IGOR GIELOW
Os quatro anos do gaúcho Nelson Jobim à frente da pasta da Defesa, com diversas polêmicas, significaram até para seus detratores o primeiro mandato de um ministro civil à frente dos assuntos militares no país.
Desde que Fernando Henrique Cardoso criou o ministério e submeteu as três Forças Armadas a ele, em 1999, seu objetivo institucional não havia sido alcançado.
Houve ministros fracos politicamente (como Élcio Álvares), ineptos (como Waldir Pires) ou apáticos (como Geraldo Quintão ou José Alencar).
Nenhum deles, contudo, fez frente aos seus comandados militares, acostumados por décadas a cuidar cada um de seus interesses, orçamentos e prioridades -fora as incursões na política, com os resultados conhecidos.
Com Jobim, que herdou o caos aéreo da gestão Waldir Pires, as coisas mudaram. Respaldado por Lula e compondo com os militares em questões caras à caserna, como na disciplina imposta aos controladores de voo ou contra a revisão da Lei de Anistia, Jobim ganhou autoridade inexistente nos antecessores.
O crescimento econômico dos anos Lula lhe possibilitou dar aos fardados reajustes e programas de modernização ao mesmo tempo em que mudava de fato a estrutura de comando.
Criou em 2010 o arcabouço jurídico para as compras de defesa. A indústria bélica se reorganizou, com divisões específicas saindo das costelas de gigantes como a Embraer e a Odebrecht, buscando novos negócios.
Ao mesmo tempo, a histórica regra do "cada um cuida do seu" nas Forças teve a lógica quebrada pela unificação das compras militares em uma secretaria. Ainda é algo incipiente, mas poderá racionalizar gastos.
O personalismo de Jobim à frente da pasta, que contribuiu para sua saída, cria um inevitável ponto de comparação com o diplomata Celso Amorim, que o sucederá. Com o agravante de que a contenção de gastos não dará espaço de manobra ao próximo ministro.
Outros fracassos ocorreram. O caos aéreo, que toma ares de drama com a proximidade da Copa-2014, não foi resolvido, e sim terceirizado para uma secretaria própria. A discussão sobre a Comissão da Verdade, a ser votada no Congresso, ainda está longe de ser pacífica.
A modernização militar ocorre aos trancos e barrancos. A escolha da França como parceira militar prioritário gerou uma grande dependência, ainda que os programas de submarinos e helicópteros estejam andando, mesmo que com críticas.
Já a compra dos novos caças para a FAB é uma novela sem fim e uma derrota pessoal de Jobim. Grande francófilo, por assim dizer, ele quase viu o modelo francês Rafale levar o negócio no governo Lula, mas agora tudo está na estaca zero.
Fica ainda um avanço. Ainda que megalômana e falha, a Estratégia Nacional de Defesa publicada em 2008 é um marco da transparência num setor fechado por natureza, assim como o "Livro Branco", em elaboração, com o raio-X militar do país.