidor de grandes dimensões", afirmou Amorim.
Segundo relatos, a nomeação do ex-chanceler no lugar de Nelson Jobim, que pediu demissão na semana passada após declarações polêmicas à imprensa, desagradou alguns militares, que teriam restrições quanto à presença de um diplomata na chefia das Forças Armadas.
Em seu discurso, porém, Amorim afirmou que trabalhará “sob o signo da continuidade” e que se empenhará “para obter os recursos indispensáveis e o equipamento adequado” aos militares.
"Conto, para tanto, também com a compreensão dos colegas da área financeira", disse.
Um dos principais assuntos com que o ministro deverá se deparar em sua gestão é a compra de caças para a Aeronáutica, suspensa ainda no governo Lula após cortes orçamentários. Durante a gestão do petista, quando chefiava o Ministério de Relações Exteriores, Amorim manifestou-se favoravelmente à compra de caças franceses.
Após seu discurso, no entanto, disse a jornalistas que sua opinião, emitida há dois anos, teria de ser reavaliada. Disse também que ainda não discutiu o tema com a presidente Dilma Rousseff nem com o comando militar.
Quanto à retirada das tropas brasileiras do Haiti, ação que defendeu recentemente em entrevista, disse que "é preciso garantir que a saída seja responsável e pensada". "Tem que ter uma estratégia de saída. Será bom para o Haiti e bom para o Brasil."
Amorim afirmou ainda que, na Defesa, buscará o fortalecimento da indústria nacional e o avanço da tecnologia nas forças armadas, em estreita colaboração com os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia.
Antes de ser chanceler no governo Lula, Amorim já havia ocupado o cargo na gestão de Itamar Franco, entre 1992 e 1994.
Filiado ao PT desde 2009, foi ainda embaixador do Brasil em Londres e representante do Brasil na ONU.
Projetos inadiáveis
Em seu discurso, Dilma também se empenhou em tranquilizar os militares sobre Amorim. Disse que a escolha pelo ex-chanceler foi cuidadosa e o chamou de "o homem certo para o lugar certo".
"Muitos projetos estratégicos prioritários ao país estão em andamento no ministério da Defesa. São projetos que não podem sofrer rupturas, atrasos e adiamentos. Escolhi o embaixador Celso Amorim por ter certeza absoluta de que, com ele, os projetos terão continuidade e ganharão maior velocidade e e solidez."
Nem Dilma nem Amorim citaram o ex-ministro Nelson Jobim em seus discursos. Ausente na cerimônia (disse estar em repouso por suspeita de dengue), Jobim deixou o cargo após chamar, em entrevista à revista piauí, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) de "muito fraquinha" e afirmar que a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "nem sequer conhece Brasília".
Jobim teria afirmado ainda que o governo Dilma foi "atrapalhado" ao lidar, há dois meses, com a Lei de Acesso à Informação, sobre o sigilo de documentos ultrassecretos.
Após a repercussão negativa, ele negou ter se referido de forma pejorativa às ministras e atribuiu a polêmica a um "jogo de intrigas".