Publicado Wall Street Journal 27 Dezembro 2011
Por JEREMY PAGEde Pequim
A China colocou em operação um serviço de navegação por satélite desenvolvido no próprio país, com o objetivo de criar uma alternativa ao Sistema de Posicionamento Global dos Estados Unidos e que, segundo especialistas do setor de defesa, poderia ajudar os militares chineses a identificar, acompanhar e atacar navios americanos na região, no caso de um conflito armado.
O Sistema de Navegação por Satélite Beidou começou a oferecer os primeiros serviços de posicionamento, navegação e cronometragem para China e "arredores" ontem, disse Ran Chengqi, porta-voz do sistema. Ele acrescentou que até o momento a China lançou dez satélites para o sistema Beidou, incluindo um este mês, e planeja colocar mais seis em órbita em 2012, para aumentar a precisão do sistema e expandir sua cobertura para a maior parte da região da Ásia e Oceania.
A China começou a construir o precursor experimental do Beidou em 2000, com a meta de criar seu próprio sistema global — chamado Compass — com 35 satélites até 2020. Além do GPS — a sigla em inglês para o sistema americano —, o único outro sistema global em operação é o Gionass, da Rússia, embora o sistema Galileo, da União Europeia, deva ser finalizado até 2020.
O Beidou, assim como o GPS, vai oferecer serviços gratuitos para civis — para usuários chineses e internacionais — que poderão ser usados juntamente com aplicativos desenvolvidos comercialmente para ajudar a navegação de veículos privados, monitorar caminhões e navios comerciais e oferecer assistência em casos de desastres naturais. Ele tem a vantagem de incluir o serviço de mensagens curtas por celular.
O sistema foi desenvolvido em parte para dar às empresas chinesas uma fatia maior no mercado de sistemas de navegação por satélite da China, que hoje é dominado pelo GPS e que, segundo a agência estatal de notícias Xinhua, estava avaliado em 50 bilhões de yuans (US$ 7,9 bilhões) em maio deste ano, ante 4 bilhões de yuans em 2003.
Ran não falou sobre o potencial uso militar do serviço na coletiva de imprensa, cuja transcrição foi colocada no site do departamento de informações do Conselho de Estado chinês.
O sistema também vai dar ao exército chinês uma alternativa ao GPS, que foi desenvolvido pelo Pentágono e é controlado pelo governo americano. Os EUA poderiam , em teoria, desabilitar ou negar acesso ao sistema para terceiros em caso de um conflito, embora afirmem que nunca tenham feito isso. Acredita-se que o GPS seja amplamente utilizado pelos militares chineses, de acordo com especialistas de defesa.
O Beidou não é visto como tão preciso quanto o GPS americano. Entretanto, o sistema poderia ser usado juntamente com o sistema de satélite de sensores remotos Yaogan e satélites de imagem mais antigos para dar apoio a operações militares táticas, de acordo com um trabalho feito por Eric Hagt e Matthew Durnin para publicação especializada "Journal of Strategic Studies", em outubro.
"Embora a China ainda tenha muito a fazer antes de ter uma cobertura tática em tempo real, mesmo do ambiente marítimo regional, o país agora conta com uma cobertura confiável e frequente de alvos estacionários e tem ao menos a capacidade básica de identificar, acompanhar e mirar em navios no mar", escreveram eles. "Com um sistema de reconhecimento espacial como espinha dorsal, a China está claramente adquirindo capacidade maior não apenas de se defender contra aviões que penetrem seu espaço aéreo, mas de atacar também."