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Avibrás busca sócios para sobreviver

Lino Rodrigues


SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP). Com uma dívida total estimada em R$500 milhões (cerca de R$400 milhões só com o governo federal), a fabricante de equipamentos de defesa Avibrás parece viver seu pior momento em 50 anos de vida, após ter saído em janeiro passado de um processo de recuperação judicial iniciado em 2008. A empresa está com suas linhas de produção praticamente paradas e foi obrigada a demitir 170 funcionários no início do ano. Boa parte dos 800 que continuam empregados (metade na ociosidade) tem recebido o salário com atraso. A empresa está à procura de sócios (inclusive a União). Também estuda a abertura de capital.

Uma outra ajuda está vindo de um contrato orçado em R$1,1 bilhão para tirar do papel o ambicioso programa Astros 2020 (lê-se: vinte vinte), uma versão atualizada do sistema para lançamento de foguetes de artilharia desenvolvido com o Exército brasileiro. O Ministério da Defesa já aprovou o projeto (que incorpora um novo míssil de cruzeiro com alcance de até 300 quilômetros), mas a papelada ficou meses à espera da aprovação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Com um cenário apontando para uma nova crise global e economia de guerra com o Orçamento, Mantega postergou a liberação do dinheiro.

Na quinta-feira, porém, a presidente Dilma Rousseff autorizou um crédito suplementar de R$45 milhões. A entrada dessa primeira parcela no caixa da empresa, embora bem menor que os R$200 milhões esperados. Segundo o presidente da Avibrás, Sami Youssef Hassuani, essa atitude sinaliza que o governo, apesar do cenário de crise internacional, está disposto a incentivar a indústria nacional de defesa. Com o dinheiro, algumas áreas das três plantas industriais da empresa começam a sair da ociosidade. A ideia é gerar 600 vagas com a aceleração das fases do projeto, cuja duração é de seis anos.

Com o dinheiro das parcelas pagas pelo governo na parceria do projeto Astros 2020, a Avibrás ganha fôlego para esperar a definição de outras quatro negociações para fornecimento de equipamentos de defesa a governos de países amigos. A estimativa é de que o fechamento dessas negociações traga para o caixa da empresa cerca de US$2 bilhões em cinco anos.

– O grande equalizador é o governo. Se ele nos ajudar nas entressafras, a exportação garante o resto. Nessas horas, enquanto aguardamos novos contratos de fora, o governo entra equalizando, comprando e ajudando no desenvolvimento e lançamento de produtos – diz Hassuani.

Com o caixa no "talo", a empresa, que faturou R$201 milhões em 2010, está sobrevivendo de pequenos contratos de manutenção, assistência técnica e fornecimento de munição para exercícios de campo. A Avibrás também tem projetos de desenvolvimento de novos produtos que são bancados por agências de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Do lado dos trabalhadores, a situação é grave. Com salários sendo pagos com atraso desde o início do ano, eles vivem sob ameaça de nova demissão em massa, apesar da garantia de que serão recontratados se houver um novo contrato.

– Apesar de estarem sem um grande contrato, o faturamento e lucro do ano passado poderiam ter custeado essa situação e evitado as demissões – diz Vivaldo Araújo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, onde estão duas das três unidades da empresa.

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