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Mulheres estão cada vez mais presentes nas Forças Armadas brasileiras

A presença feminina nas Forças Armadas brasileiras é cada vez maior. Hoje, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, elas já são 22.208 militares, ou 6,34% do efetivo total militar do país: 350.304. A boa notícia é que esse número tende a crescer por causa das mudanças ocorridas no sistema de ingresso nas carreiras militares, e da firme disposição da presidenta e comandante em chefe Dilma Rousseff para que elas se enganjem na linha de frente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, admite que a presença feminina ainda é pequena, mas avalia que, com as mudanças em curso, a tendência é ampliar esse cenário. Segundo ele, nos últimos anos houve um aumento da quantidade de mulheres nas Forças Armadas “não só em números, em qualidade, em intensidade e em termos hierárquicos mais importantes”.

“Temos observado um crescimento da participação feminina nas Forças Armada, mas o percentual ainda é pequeno se pernsarmos a importância que tem as mulheres para o conjunto da sociedade  e também em vários outros órgãos da administração pública. Mas esse número vai crescer ao longo dos próximos anos”, disse.

Celso Amorim tem sido um incentivador da ampliação da presença feminina na defesa. Por iniciativa própria, ele trouxe para seu gabinete oficiais mulheres das três forças. As militares atuam na assessoria, com serviços que vão desde o cerimonial ao acompanhamento cotidiano de reuniões que contam com a participação direta do chefe da pasta.

Elas são a capitão-de-corveta  Ana Paula Alves de Souza (Marinha) e as tententes Sofia Meirose Salles (Exército) e Tatiana Willig (FAB). A oficial Paula lembra que a recente promoção da contra-almirante Dalva Mendes, primeira mulher a alçar o posto de oficial-general na história das Forças Armadas foi uma das maiores conquistas para as mulheres.
“Ao longo dos anos, angariando respeito e consideração, mediante nossa dedicação e profissionalismo, passamos a ocupar funções de relevância e hoje, talvez, a maior das conquistas, é termos a primeira oficial-general”, disse a oficial.

A capitão entrou para os quadros da Força Naval em 1993 por meio de concurso público para nível técnico do quadro auxiliar feminino de praças. Em 2000 fez novo concurso público para o quadro técnico, desta vez para nível superior. Após o Curso de Formação de Oficiais, em 2001, Paula foi promovida ao posto de primeiro-tenente.

“Desde criança queria ser da Marinha. Tinha inclusive roupa de marinheira. Na realidade, não imaginava a dimensão do que isso significava, até por não ter militares em minha família, mas foi um sonho acalentado e apoiado por todos”, relatou.

Das três auxiliares, a tenente Sofia é a que tem experiência na missão de paz no Haiti. Ela trabalhou como oficial de Comunicação Social da Companhia de Engenharia de Força de Paz (BRAENGCOY) durante quase nove meses. “Foi uma das mais gratificantes experiências que tive na vida. Foram muitos os ganhos que compensaram imensamente o fato deixar o meu país, a minha família, o conforto da minha casa, entre tantas outras coisas para auxiliar um país que passa por tantas dificuldades”, disse.

E continuou: “Lá pude exercer de forma mais plena a minha profissão militar e também minha formação acadêmica. Só o fato de ter sido selecionada para integrar a missão como uma das três mulheres entre os 250 militares da BRAENGCOY, já foi um motivo de alegria, satisfação pessoal e profissional, mas também trouxe grandes responsabilidades e muitos desafios.”

Com 10 anos de FAB, completados no mês passado, a tenente Tatiana lembra da influência do pai no momento de decidir entrar para as Forças Armadas. Ela passou quatro anos na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga (SP).

“Sendo filha de militar, cresci acompanhando a carreira de meu pai e passei a me identificar com os valores e virtudes desenvolvidos pelos militares, como hierarquia, disciplina e lealdade, o que acabou motivando-me a seguir a carreira”, destaca.

