Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet
Os extremos climáticos e as tempestades cada vez mais violentas levou o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos, a desenvolver um sistema capaz de prever a ocorrência de raios com 24 horas de antecedência.
O projeto é inédito na América Latina, além de ser um dos primeiro no mundo em sua categoria, e vai de encontre com as necessidades de alertas sobre as alterações no clima motivados pelo aquecimento global, algo que tem sido pedido pelo IPCC em escala mundial.
“A ideia é contribuir para a diminuição do número de mortes e feridos por raios no Brasil, país que apresenta a maior incidência de descargas atmosféricas no mundo, com 58 milhões por ano”, disse o coordenador do ELAT e primeiro doutor em descargas elétricas atmosféricas do país, Osmar Pinto Junior.
O projeto “Detecção de sinais de variabilidade relacionados a mudanças climáticas na incidência de descargas atmosféricas no Brasil”, é bancado pelo Inpe e pela Fapesp. E já estará em atividade no próximo verão, período esse que registram 80% dos raios no país. O ELAT foi pioneiro na América do Sul ao criar uma rede de antenas de detecção de raios, com amplitude superior aos 200 quilômetros e seus estudos determinou que o país é o campeão de descargas elétricas atmosféricas no mundo.
“Ao prever com antecedência e razoável margem de acerto em quais regiões os raios podem ocorrer, o sistema permitirá à população tomar medidas de precaução. Com isso, será possível diminuir as estatísticas de cerca de 110 mortes e 500 pessoas feridas, em média, anualmente por esse fenômeno no país”, avaliou Pinto Junior.
O sistema desenvolvido em São José dos Campos se baseia em um modelo meteorológico internacional, chamado Weather Research and Forecasting (WRF). Além de dados sobre descargas atmosféricas dentro de nuvens, as quais podem resultar em raios, que são conseguidos por observações feitas em solo e registrados pela Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDAT).
As várias condições meteorológicas que colaboram na formação de raios são indicadas pelo modelo WRF, que capta indicações de vento, temperatura, umidade e concentração de gelo nas nuvens em diferentes altitudes. Quando comparadas pelo sistema com dados de descargas atmosféricas dentro de nuvens registradas pela BrasilDAT se sabe o potencial de descargas elétricas destas formações de cumulonimbus , as nuvens de tempestade.
De posse destes dados, por exemplo, o sistema prevê em quais áreas de uma cidade como São Paulo há maior probabilidade de formação e ocorrência de raios. Algo importante para alertas de perigo e de potenciais tempestades carregada de eletricidade. Embora o sistema permita prever quais municípios do país ou regiões podem ser atingidos por raios, ainda é cedo para se pedir a precisão da localidade da descarga.
“O sistema não consegue prever onde um raio vai cair exatamente porque ainda apresenta uma margem de incerteza de 10 a 20 quilômetros entre o local exato onde a descarga atmosférica deve ocorrer e o previsto”, explicou Pinto Junior.
Os cientistas do ELAT realizaram um teste durante o verão de 2013, abrangendo inicialmente a região Sudeste do país. Os resultados do estudo foram publicados na revista Atmospheric Research e serviram para validar cientificamente o novo sistema.
No verão de 2014, os testes foram estendidos para, aproximadamente, 80% do território brasileiro. Os resultados indicaram que o sistema foi capaz de prever um dia antes, com uma margem de 85% de acerto, em quais regiões ocorreram os 85 mil raios que atingiram o solo do total de 580 mil descargas atmosféricas registradas pela BrasilDAT em todo o país no dia 14 de janeiro deste ano, por exemplo.
“Essa margem de acerto nos surpreendeu, porque os sistemas de previsão de tempo usados atualmente no Brasil também têm uma margem de acerto semelhante. Achávamos que, pelo fato de a previsão de raios ser mais complexa do que a de tempo, o sistema fosse apresentar uma margem de acerto menor, da ordem de 70%”, afirmou o coordenador do ELAT.
Nota DefesaNet
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