A Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. – AMAZUL, em parceria com a Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, está concluindo o projeto detalhado do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), primeiro grande passo para o Brasil alcançar a autossuficiência na produção de insumos para a fabricação de radiofármacos destinados ao diagnóstico e tratamento do câncer e outras doenças. O detalhamento do projeto contou, também, com a participação da empresa argentina INVAP.
O próximo passo é construção das instalações e do reator de 30 MW de potência em terreno cedido, parte pela Marinha do Brasil e parte pelo governo de São Paulo, no município de Iperó (SP), em área adjacente ao Centro Industrial e Nuclear de Aramar. Mas, para a conclusão do empreendimento, serão necessários recursos da ordem de US$ 500 milhões, que começaram a ser negociados em 2018 com os Ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovações. Nesse mesmo ano, o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, se comprometeu em destinar R$ 750 milhões para o início da construção do RMB. Mas os recursos ainda não estão garantidos.
O que é o Reator Multipropósito Brasileiro
Empreendimento de alta complexidade, o RMB tem como uma de suas principais finalidades a produção de radioisótopos, que são a base para os radiofármacos utilizados na medicina nuclear. Com isso, o Brasil poderá alcançar a autossuficiência em radioisótopos, que hoje são importados, e ampliar o acesso da população, em todo o território nacional, aos benefícios da medicina nuclear.
Para se ter uma ideia, o número de procedimentos com aplicação de radiofármacos no Brasil, em torno de 2 milhões, é três vezes inferior aos realizados na Argentina e Chile, o que demonstra uma grande demanda reprimida. Atualmente, apenas 6,3% dos procedimentos são realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) – a maior parte é realizada pela medicina privada, por meio de planos de saúde. Além disso, há um desequilíbrio profundo na oferta desses serviços entre o Sul/Sudeste e outras regiões do País.
A AMAZUL agrega ao projeto a expertise de seus empregados que há décadas participam do Programa Nuclear da Marinha. “Para nós, o RMB tem um incalculável valor social, já que coloca a tecnologia nuclear a serviço da saúde dos brasileiros, salvando vidas e melhorando a qualidade de vida dos pacientes”, afirma Antonio Carlos Soares Guerreiro, diretor-presidente da AMAZUL.
Os radioisótopos também são aplicados na indústria, na agricultura, no meio ambiente, entre outras áreas. O RMB será empregado, por exemplo, em pesquisas, em testes de materiais e combustíveis para as usinas nucleares e na dopagem de silício para produção de semicondutores, a serem aplicados em dispositivos eletrônicos como celulares e notebooks.
Diretor-presidente da AMAZUL Almirante Antonio Carlos Soares Guerreiro Foto: Eugênio Goulart
Irradiação de alimentos
Outro projeto estratégico que a Amazul desenvolverá em 2021 será voltado à instalação de centros de irradiação no Brasil, que tem por objetivo preservar a qualidade e aumentar a vida útil de alimentos. O mercado potencial desses centros de irradiação é grande e vai beneficiar o agronegócio, responsável por 21,4% do PIB e 43% do valor total das exportações, em 2019. Hoje, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas e exporta apenas cerca de 3% da sua produção”, observa Guerreiro.
A mesma tecnologia pode ser usada em outros setores, como os de cosméticos, material médico, acervos históricos, obras de arte etc. centros de irradiação para permitir a utilização das tecnologias nucleares para esterilização nos setores de produção de alimentos, medicamentos, cosméticos, insumos para a área médica e outras indústrias.
Quem é a AMAZUL
A AMAZUL foi constituída em 2013 para promover, desenvolver, transferir e manter tecnologias sensíveis às atividades do Programa Nuclear da Marinha (PNM), do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub) e do Programa Nuclear Brasileiro (PNB).
Dentro do PNM, atua nos projetos para construir, comissionar e operar o primeiro reator nuclear de potência, totalmente nacional, e produzir ultracentrífugas que são instaladas nas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), responsáveis pelo enriquecimento do combustível nuclear que é aplicado nas usinas nucleares de Angra. A dualidade dessa tecnologia possibilitará seu emprego tanto para a propulsão naval de submarinos quanto para a geração de energia elétrica.
Em relação ao ProSub, a Amazul está comprometida com a busca de parcerias com empresas para aumentar o grau de nacionalização dos submarinos convencionais e de propulsão nuclear, contribuindo também para o fortalecimento da base industrial de defesa nacional. Atualmente, por meio de acordos de cooperação técnica, ajuda a desenvolver tecnologias como o Sistema Integrado de Gerenciamento de Plataforma e o Sistema de Combate de Submarinos.
Para a INB, a Amazul elabora atualmente o projeto de ampliação da Unidade Comercial de Enriquecimento de Urânio (UCEU), em Resende (RJ).
A Amazul estabeleceu um convênio com a Eletronuclear para atuar no projeto de extensão da vida útil de Angra 1.
Com oInstituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, mantém parceria para atuar no Centro de Radiofarmácia em projetos de modernização e melhoria de processos na fabricação de radiofármacos.
A empresa prevê ainda a sua participação no projeto do Centro Nacional de Tecnologia Nuclear e Ambiental (Centena).