Severino Motta, iG Brasília
A reforma ministerial da presidenta Dilma Rousseff, planejada para fevereiro, não deve alcançar os comandantes das Forças Armadas. Herança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Enzo Peri (Exército), Juniti Saito (Aeronáutica) e Moura Neto (Marinha) vão seguir no governo por pelo menos mais um ano.
A avaliação de integrantes do governo é que o processo de reestruturação das Forças Armadas poderia ser interrompido no caso de mudanças dos comandantes. No Planalto ainda há uma análise de que as Forças têm sido parceiras do governo. Dilma estaria satisfeita principalmente em relação às ações das Forças em situações emergências de calamidade pública, como no caso dos deslizamentos e enchentes.
Fora do governo e dentro dos muros dos quartéis a situação também está positiva para Dilma. A reportagem conversou com militares da ativa que preferiram não se identificar. A maioria elogiou o governo da presidenta. Para eles, as Forças estão com sua autonomia respeitada.
Entre os reformados, também há um sentimento de paz com a presidente guerrilheira. “Não vimos nenhum sentimento de vingança. A anistia deixou tudo no zero a zero. Muitos militares votaram na Dilma. Pessoalmente vejo uma continuidade muito grande. Essa é uma área que estava tranquila, não há porque fazer mudanças”, disse o vice-presidente do Clube Militar, general Clovis Bandeira.
Apesar da situação de calmaria, o cenário futuro pode trazer turbulências entre o governo e as Forças Armadas. Um dos desafios de Dilma vai ser a indicação dos membros da Comissão da Verdade.
Parte da base governista, principalmente no PT, está ligada a ex-presos políticos e torturados da ditadura. Para a criação da Comissão foi necessária uma longa negociação com as Forças. A indicação dos nomes pode gerar insatisfações em ambos os lados.
Outro problema está ligado diretamente à reestruturação das Forças Armadas. No Exército o ponto de tensão está na renovação de programas de guerra, entre eles consta a compra de um novo sistema de mísseis terra-terra. As negociações vêm desde o governo Lula, quando o ministro da Defesa era Nelson Jobim. Aeronáutica, por sua vez, aguarda um desfecho para a compra de novos caças. A Marinha, por sua vez, pede recursos para a construção do submarino movido a energia nuclear.
Por fim, Dilma vai ter que lidar com os pedidos de aumento de salários para os militares, tema que foi motivo de manifestações no primeiro ano de governo da presidenta.