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Brasil quer Guiana e Suriname envolvidos na integração em defesa sul-americana

O Brasil quer estimular a participação da Guiana e do Suriname no processo de integração em defesa na América do Sul. Para tanto, acena com o apoio à modernização da estrutura de defesa dos dois países, por meio de iniciativas que envolvam formação e treinamento militar, intercâmbio de conhecimentos, ação conjunta nas fronteiras e revitalização de equipamentos militares.

Em visita de três dias às capitais Georgetown (Guiana) e Paramaribo (Suriname), encerrada nesta quinta-feira (13), o ministro da Defesa, Celso Amorim, sublinhou o interesse brasileiro em ampliar as oportunidades de cooperação militar com os vizinhos do cone norte, que classificou como parceiros importantes na construção de uma comunidade de segurança na região.

“Isso mostra que a América do Sul não é só a América Ibérica, ou suas porções espanhola ou portuguesa, mas algo maior”, disse Amorim ao colega guianense, Roger Luncheon, em reunião de trabalho. No encontro, eles concordaram em expandir e fortalecer a cooperação em defesa não apenas no plano bilateral, mas também em nível multilateral, no âmbito das diversas instâncias da Unasul.

“Essa é a perspectiva geopolítica e geoestratégica que temos de adotar”, sustentou o ministro da Defesa brasileiro, que defende a ideia de construção de uma identidade sul-americana em matéria de defesa. O tema é recorrente em seu programa de viagens às diferentes capitais da região.

Em Georgetown, Amorim foi recebido pelo presidente Donald Ramotar, pelo primeiro-ministro Samuel Hinds e pela ministra de Relações Exteriores, Carolyn Rodrigues-Birkett, além do secretário Roger Luncheon. Em Paramaribo, ele se encontrou  com o ministro da Defesa surinamês, Lamuré Latour, com o chanceler Winston Lackin e com o presidente Desiré Delano Bouterse.

Nessas audiências, Celso Amorim colocou o diálogo e a cooperação em defesa como elementos centrais para fomentar confiança mútua e afastar qualquer risco de tensão no subcontinente. E repetiu o uso da expressão “cooperação para dentro da América do Sul, dissuasão para fora”, com a qual sintetiza o discurso brasileiro de integração em defesa como estratégia de integração regional.

Vias de cooperação

Guiana e Suriname fazem fronteira terrestre com o Brasil, mas sempre tiveram uma inserção mais voltada para a região do Caribe. Laços históricos com as ex-metrópoles,  hoje menos intensos, também contribuíram para que as antigas colônias inglesa e holandesa cultivassem referências mais além-mar do que junto ao entorno geográfico sul-americano.

Nas reuniões entre os titulares da Defesa, ambos os vizinhos manifestaram apreço pela proposta brasileira de cooperar em duas avenidas: a bilateral e a multilateral – esta última no âmbito da Unasul, cujo Conselho de Defesa Sul-Americano tem-se revelado, na opinião dos brasileiros, eficiente instância de consulta, cooperação e coordenação no setor.

No plano bilateral, o Brasil vai fortalecer suas parcerias com Guiana e Suriname por meio da criação de grupos de trabalho de defesa, que deverão se reunir anualmente, a nível de chefe de Estado-Maior Conjunto ou equivalente, para identificar oportunidades de cooperação.

De antemão, haverá novas ofertas de treinamento a oficiais guianenses e surinameses em instituições militares brasileiras, além da possibilidade de acompanhamento in loco de ações cívico-sociais e de patrulhamento nas fronteiras. Com o Suriname, prevê-se maior aproximação também das Forças Aéreas. Visitas técnicas militares irão detalhar a abrangência das atividades, de acordo com o interesse de cada país.

A parceria será ampliada ainda através de maior intercâmbio na área de vigilância. Brasil e Guiana acordaram, por exemplo, no envio de dez oficiais guianenses a Manaus (AM), para a realização de um curso em geotecnologia aplicada à defesa e segurança.

O objetivo é fazer com que os militares daquele país possam conhecer melhor os sistemas de monitoramento e vigilância brasileiros na Amazônia. Proposta semelhante foi aceita pelos surinameses, que têm interesse em saber como os brasileiros operam esses sistemas e interpretam seus dados, sobretudo no que se refere a mapeamentos e imagens provenientes de satélites.

No caso  da Guiana, uma missão militar do Brasil também deverá ajudar na avaliação de áreas que em que aquele país carece de conhecimento especializado, além de apoiar iniciativas em que há maior interesse estratégico local, como suprimentos e vigilância naval.

“Contamos com o apoio do Brasil para atender essas necessidades e oferecer complementaridade onde pudermos explorar sinergia”,  disse o secretário Roger Luncheon. Sem dar detalhes, Celso Amorim sinalizou também a possibilidade de doar equipamentos militares ao país vizinho.

Intercâmbio

Já no encontro com seu contraparte surinamês, Lamuré Latour, Amorim acertou o auxílio das Forças Armadas do Brasil em formação e treinamento, com incremento de ações de intercâmbio militar. Os surinameses manifestaram o desejo de apoio na revisão do currículo de treinamento básico dos militares do seu país, bem como uma possível ajuda na capacitação de forças especiais. “Nos interessa ter assistência para avaliar e formatar programas de treinamento”, salientou Latour.

Além de aspectos gerais de doutrina, esse apoio poderá envolver áreas específicas, como missões de paz, respostas a desastres naturais e operações na selva. Delegações do Suriname foram convidadas a vir ao Brasil para definir de que modo a ajuda poderá ser mais benéfica. “Isso implica uma série de viagens, algo inevitável em cooperações dessa natureza”, disse Amorim.  “Mas a melhor forma de colaborarmos é promovendo interação nos locais onde as coisas acontecem”, complementou.

Na reunião com o ministro Latour, Celso Amorim também anunciou a disposição de apoiar a modernização de carros de combate surinameses. A tropa dispõe de blindados brasileiros Cascavel e Urutu, fabricados pela extinta Engesa. Num primeiro momento, o Brasil deverá recolher alguns veículos para fazer a revitalização no país. Posteriormente, uma missão brasileira deverá ser enviada para avaliar a possibilidade de repotencialização, no próprio Suriname, de blindados que ainda estiverem operacionais.

Latour e Amorim também concordaram, no plano multilateral, em cooperar estreitamente na preparação da Presidência Pro Tempore surinamesa na Unasul, no ano que vem. No segundo semestre de 2013, o Suriname assumirá o mandato da organização, conforme a ordem alfabética definida no tratado que a constituiu. Durante seis meses, o país também ficará responsável pela presidência do Conselho de Defesa Sul-Americano.

A visita de Amorim a Paramaribo coincidiu com a entrada em vigor, ontem, do acordo de cooperação em defesa assinado por Brasil e Suriname em 2008, na própria capital. O documento prevê uma série de iniciativas destinadas a fortalecer a parceria militar entre as duas nações, incluindo ações de intercâmbio em instituições militares, apoio a iniciativas comerciais e implementação de programas e projetos sobre a aplicação de tecnologia de defesa.  “Demos mais um passo a frente para fortalecer nossos laços”, sentenciou o ministro da Defesa surinamês.

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