Lino Rodrigues
Uma outra ajuda está vindo de um contrato orçado em R$1,1 bilhão para tirar do papel o ambicioso programa Astros 2020 (lê-se: vinte vinte), uma versão atualizada do sistema para lançamento de foguetes de artilharia desenvolvido com o Exército brasileiro. O Ministério da Defesa já aprovou o projeto (que incorpora um novo míssil de cruzeiro com alcance de até 300 quilômetros), mas a papelada ficou meses à espera da aprovação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Com um cenário apontando para uma nova crise global e economia de guerra com o Orçamento, Mantega postergou a liberação do dinheiro. Na quinta-feira, porém, a presidente Dilma Rousseff autorizou um crédito suplementar de R$45 milhões. A entrada dessa primeira parcela no caixa da empresa, embora bem menor que os R$200 milhões esperados. Segundo o presidente da Avibrás, Sami Youssef Hassuani, essa atitude sinaliza que o governo, apesar do cenário de crise internacional, está disposto a incentivar a indústria nacional de defesa. Com o dinheiro, algumas áreas das três plantas industriais da empresa começam a sair da ociosidade. A ideia é gerar 600 vagas com a aceleração das fases do projeto, cuja duração é de seis anos. Com o dinheiro das parcelas pagas pelo governo na parceria do projeto Astros 2020, a Avibrás ganha fôlego para esperar a definição de outras quatro negociações para fornecimento de equipamentos de defesa a governos de países amigos. A estimativa é de que o fechamento dessas negociações traga para o caixa da empresa cerca de US$2 bilhões em cinco anos. – O grande equalizador é o governo. Se ele nos ajudar nas entressafras, a exportação garante o resto. Nessas horas, enquanto aguardamos novos contratos de fora, o governo entra equalizando, comprando e ajudando no desenvolvimento e lançamento de produtos – diz Hassuani. Com o caixa no "talo", a empresa, que faturou R$201 milhões em 2010, está sobrevivendo de pequenos contratos de manutenção, assistência técnica e fornecimento de munição para exercícios de campo. A Avibrás também tem projetos de desenvolvimento de novos produtos que são bancados por agências de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Do lado dos trabalhadores, a situação é grave. Com salários sendo pagos com atraso desde o início do ano, eles vivem sob ameaça de nova demissão em massa, apesar da garantia de que serão recontratados se houver um novo contrato. – Apesar de estarem sem um grande contrato, o faturamento e lucro do ano passado poderiam ter custeado essa situação e evitado as demissões – diz Vivaldo Araújo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, onde estão duas das três unidades da empresa. |