Série de três matérias da Folha de Sao Paulo, CA DALVA – Maioria das colegas foi para casa Link Triplica o número de mulheres militares Link |
GIBA BERGAMIM JR.
de SÃO PAULO
Única oficial general nas três forças, a contra-almirante médica Dalva Maria Carvalho Mendes, 58, levou a filha para o mesmo caminho. A tenente Luciana Mendes, 29, está há três anos na Marinha.
Dalva, que ocupa o terceiro posto mais importante da Marinha, conta que a maioria das suas colegas de formação optou por sair. (GIBA BERGAMIN JR.)
Folha – O que a senhora tem a dizer a mulheres que pensam em entrar na Marinha?
Dalva Maria Carvalho Mendes – O que disse à minha filha, Luciana, que é tenente: Vem que a casa é boa'. Temos segurança e respeito.
A Marinha foi a primeira a formar mulheres, certo?
A Marinha deu início em 1980, a Força Aérea, em 1981 e o Exército, nos anos 1990. Embora saibamos que as mulheres sempre estiveram presentes nas lutas do país, envergando farda ou não.
Na 2ª Guerra Mundial, muitas mulheres foram chamadas para trabalhar nos hospitais na Itália. A major Elza Cansanção Medeiros, [primeira a se apresentar na diretoria de saúde do Exército para a guerra] é o grande exemplo.
O número de mulheres aumentou, mas elas não têm acesso a todas as funções.
Isso já está mudando, mesmo porque a sociedade, de forma geral, tem que mudar.
Por que sou a única general? Não é porque a Marinha não quer, mas também porque a maioria das mulheres, como dos homens, pede para ir embora. É uma responsabilidade muito grande, e isso independe de gênero.
Tenho muitas colegas da minha turma [de 1981] que preferiram ir para casa porque acharam que, de repente, não valeria a pena. Quando entramos, éramos 203 mulheres com curso superior. Mas, dentre médicas e engenheiras, só eu fiquei.
Como é a relação hierárquica com homens?
Sempre tive relacionamento ótimo com subordinados, com respeito e consideração.
Há colegas próximas de assumir postos como o seu?
Algumas que eu tinha expectativa pediram para ir embora (risos).
Como é a questão da vaidade?
O fato de envergarmos uma farda não significa que deixamos de ser mulheres. Evidente que os excessos não são bem-vistos. Mas tem que usar uma base, um batonzinho, um rímel. É importante para nossa autoestima.