Engenheira naval com patente de primeiro-tenente, Marisa Inácio da Silva serve na Base Fluvial de Ladário, no Mato Grosso do Sul. “Eu entrei em um processo seletivo por currículo e tempo de experiencia. Entreguei todos os documentos do meu currículo e fiz uma entrevista onde respondi questões técnicas sobre a minha área”, recorda.

Tenente Malta na Ágata 6

No ano passado a tenente Marília Landgraf Malta levantava voo num helicóptero da FAB em pleno aeroporto da cidade de Cáceres (MT) durante a operação Ágata 6. Formada da turma de 2008 da AFA, a tenente Malta participou do curso de especialização Operacional em Asas Rotativas (CEOAR) no ano de 2009. Depois foi transferida para o 2/10 GAV em Campo Grande (MS).

“Sou piloto operacional da aeronave H-1H possuindo a marca de 340 horas voadas na aeronave e 575 horas totais de voo. As aeronaves voadas são: T-25, T-27, H-50 e H-1H. Atualmente estou realizando formação básica na aeronave SC-105 Amazonas no simulador em Manaus, e quando retornar para Campo Grande realizarei a formação na aeronave e me tornarei piloto básico na aeronave Amazonas”, contou a oficial num dos intervalos do curso na capital amazonense.

Contra almirante Dalva Mendes

O ministro Celso Amorim lembra que recentemente a presidenta Dilma nomeou a primeira oficial-general mulher, a almirante médica Dalva Mendes. Mesmo reconhecendo que a presença feminina ocorre mais em setores administrativos e nos serviços médicos e odontológicos, Amorim lembra que a Aeronáutica já tem em seus quadros mulheres pilotos de caças e helicópteros.

“As mudanças legislativas recentes também fazem crer que muito brevemente teremos mulheres cursando a Escola Naval, a AMAN, além do fato de já cursarem a Academia da Força Aérea. Então, com essa presença cada vez maior tenho certeza que vai refletir não só numa representação mais adequada da sociedade brasileira nas Forças Armadas, mas uma crescente eficiência dessas forças em função da contribuição que as mulheres trazem”, avaliou.

Alçada ao posto de contra-almirante, a promoção de Dalva Mendes ocorreu no fim do ano passado. Após a troca de platinas, ela deu os primeiros depoimentos onde destacou o pioneirismo de ser a primeira brasileira a ocupar o generalato.

“Essa alegria que estou tendo agora é difícil de definir. Como disse hoje pela manhã: este momento é como um casamento, e eu me sinto renovando os votos com a Marinha e com o meu país”, contou naquela ocasião.

Marinha do Brasil

A participação das mulheres na Marinha do Brasil remonta 1980, ano em que a legislação permitiu o ingresso feminino na Força. À época, elas integravam um corpo auxiliar e sua participação era restrita a alguns cargos e ao serviço em terra. Entre 1995 e 1996, com a promulgação de novas leis que regulamentaram a carreira militar, o acesso das oficiais mulheres foi estendido aos corpos de saúde e engenharia.

Em 1997, com o advento da Lei nº 9.519, houve a reestruturação dos quadros de oficiais e praças com uma significativa ampliação da participação das mulheres nas atividades da Força Naval. Atualmente, as militares, que no início tinham participação mais restrita, prestam serviços em diversas áreas: engenharia, saúde, intendência, quadro auxiliar da Armada entre outras.

Atualmente, 5.815 mulheres fazem parte da Marinha do Brasil. As oficiais que integram as áreas de intendência, engenharia e saúde podem, de acordo com a legislação, alcançar até o posto de vice-almirante.

Exército brasileiro

Nos próximos anos mais mulheres farão história no Exército brasileiro. Elas poderão atuar como combatentes. A presidenta Dilma sancionou em agosto do ano passado a Lei nº 12.705 que permite o ingresso de militares do sexo feminino em áreas antes restritas aos homens.

De acordo com a nova legislação, o Exército terá um prazo de até cinco anos para fazer adaptações nas estruturas físicas para permitir o ingresso das mulheres no ensino da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), e na Escola de Sargentos das Armas (EsSa), em Três Corações (MG).

