LEONENCIO NOSSA / TÂNIA MONTEIRO
O presidente francês, François Hollande, aproveitou seu primeiro encontro oficial com a presidente Dilma Rousseff e a presença na conferência Rio+20 para retomar o lobby da venda de 36 caças Rafale da Dassault para a Força Aérea Brasileira (FAB). Em almoço ontem no hotel Windsor, na Barra da Tijuca, Hollande conversou com Dilma sobre "cooperação" na área da defesa, admitiu o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Antonio Patriota.
As negociações entre a francesa Dassault e o governo Dilma estavam interrompidas desde o ano passado, quando começou o processo eleitoral.
O encontro entre Dilma e o presidente da França tinha como pauta oficial projetos de "sustentabilidade ambiental". A princípio, Dilma e Hollande seriam acompanhados apenas pela ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e a ministra francesa da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia, Nicole Bricq. As reais intenções de Hollande ficaram claras com a divulgação da presença do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius.
Há um mês no poder, Hollande gastou boa parte da sua agenda ontem para convencer o governo brasileiro a retomar as conversas sobre a compra dos caças. Além de se reunir com Dilma, Hollande se encontrou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por abrir, em 2009, as negociações com a Dassault e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy. Hollande ainda orientou seu ministro dos Negócios Estrangeiros a discutir "assuntos comerciais" com o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.
"Eles têm demonstrado vontade (de discutir a venda dos caças). Mas pela finesse dos franceses, esse assunto não deve ser tratado neste primeiro momento", afirmou o ministro, antes de receber Fabius.
Escalado para falar após o encontro de Dilma e Hollande, o ministro Antonio Patriota disse que o assunto dos caças não foi tratado em "detalhes" pelos dois presidentes. Numa rápida entrevista, Patriota afirmou que o encontro serviu para "aprofundar" o diálogo bilateral e discutir intercâmbios nas áreas de gás, energia nuclear, petróleo, agricultura e defesa.
"Temos uma agenda na área da defesa, estamos inclusive construindo em conjunto um submarino", afirmou. "Nós temos uma parceria estratégica em ciência e tecnologia da informação."
Guerra. Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais do governo brasileiro, disse em tom de brincadeira que a imprensa aborda o assunto dos caças Rafale porque "está doida para ter uma guerra". Ao ser questionado sobre a retomada das negociações de compra das aeronaves, Garcia admitiu que "a vida é sempre um recomeço".
A compra dos caças chegou a ser orçada em US$ 5 bilhões. Durante seu governo, Lula demonstrou preferência pelo modelo Rafale, da francesa Dassault .
Três empresas em disputa
O projeto FX-2, para renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB) com a compra de 36 caças, foi autorizado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro de 2007. Mas até agora o processo não foi concluído. Continuam na disputa três empresas: a francesa Dassault, com o Rafale; a americana Boeing, com o F-18, e a sueca Saab, com o Gripen NG.