Nota DefesaNet
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O Editor
Marcelo de Moraes, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA – No final de 1978, a economia brasileira capengava e o País se esforçava para tentar escapar do subdesenvolvimento. Gastar fortunas para reequipar as Forças Armadas estava longe de ser a prioridade do general Geisel, que se preparava para deixar o governo no ano seguinte. Em razão disso, o ministro-chefe do EMFA, general Tácito Oliveira, contou aos companheiros militares que a intenção do presidente não era a de repassar grandes quantias para as forças como forma de precaução contra guerras improváveis.
"(O presidente) disse que não há nenhuma possibilidade de uma guerra no curto prazo e constitui um esforço muito grande despender uma quantia dessa, sem ter em vista nenhuma guerra iminente", afirmou. "A situação do Brasil não será de declarar ou participar de uma guerra, mesmo em conflito na América do Sul", acrescentou, propondo que os militares fizessem propostas mais exequíveis de reaparelhamento.
"Quando não se tem essa possibilidade de participar de uma guerra teremos que refletir um pouco. Desejamos tudo ou um pouco menos", declarou o ministro do EMFA. A dificuldade de arrumar os recursos esquentou até a temperatura dos debates entre o comandante do Estado-Maior da Armada, almirante Eddy Espellet, e o comandante do Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Mário Paglioli Lucena.
Após dizer que concordava com as ponderações do brigadeiro, o almirante Espellet sugeriu que se pedissem menos recursos. "Temos de fazer uma tentativa para pedir menos. Agora, o brigadeiro Lucena quer tudo. Não pode. Tem de pedir menos e dizer que o recurso é insuficiente."
O brigadeiro reagiu: "Não é tudo, não. É o mínimo indispensável para que as Forças de Superfície possam andar. Se houver uma guerra amanhã, nós seremos destruídos no chão e o Exército não terá condições de se movimentar", protestou. "Perfeito, claro, certo", concordou Espellet. "É o mínimo. Nós também estamos mal. A Marinha não está bem. Está péssima", admitiu.
"O mínimo que pleiteamos", insistiu Lucena, "é dispormos de aviões estratégicos, pois, se assim não for, correremos o grave risco de fazermos a guerra no nosso próprio território. Não é isto que desejamos. Se não tivermos a capacidade de destruir a Força Aérea, eles terão a iniciativa de nos destruir. E é o que o inimigo virá fazer, dada a vantagem que ele hoje tem. A utilização das bases mais próximas à nossa fronteira permitirá que os A-4 alcancem Brasília, inclusive. Na realidade, o inimigo dispõe de mais poder de fogo que nós."