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Dois acordos, nenhum satélite

Marcelle Ribeiro

Em visita ao Brasil, o diretor da Agência Espacial dos EUA (Nasa), o astronauta Charles Bolden assinou dois acordos de cooperação para pesquisas espaciais e do ambiente terrestre. Os trabalhos desenvolvidos a partir daí podem ajudar a entender melhor o clima do país, chuvas, desastres ambientais e a camada de ozônio. No entanto, a expectativa de assinatura de um documento em que a Nasa se comprometa a construir, junto com o Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe), um satélite para estudar precipitações se frustrou novamente.

Passados quase dez anos da última visita de um diretor da Nasa ao Brasil, o atual ocupante do cargo conheceu ontem um laboratório do Inpe em São José dos Campos, no interior de São Paulo, e assinou com a Agência Espacial Brasileira (AEB) os dois termos de cooperação dos países.

Um deles prevê que o Brasil terá acesso a dados sobre precipitação gerados pelo grupo de satélites do Programa de Medição de Precipitação Global (GPM), quando ele estiver operante. O GPM é uma iniciativa dos EUA e do Japão e prevê o funcionamento de satélites que permitirão entender melhor as mudanças do clima e meteorológicas, melhorar a previsão do tempo e tornar mais eficazes alertas no caso de desastres ambientais, como tempestades.

O governo brasileiro tem planos de construir um satélite para integrar o grupo do GPM, mas ainda não conta com um parceiro para a tarefa, segundo o Inpe. De acordo com o coordenador de gestão tecnológica do instituto, Marco Antonio Chamon, havia uma expectativa de que o acordo estabelecesse que a Nasa faria o satélite em parceria com o Brasil, mas ela não se concretizou, gerando frustração. Em 2006, o Brasil já havia procurado a Nasa e mostrado interesse no trabalho em conjunto, mas a agência americana disse que não era possível naquele momento. No ano passado, foi o governo americano que procurou o Brasil para conversar sobre o assunto, mas, com o corte do orçamento da Nasa, o projeto foi adiado.

– A situação orçamentária americana não mudou – ressaltou Chamon. – Havia a expectativa, porque faz mais de dez anos que um administrador da Nasa não visita o Brasil. E a visita foi motivada pelos americanos. Então acreditamos que esse tema poderia voltar à agenda. Mas ele voltou de maneira muito fraca.

O documento assinado pela AEB (órgão ao qual o Inpe é subordinado) e a Nasa prevê o "estudo da viabilidade do desenvolvimento conjunto de um satélite para constelação GPM", mas não a criação de "invenções conjuntas".

O Brasil também tentou uma parceria com a França para fazer o satélite, mas com os efeitos da crise econômica na Europa, ela não foi adiante.

O governo brasileiro pediu que o Inpe estude formas de obter esse satélite, seja produzindo-o inteiramente aqui, com parceria com outro país ou comprando parte em outro lugar.

Segundo Chamon, mesmo sem o satélite nacional – que pode custar US$170 milhões -, o Brasil terá acesso a dados gerados pelo GPM. Mas, com o satélite, o Inpe poderia ter informações com maior frequência diária sobre precipitações na zona tropical, onde o Brasil está situado. Isso poderia tornar o alerta de desastres naturais e a previsão meteorológica mais eficientes.

O outro acordo assinado prevê que o Inpe lance sondas de ozônio conectadas a balões atmosféricos em território brasileiro, permitindo uma compreensão melhor sobre o funcionamento da camada de ozônio da Terra. Os balões e as sondas serão fornecidos pela Nasa, que também treinará profissionais para a tarefa no Brasil e nos EUA. Os dados gerados pelas sondas estarão disponíveis aos dois países. Não se sabe, no entanto, onde e quando os balões serão lançados.

O Brasil já lançou balões como esses há dois anos, mas o procedimento foi suspenso devido a outras prioridades.

– Nosso principal interesse com o ozônio tem a ver com as mudanças climáticas – destacou Chamon – Os americanos também têm esse interesse. Isso tem impacto com a quantidade de ultravioleta que entra, que o ozônio bloqueia, e o próprio ozônio entra nos modelos que fazemos para analisar mudanças climáticas.

Em uma rápida declaração à imprensa durante a visita ao Inpe, Bolsen disse estar feliz com as parcerias com o Brasil e ter ficado impressionado com as instalações que conheceu.

– Quero ressaltar a importância da colaboração e da parceria com a AEB e seus órgãos subordinados – comentou, antes de dar uma palestra sobre o papel da Nasa para alunos do Ensino Médio.

Para o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, é provável que a parceria entre o Brasil e a Nasa cresça. Câmara lembrou que a agência americana analisa uma outra proposta do governo brasileiro: a de construção de um satélite para estudar mudanças nos ecossistemas e nos ciclos geoquímicos do planeta. O equipamento, batizado de GTEO (Observatório Global de Ecossistemas Terrestres), é considerado inovador pelo Inpe e pode ajudar na avaliação do impacto nos ecossistemas da ação do homem, das queimadas e dos desmatamentos.

– É um satélite que avança muito na tecnologia que nós temos hoje, para medir vegetação e comportamento do oceano – revelou. – É um assunto bastante ambicioso e está ainda em análise pela Nasa. O resultado final sairá no início do próximo ano. Estamos esperançosos.

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