Júlio Ottoboni
Exclusivo DefesaNet
Em um documento elaborado pela comissão militar e industrial da Rússia, especialistas recomendam elaborar as possibilidades de um projeto tripulado internacional com os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), “como parte de uma estratégia comum de criar alianças tecnológicas”. Esse teria sido um dos motivos da vinda do Vice premier Dimitry Rogozin ao Brasil em dezembro passado, quando esteve no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e nas empresas AVIBRAS e MECTRON.
“Podemos começar este trabalho agora e incluir o tema na agenda da 7ª Cúpula dos BRICS, a ser realizada, em julho 2015, na cidade de Ufa, capital da República do Barcostastão, nas encostas do Montes Urais ”, revela o documento, que já foi alvo de divulgação pela agência oficial de noticias da Rússia, a TASS. O governo russo deve fazer a proposta diretamente para Índia e China, que já vêm desenvolvendo ativamente seus próprios programas espaciais tripulados.
Entre as áreas com perspectiva de futuras pesquisas conjuntas estão os foguetes modulares que usam metano como combustível e a criação de um veículo aeroespacial, que poderia ser usado no futuro para construir um caça ou bombardeiro de sexta geração.
Esses assuntos foram tratados com empresas no Brasil e com o governo de Dilma Rousseff, mas Rogozin não recebeu até o momento nenhuma posição das empresas (AVIBRAS e MECTRON), do INPE e do próprio governo brasileiro sobre as parcerias com a Rússia. Isso está provocando um desconforto na relação, já que por parte dos russos a comitiva que visitou o Brasil foi encabeçada pelo homem forte do governo abaixo só do presidente Vladimir Putin.
Na ocasião da visita, a direção da EMBRAER se negou a receber Rogozin para uma reunião que trataria da produção conjunta de um avião civil e que já vinha sendo negociado há alguns anos. Esse bloqueio, além da falta de cortesia por parte dos executivos brasileiros, que sequer receberam o embaixador Sergey Akopov, gerou indignação e a promessa de levar em parceria com outras empresas brasileiras interessadas o projeto da construção e da fabricação de aviões russo-brasileiros em solo nacional.
Na época, um dos porta-vozes da Rússia disse: “Não tem incômodo algum, só ficou para nós estranha a posição da EMBRAER de não querer ampliar seus negócios. Íamos propor a produção conjunto de um avião civil. A EMBRAER é na verdade uma empresa norte americana, entendemos isso. Mas vamos procurar nos estabelecer no mercado aeronáutico daqui”. Para os russos é evidente a interferência da Boeing no projeto com a Embraer e também o controle da ex-estatal brasileira pela companhia norte-americana.
Na área espacial os russos também aguardam uma posição do Brasil, com praticamente paralisado o projeto Cyclone na Ucrânia, pelo momento financeiro, político e embate bélico com a Rússia. A empresa binacional Alcantara Cyclone Space consumiu mais de US$ 1 bilhão para a produção do lançador de foguetes em conjunto com o Brasil e nunca saiu do papel, a não ser consumir enormes somas de recursos quando estava sob comando do ex-ministro de Lula, o polêmico e controverso Roberto Amaral (PSB).
Em comunicado, os ucranianos garantem o cumprimento da data de entrega, o segundo semestre deste ano. “Azovmash, um dos principais contratantes da ACS responsáveis ??pelo desenvolvimento, fabricação e fornecimento de muitos sistemas-chave necessários para o Cyclone-4 Lançamento operação do site, publicou um comunicado de imprensa em seu site informando sobre o estado atual das suas atividades no âmbito do Projeto Cyclone-4 “.
Na guerra de informações aos russos afirmam que as atividades do Cyclone-4 com muitos componentes fornecidos pela Rússia estão paralisados.
Recentemente, a Rússia deu sinais de que pode mudar sua decisão de retirar-se do projeto ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês) em 2020. Embora aceite a sugestão proposta pelos Estados Unidos para ampliar a vida útil da estação, que pode ser prolongada até 2024. Mas tudo depende da posição da Europa e dos Estados Unidos em manter as sanções contra os russos pelo embate na Ucrânia.
Segundo a Agência Espacial Russa (Roscosmos), a questão ainda está sob análise dos demais parceiros. Além disso, a Rússia poderá criar uma estação espacial própria em parceira com a China, dependendo das decisões em relação à ISS, e os embargos norte-americanos e europeus ao país continuarem e a crise política veja ser agravada, pois diariamente a novas dissidências contra o bloqueio, como o apoio do governo da Grécia.
A Roscosmos decidiu ampliar a participação da Rússia no programa da ISS. Segundo a direção da entidade, “já notificamos em tempo hábil nossos parceiros a respeito disso. Até agora, só os Estados Unidos anunciaram oficialmente sua decisão de continuar a operação da estação até 2024. Esperamos a definição de outros parceiros em 2015. Gostaria de enfatizar que todos envolvidos possuem um objetivo único: melhorar a eficiência de sua participação na ISS em prol da ciência. Porém, não estamos concentrados somente no programa da ISS, estamos também dando continuidade ao programa espacial tripulado russo”.