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A nova era dos satélites brasileiros

Juliana Tiraboschi


No último dia 29, a Embraer e a Telebras divulgaram um acordo que promete ajudar o Brasil a acelerar sua capacitação no setor aeroespacial, desenvolver novas tecnologias, ter mais autonomia no setor de defesa e, de quebra, levar a internet por banda larga aos locais mais remotos do País. As duas companhias anunciaram a formação de uma nova empresa, a Visiona, que participará do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). A primeira missão da joint venture será capitanear o desenvolvimento de um novo satélite geoestacionário, ideal para o uso no setor de comunicações. A estimativa inicial é de que o equipamento fique pronto até 2014 e custe cerca de R$ 720 milhões, mas esse prazo pode mudar dependendo da complexidade do projeto final.

A principal função do novo equipamento, prestar o serviço de transmissão de dados sigilosos ao Ministério da Defesa, é importantíssima para o País. "O Brasil carece de um satélite para transferência de informações de forma segura, especialmente de caráter estratégico", diz Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança. Atualmente, o governo federal aluga o serviço de satélites de empresas privadas.

A máquina vai operar em duas bandas, termo usado para designar as faixas de frequência de transmissão de dados. A banda X será exclusiva para o Ministério da Defesa. Já a banda K será usada para ampliar a oferta de internet banda larga no Brasil. Segundo Bolivar Tarragó Moura Neto, diretor de administração e relações com investidores da Telebras, o plano é que o satélite ofereça cobertura de internet em todo o território nacional. "Estamos construindo nossa rede terrestre. Mas a algumas regiões, como o Norte do País, é mais difícil de chegar", afirma Moura Neto. Hoje, a Telebras tem oito mil quilômetros de rede de fibra ótica construída, mas o sistema deve alcançar 30 mil quilômetros até o fim do ano.

Segundo a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), a internet banda larga fixa e móvel no Brasil cresceu 70% apenas no ano passado. O número de acessos passou de 34 milhões em 2010 para 58 milhões em 2011, fazendo o serviço chegar a 2.650 municípios, nos quais vivem 83% da população brasileira.

De acordo com José Mauro Fortes, professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC-RJ, um aspecto interessante sobre o projeto é que o novo satélite poderá fornecer cobertura de internet conforme a necessidade de cada região. "É possível ofertar um sinal com mais ou menos potência de acordo com a demanda dos municípios", diz. Dessa forma, a distribuição ficaria mais precisa e o desperdício seria evitado. Vale esclarecer que a Telebras não fornecerá o acesso à internet diretamente ao consumidor final. A estatal venderá os serviços aos provedores, principalmente os de pequeno porte, que, por sua vez, atenderão os seus clientes.

Enquanto a Telebras termina de elaborar as especificações do satélite para que a Visiona corra atrás da empresa que irá construí-lo, sua parceira, a Embraer, se prepara para cuidar da integração dos sistemas ligados ao satélite, como o comando de controle terrestre. Além disso, a empresa também será responsável pelo lançamento do equipamento ao espaço. Para Aguiar, da Embraer, é natural que uma empresa que desenvolve tecnologia no setor aeronáutico ingresse no segmento espacial. "Outras companhias passaram pela mesma diversificação. É o caso da Boeing, importante no mercado de satélites, e da Airbus, cuja controladora, a EADS, também tem uma área específica para projetos espaciais", diz o executivo.

Além de comandar o projeto do novo satélite brasileiro, a Visiona vai assumir o papel de líder do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Espaciais do Parque Tecnológico de São José dos Campos, em São Paulo, entidade privada sem fins lucrativos que abriga diversas empresas nas áreas de energia, Aeronáutica, espaço, defesa, tecnologia da informação, telecomunicação, saúde, recursos hídricos e saneamento ambiental. A ideia é que a Visiona estabeleça parcerias com entidades de ensino e pesquisa aeroespacial.

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