Publicado Estado de Minas 08 Fevereiro 2010
Marta Vieira
Pressionadas pelos concorrentes empenhados em retomar a produção, grandes empresas brasileiras da siderurgia e da mineração reforçam o orçamento para pesquisa e desenvolvimento científico neste ano, atrás de tecnologias de vanguarda nas fábricas. Nos laboratórios da Usiminas em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, a maior novidade em curso é a criação do aço blindado genuinamente brasileiro, empreitada que vai muito além de um produto capaz de substituir as importações. O trabalho que, hoje, têm a tarefa de atender a uma necessidade do Exército brasileiro de reduzir os custos de fabricação dos seus carros de combate, abre amplo leque de oportunidades para a siderúrgica no mercado de defesa. Elas vão da instrumentação para proteção da polícia à blindagem civil, que inclui matéria-prima para caixas de bancos, carros fortes, condomínios e os carros de passeio.
O aço blindado integra desembolsos para pesquisa e inovação de R$ 28,9 milhões, reservados pelo grupo siderúrgico para aplicação ao longo de 2010, cifra cerca de 50% superior a do ano passado. Os recursos se referem só ao dinheiro para investimentos, ou seja, não consideram salários pagos aos pesquisadores, viagens e consultorias. A Vale também recorre a versões novas da sua política de desenvolvimento tecnológico.
A busca de processos para extrair minério com teores muito baixos de ferro – na China, há quem garanta que as mineradoras já exploram material com apenas 10% de ferro – se junta ao financiamento de uma gama de pesquisas envolvendo processos tão diversos quanto eficiência energética e cuidados com o meio ambiente. Essas e outras áreas de conhecimento sugeridas pelos próprios pesquisadores serão incentivadas por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV), recentemente anunciado e orçado em R$ 39 milhões. Outros R$ 140 milhões serão direcionados às chamadas unidades de P& D da companhia.
Outro toque de modernidade do orçamento da Vale e da Usiminas é que elas passam a contar mais com as parcerias de universidades e fundações de ensino e pesquisa prestigiadas no setor. Um bom exemplo é o da Universidade Federal de Ouro Preto, que comanda, em associação com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas e o apoio de empresas do ramo da mineração o Centro de Estudos Avançados do Quadrilátero Ferrífero, aberto ano passado para trabalhar no futuro cenário da região até 2050.
No Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Usiminas, em Ipatinga, obras de expansão física e modernização “adubam” o fértil campo de ação dos pesquisadores, informa o diretor de pesquisa e inovação da siderúrgica, Darcton Policarpo Damião. O horizonte máximo para a obtenção do aço blindado de uso militar é o dos próximos dois anos e meio. O produto está sendo desenvolvido para substituir o aço alemão que compõe os cascos dos carros do Exército da família Guarani – os sucessores dos antigos Urutus – que estão sendo desenvolvidos na fábrica da Iveco, marca de caminhões e utilitários do grupo Fiat, em Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais.
“O governo brasileiro entende que o nosso projeto é importante para dar independência ao país na área de defesa. Quando dominarmos o processo de produção do aço blindado militar estaremos preparados para atender uma demanda latente da própria sociedade”, afirma Darcton Damião. O projeto faz parte de um grupo de três programas de pesquisa da Usiminas, avaliados em R$ 3,8 milhões, aprovados pela Finep, empresa pública vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia e que participará com 33% dos investimentos.
Os outros dois projetos são, também, considerados inovadores, observa o diretor de inovação da siderúrgica. A Usiminas está desenvolvendo aços para equipamentos de geração de energia eólica e para casas e prédios. Neste último caso, são produtos que permitem a redução do tempo de construção em pelo menos um terço do cronograma, com mais resistência e ganhos como a perspectiva de reciclagem do material. A siderúrgica decidiu acelerar, da mesma forma, as pesquisas de aços aplicados na exploração de pretróleo no pré-sal. Recursos de R$ 10,1 milhões serão investidos num centro de desenvolvimento na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, em associação com a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio e a Patrobras.