O Brasil auxiliará a Angola a estruturar sua indústria de defesa para reduzir a dependência externa das Forças Armadas do país africano em relação à aquisição de equipamentos militares. A medida é um dos principais resultados da visita oficial realizada esta semana à África pela comitiva brasileira chefiada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim. A viagem ainda incluiu a Namíbia, país também situado no sul do continente africano com o qual, assim como Angola, o Brasil possui boas relações internacionais na área de defesa.
Uma década após sair de uma complexa guerra civil, Angola vive um momento de estabilidade política e passa, atualmente, por um processo de reestruturação de suas Forças Armadas (FAA). A pedido do governo do país, além dos representantes do Ministério da Defesa, a delegação brasileira contou com 14 empresários de diferentes segmentos da indústria nacional de material militar: aviões, armas não letais, munições, projetos navais, entre outros.
Os empresários brasileiros participaram de diversas reuniões com militares e representantes civis do governo angolano nas quais puderam expor projetos e mostrar alguns dos equipamentos e produtos de uso militar produzidos no Brasil. Eles também mantiveram encontros com representantes da indústria de Angola, que demonstraram interesse em partilhar conhecimento.
Além das conversações na área comercial, oficiais militares do Ministério da Defesa do Brasil participaram de grupos temáticos. A pedido do Ministério angolano, eles fizeram exposições sobre assuntos como previdência e saúde militar, e também trataram da cooperação bilateral nas áreas naval e de formação militar.
Comitê conjunto
Para garantir os próximos passos da cooperação bilateral, os ministros da defesa do Brasil e de Angola, general Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem, decidiram instituir um Comitê Interino Conjunto de Defesa (CICD). Caberá a esse organismo a supervisão e implementação de um programa que fará o detalhamento da cooperação. Os integrantes do Comitê serão definidos pelos dois países, e deverão se reunir anualmente, de forma alternada, no Brasil e em Angola.
Também para assegurar a continuidade dos trabalhos, as delegações acordaram o envio de uma missão multissetorial de angolanos ao Brasil, com o objetivo de conhecer in loco o trabalho, os produtos e os serviços das empresas ligadas à base industrial de defesa. O primeiro encontro dos africanos com os empresários brasileiros deverá ocorrer já em abril próximo, no Rio de Janeiro, durante a realização da LAAD, feira internacional de equipamentos militares.
Tanto a criação do comitê quanto os principais pontos da reunião de trabalho entre as delegações dos dois países foram mencionados no comunicado conjunto divulgado ao final do encontro (veja aqui a íntegra do documento). Considerada proveitosa pelos participantes, a reunião ganhou destaque nos principais veículos informativos da Angola, que ressaltaram os ganhos a serem obtidos com o incremento da cooperação.
Carta presidencial
Celso Amorim e a comitiva brasileira foram recebidos com honras militares na sede do Ministério da Defesa, em Luanda. Durante o encontro, ele e seu contraparte ressaltaram os laços históricos que ligam as duas nações. Amorim parabenizou o povo de Angola pelos avanços políticos e socioeconômicos obtidos pelo país nos últimos anos.
Van-Dúnem agradeceu a solidariedade do governo e do povo do Brasil, lembrando que o país foi o primeiro a reconhecer a independência de Angola, em 1975. Ele e Amorim também trataram da coordenação de esforços para a revitalização da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas).
Após o encontro no Ministério da Defesa, Celso Amorim foi recebido no palácio do governo pelo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Amorim entregou a Santos carta da presidente Dilma Roussef na qual a mandatária brasileira reitera a firme disposição do Brasil em aprofundar a cooperação com a nação amiga.
Na visita de dois dias, Amorim também manteve encontros com outras autoridades angolanas, entre as quais o ministro das relações exteriores do país. Ele também visitou a Base Naval de Luanda, onde assistiu a uma exposição sobre a Marinha angolana e a cooperação entre as forças navais do país africano e do Brasil.
Além de definir as ações relativas ao desdobramento da cooperação, Brasil e Angola concordaram em firmar um memorando na área de saúde militar. Também realizaram a atualização das informações sobre o estágio dos trabalhos relativos à demarcação da plataforma continental de Angola. A empreitada conta com o auxílio brasileiro por meio de contrato firmado entre a comissão do governo angolano responsável pelo assunto e a Emgepron, empresa ligada à Marinha do Brasil.
Além de empresários e representantes civis e militares do Ministério da Defesa, a comitiva brasileira foi integrada pelo comandante do Exército, Enzo Peri. Durante a visita, a comitiva contou com apoio da embaixadora do Brasil em Angola, Ana Lucy Gentil Cabral Petersen.