Novas restrições que exigem que bares, restaurantes, hotéis e livrarias instalem caros softwares de monitoramento estão levando muitas empresas a cortar o acesso à internet e aterrorizando os usuários da web na capital chinesa, que passaram a esperar wi-fi com seus lattes e chá verde.
O software, que custa às empresas cerca de US$ 3,1 mil, possibilita que oficiais de segurança pública identifiquem quem se registra em redes sem fio em um café ou restaurante e acompanhe a sua atividade na web. Aqueles que ignoram o regulamento e fornecem acesso irrestrito podem ter de pagar uma multa de US$ 23 mil e perder sua licença comercial.
"Do ponto de vista das pessoas comuns, essa política é injusta", disse Wang Bo, proprietário do L'Infusion, um café que oferece crepes, waffles e a companhia de vários gatos cochilando. "Esse é apenas mais um esforço para controlar o fluxo de informações".
Não está claro se as novas medidas serão rigorosamente aplicadas ou mesmo se valerão para além de Pequim, onde já estão em vigor. Mas elas sugerem que as autoridades de segurança pública, nervosas com a turbulência no Oriente Médio e norte da África, habilitada em parte pela internet, não temem aumentar seu controle.
Censura
A China já é um dos países e maior alcance de restrições online. No ano passado, o governo bloqueou mais de 1 milhão de sites, muitos deles pornográficos, mas também Facebook, Twitter, YouTube e Evite. Leis recentes dificultam que indivíduos não afiliados com uma empresa criem sites pessoais.
Quando se trata de sites de busca e microblogging, o Departamento Central de Propaganda filtra tópicos e palavras que o Partido Comunista considera uma ameaça à estabilidade nacional ou sua reputação. Em cybercafés públicos, que é onde trabalhadores pobres da China têm acesso à internet, os clientes precisam mostrar um documento de identificação governamental para poder acessar um computador.
As novas medidas, ao que parece, são projetadas para eliminar uma brecha na "gestão da internet", como é chamada a prática que tem permitido que usuários de laptops e iPads, como estudantes universitários e estrangeiros, passem seus dias em cafés navegando na web em relativo anonimato. É esse grupo que tem estado na vanguarda dos sites de microblogging que revolucionaram a troca de informações de forma que ocasionalmente assusta as autoridades chinesas.
"Para ser honesto, eu tenho internet em casa e no trabalho, mas é bom poder sentar em um lugar confortável e navegar na web", disse Wang Fang, 28 anos, agente de vendas de publicidade que muitas vezes trabalha nos sofás de couro do café Kubrick, que desligou o seu roteador no início deste mês para não ter de pagar pelo software. "Se não há internet, não há razão para vir aqui."
O gerente disse sem a rede wi-fi houve uma queda de 30% em seu negócio.
A dono de uma livraria disse que ela já havia desconectado o wi-fi da loja e não por razões monetárias."Eu me recuso a fazer parte de um sistema de vigilância orwelliana que força meus clientes a revelarem sua identidade a um governo que quer controlar a forma como eles usam a internet", disse a mulher, que preferiu não informar o seu nome ou o de sua loja para não atrair atenção indesejada das autoridades.
Durante uma pesquisa com mais de uma dúzia de empresas na segunda-feira, nenhuma disse estar preparada para comprar o software, que é projetado para lidar com 100 usuários de uma única vez. Para muitos, era uma questão de economia.
"Pode fazer sentido em lugares como Starbucks ou McDonald’s, mas nós temos apenas alguns usuários por vez", disse Ray Heng, dono do Sand Pebbles Lounge, um restaurante mexicano. Como vários outros proprietários, ele disse esperar que a atenção oficial diminua em breve. Na verdade, ele disse que não tinha planos imediatos de parar de oferecer aos seus clientes acesso gratuito através de wi-fi.
"Não temos nenhum problema em permitir que nossos clientes naveguem na internet. É o governo que tem", disse ele. "Se eles querem que a gente instale o software, eles devem pagar a conta”.
*Por Andrew Jacobs