Segundo informações da Força Terrestre, as equipes responsáveis por essas mudanças já trabalham na elaboração dos projetos que vão viabilizar alterações nos alojamentos, banheiros e quartéis.

O Exército, que atualmente conta com 6.700 mulheres, recebe, desde a década de 90, profissionais das áreas de administração, saúde e engenharia. A Escola de Formação Complementar do Exército (ESFCEx), localizada em Salvador (BA), formou em 1992 a primeira turma de oficiais. Quatro anos depois, foi instituído o Serviço Militar Feminino Voluntário para médicas, farmacêuticas, dentistas, veterinárias e enfermeiras (MFDV) que ampliou espaço para a atuação feminina. Na sequência, em 1996, o Instituto Militar de Engenharia (IME) recebeu as primeiras mulheres no quadro de engenheiros militares.

A presença das mulheres na Força Terrestre subiu de 3.617 em 2004 para 6.466 em 2012. Desse contingente, sete mulheres podem chegar nos próximos cinco anos ao posto de oficial-general. Atualmente, elas estão em processo de formação na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), no Rio, fase que, após ser cumprida, as deixará em condições de dirigir uma unidade militar. Após essa etapa, elas estarão aptas a disputar espaço no quadro de oficiais superiores.

Força Aérea Brasileira

A FAB foi a primeira das três Forças a abrir espaço para a atuação das mulheres na atividade fim da instituição. Na atualidade, é a que possui o maior número de militares do sexo feminino em seus quadros. Em 2002, elas somavam 3.249; atualmente chegam a 9.927.

Neste ano, a Aeronáutica completa 31 anos do ingresso das primeiras mulheres na FAB. Apesar de estarem presentes nas pistas, hangares e escolas de formação, é dentro de aeronaves que elas escrevem seus nomes na história da aviação brasileira.

Foi assim que a tenente-aviadora Carla Alexandre Borges se tornou, no ano de 2011, a primeira aviadora a assumir o comando de uma aeronave de caça de primeira linha da Força Aérea, o modelo A-1 (AMX). No mesmo ano, a tenente Juliana Barcellos Silva, da primeira turma de aviadoras da AFA, foi a primeira mulher a assumir a função de instrutora. Essas marcas reúnem dezenas de mulheres determinadas e prontas para defender o país de ameaças externas.

O ingresso feminino na academia no Quadro de Oficiais Intendentes foi autorizado em 1995. Oito anos depois, em 2003, a instituição recebeu as primeiras mulheres para o Curso de Formação de Oficiais Aviadores.

Missões de paz

Em dezembro de 2011 o Ministério da Defesa e a ONU Mulheres (Agência da Organização das Nações Unidas para as mulheres) firmaram carta de intenções com o objetivo de ampliar a presença feminina em operações de paz. O documento, o primeiro do gênero a ser firmado pelo organismo internacional, foi assinado pelo ministro Celso Amorim e pela secretária-geral adjunta das Nações Unidas e diretora executiva da agência, Michelle Bachelet.

A carta de intenções, segundo a subsecretária da ONU Mulheres, vai além do reconhecimento do papel brasileiro em missões de paz. “É uma prova da vontade do Ministério da Defesa em ampliar a participação feminina”, concluiu.

A tenente Sofia conta que as Nações Unidas veem a mulher com um fator importante no processo da manutenção da paz. E relata: “Responsáveis pelos filhos, pela casa e pela alimentação, elas dificilmente se envolvem nos conflitos e buscando a segurança de sua família e a sua própria, se tornam agentes da paz. Auxiliar no processo de empoderamento dessas mulheres é certamente uma das coisas mais importantes que fiz nessa missão.”

No Exército desde o ano de 2006, a tenente ficou no Haiti no período agosto de 2011 a abril do ano passado. “Está experiência foi tão importante na valorização da minha carreira que, ao final da missão –  quando estava retornando ao Brasil, ainda no período de desmobilização – recebi a notícia de que havia sido indicada para trabalhar no Gabinete do Ministro da Defesa. Outro desafio que aceitei prontamente e que diariamente me faz crescer como militar, profissional e mulher”, contou.
 

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