Denise Rothenburg
A presidente não dá o menor sinal de que vá governar em parceria com os parlamentares. E, dessa forma, a cada dia eles escolhem um território para atacá-la. Agora é vez da Comissão Mista de Orçamento
Os parlamentares passam horas pensando em como armar algumas arapucas para causar desconforto a um governo que não realiza os desejos do Congresso Nacional. Nos últimos dias em que a CPI do Cachoeira toma conta do noticiário com os canhões de luz voltados aos governadores, a Comissão Mista de Orçamento tem se mostrado o local mais promissor para essas manobras políticas.
Quem acompanha o dia a dia da Comissão anda preocupado com o atraso deliberado na análise da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a legislação que norteará a elaboração do Orçamento da União de 2013. Para ter uma ideia da importância do tema basta dizer que a LDO é a única lei que, se não for aprovada dentro do primeiro semestre legislativo, deixa o Congresso inteiro de castigo. Ou seja, os trabalhos são prorrogados automaticamente, até a votação.
Há anos não se tem notícia de tanto atraso na votação da LDO. A culpa tem recaído sobre os oposicionistas. Mas essa versão não cola. É a base que, sistematicamente, tem feito corpo mole para avaliar a LDO. E ausência é deliberada para forçar o governo a olhar os desejos dos parlamentares com mais carinho. Convenhamos que um governo detentor de maioria expressiva no Congresso não teria dificuldades em aprovar a proposta se essa maioria estivesse consolidada e se sentindo parte do governo.
Por falar em sentimentos…
Os políticos não se cansam de reclamar da falta de tato da presidente Dilma Rousseff para tratar das questões do Congresso. Até os líderes do governo têm dificuldades de ser recebidos por ela. A sensação de deputados e senadores é a de que Dilma trata o Legislativo como se fosse um adversário a todo o tempo querendo puxar-lhe o tapete.
A presidente não dá o menor sinal de que vá governar em parceria com eles. Não deixa que tomem a linha de frente de alguns projetos, nem se mostra disposta a dar algumas vitórias à própria base. Ou seja, deixar que os parlamentares levem o crédito quando algo dá certo. Até um simples convite para acompanhá-la em viagens pelo país é raridade.
Tudo isso, somado à represa de grande parte das emendas e de indicações — ainda que técnicas — para cargos de governo, mantém Legislativo e Executivo distantes um do outro. A cada dia essa sensação de afastamento se cristaliza mais na base governista, embora a percepção do afastamento esteja amortecida no noticiário. Afinal, estamos em tempo de CPI e de proximidade do julgamento do mensalão.
Por falar em afastamento e CPI…
E, se a base não se sente parte do projeto como um todo, dificilmente responderá a contento quando a proposta for mais importante para o governo. A LDO, no momento, se encaixa nessa categoria. Ocorre que, se demorar demais, os parlamentares é que pagarão a conta do atraso. Afinal, a CPI até agora pegou parlamentares e governadores e não atingiu Dilma. O Código florestal, tema em que parlamentares apostaram para emparedar a presidente na Rio +20, deve ficar mesmo para depois da Conferência. Ela até agora tem conseguido se desviar de ou desarmar todas as arapucas que deputados e senadores tentaram colocar à sua frente. Resta saber por quanto tempo levará a melhor sobre o Parlamento. O embate da hora é a LDO. Vamos acompanhar.
Por falar em acompanhar…
Decisão judicial não se discute, cumpre-se. Mas essa saída do ex-diretor da Delta Claúdio Abreu da cadeia no meio da madrugada deixa a sensação de que alguém ajudou Abreu a escapar dos holofotes da imprensa. Como sabemos a Justiça vale para todos, vai ver que é apenas impressão.