João Valadares
O episódio da prisão em flagrante W.T.N., de 35 anos, servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que conseguiu "hackear" 238 senhas de investigadores do órgão, está sendo tratado pela Presidência da República com absoluto sigilo. Um dia depois de o Correio revelar que o oficial técnico de inteligência foi preso em flagrante, dentro de sua sala na própria instituição, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se fechou para não expor ainda mais a fragilidade da proteção de informações sigilosas. Ontem, o ministro chefe do GSI, general José Elito Carvalho, tratou do assunto em várias reuniões. Para auxiliares, o ministro demonstrou grande insatisfação com a divulgação do caso.
O Correio apurou que o espião W.T.N. foi empossado recentemente na Abin e ainda estaria em estágio probatório. De acordo com a legislação brasileira, os servidores do órgão têm prerrogativa de sigilo de informações pessoais e funcionais pela natureza da atividade desempenhada. No fim da tarde de ontem, a Polícia Federal encaminhou nota à imprensa confirmando as informações publicadas na reportagem.
No comunicado, a PF ressalta que "foi acionada pela Direção-Geral da Agência Brasileira de Inteligência na tarde da última sexta-feira, informando que um servidor daquele órgão estava acessando informações sigilosas restritas que não poderiam ser divulgadas a terceiros. Uma equipe de policiais federais compareceu à sede da Abin no mesmo dia e verificou a ocorrência de flagrante de possívelviolação de sigilo funcional, tendo em vista que o acesso daquelas informações era restrito", diz a nota.
Para vender
Com as 238 senhas "hackeadas", o espião teria conseguido entrar nos e-mails dos oficiais de inteligência que trabalham com investigações estratégicas para o governo. O especialista em segurança pública Antônio Carlos Testa avaliou que o araponga, provavelmente, teria a intenção de vender as informações roubadas. "De maneira geral, são informações que desequilibram estruturas de poder", ressaltou Testa.
A Abin é ligada diretamente à Presidência da República por meio do GSI. A agência e a PF buscam, agora, descobrir para quem o investigador trabalhava. A Abin informou que a Corregedoria-Geral da autarquia instaurou processo administrativo disciplinar para dar seguimento às medidas administrativas cabíveis. Só depois disso, o araponga poderá ser expulso do serviço público. A Polícia Federal já instaurou inquérito para apurar o episódio. A corporação confirmou, oficialmente, que o agente foi enquadrado por violação de sigilo funcional, crime previsto no Artigo 325 do Código Penal, com pena de seis meses a dois anos de detenção ou multa. "A agência verificou um fluxo atípico de dados em uma estação de trabalho na sua sede em Brasília. As atividades desenvolvidas nessa estação foram acompanhadas, identificando diversas ações vetadas por regulamentos e normas legais", salienta o Gabinete de Segurança Institucional.