Por José Maria Trindade
Jovem Pan
17 Março 2022
Setores militares desengavetam a velha estratégia de fabricar uma bomba atômica. O Brasil não tem ogivas nucleares, mas lida com a tecnologia de maneira muito próxima, na produção de energia elétrica e propulsão. O assunto é tão estratégico que sempre foi tratado próximo ao presidente da República, assumindo importância ou não segundo o governo do momento.
O setor de energia nuclear foi transferido para o setor de comando, mas mesmo para a área técnica, sob comando dos militares. O CNEN, Comissão Nacional de Energia Nuclear é uma área estratégica, mas a Marinha é que domina a tecnologia nuclear para fins pacíficos.
A força deu um grande passo tecnológico e o submarino com propulsão nuclear, uma grande conquista brasileira, é a ação militar do momento. O submarino brasileiro terá armas convencionais, operação igual, mas com a propulsão via varetas radioativas e terá mais tempo submerso e maior ação nas operações.
Há uma grande diferença entre a tecnologia nuclear para fins pacíficos e a montagem de uma ogiva nuclear. O enriquecimento do urânio para fins pacíficos chega aos 5 por cento, enquanto para o armamento o enriquecimento chega aos 90 por cento.
Aqui no Brasil a fiscalização por entidades internacionais é rígida. Há controle na chegada do material e na saída. Além disso os fiscais independentes tem autonomia para visitas aleatórias, e controle via câmaras instaladas nas áreas sensíveis. Apesar desta vigilância, a tecnologia se popularizou e o Brasil já tem tecnologia para montar a sua bomba. É preciso uma nova centrífuga, para enriquecimento do urânio, o que se consegue com facilidade no mercado paralelo, mas seria desafiar o acordo de não proliferação de armas nucleares, firmado depois do fim da segunda guerra.
“Perdemos o momento de registro da tecnologia militar para defesa”, lamenta um grande líder militar. O fato é que uma ogiva nuclear só não é montada para evitar uma reação forte da comunidade internacional. Já existem reivindicações para que a própria Marinha faça um enriquecimento de 90 por cento, mesmo para propulsão. O submarino brasileiro teria uma performance muito maior com esta modernização.
Na área de produção de energia por meio de usinas nucleares, o presidente Jair Bolsonaro voltou da visita à Rússia, antes da guerra, com acordos nesta área para a instalação de pequenas e médias usinas. Há também estudos para uso de energia nuclear para automóveis. A constatação de técnicos é de que seria muito eficiente, econômico e de fácil conversão. A dificuldade está na insegurança.
Um acidente automobilístico poderia provocar danos irreversíveis ao meio ambiente e pessoas. Também, o descarte de automóveis ficaria muito mais complicado. O setor se desenvolveu, está mais moderno e seguro e já pensa em reuso das pastilhas, novo enriquecimento, para evitar os resíduos. Hoje além de mais eficientes, as usinas nucleares são seguras e mais baratas. Há inclusive o projeto de criar usinas pequenas para fornecer energia às pequenas cidades. Este projeto é que está sendo importado da Rússia pré-guerra.
Mas os militares querem entrada do Brasil na lista dos portadores de armas nucleares. Os limites impostos pelo tratado de não proliferação de armas nucleares é o que impede o desenvolvimento neste setor. A invasão da Rússia na Ucrânia apenas apressou o incômodo dos militares com o sucateamento das Forças Armadas. Longo tempo de paz e governos hostis aos militares provocaram dificuldades entre os militares.
A manutenção só é lembrada quando a luz se apaga por falta de novos investimentos e cuidados. A guerra deixa lições importantes, entre elas está o cuidado com a defesa e neste contexto, o estudo para produção de armas nucleares aparece. Na avaliação da cúpula do Ministério da Defesa, o que aparece como imediato nas lições da agressividade de Vladimir Putin é o surgimento de dois novos fronts na batalha, a guerra de informação e a cibernética. O Exército Brasileiro está investindo alto nos dois setores.