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Merval Pereira
O relatório intitulado "Tecnologia e competitividade em setores básicos da indústria chinesa", fruto de um termo de cooperação entre a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, sob o comando do ministro Moreira Franco, do PMDB do Rio, e a Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ, define a inovação tecnológica como o ponto central do desenvolvimento da China.
Segundo o estudo, a capacidade inovativa chinesa é baseada em duas convicções que se interligam: a criação de novas tecnologias, produtos e serviços, e a ideia de que a China deve imitar o modelo de inovação do Vale do Silício, na Califórnia.
Apesar das dúvidas quanto às estatísticas chinesas, e à qualidade da massa de trabalhos acadêmicos e patentes registrados, os números oficiais são impressionantes: em 2008 a China teve quase 290 mil patentes pedidas, sendo 67% solicitadas por residentes, fruto de uma taxa de 23% de crescimento entre 2004 a 2007.
Comparando com o Brasil, tivemos pouco mais de 21 mil patentes pedidas no mesmo ano, em sua maior parte por não residentes (81,6%), com taxa de crescimento de apenas 4% de 2004 a 2007.
Na China, segundo o estudo, 72% dos detentores de patentes são empresas, contra 53% no Brasil, o que demonstra a integração entre pesquisa nas universidades e desenvolvimento, sendo prioritárias pesquisas aplicadas, com foco no mercado.
As empresas chinesas estariam muito mais voltadas ao desenvolvimento e à melhoria dos produtos já existentes do que para pesquisas e invenções de novos produtos.
Capital e recursos humanos são investidos em projetos de curto prazo com retorno rápido, enquanto as universidades cuidam dos projetos de longo prazo.
A China pretende consolidar, por exemplo, sua indústria farmacêutica, que atualmente tem mais de 13 mil pequenas empresas operando, principalmente na economia paralela, produzindo remédios e produtos de higiene pessoal com o risco de os consumidores comprarem produtos de qualidade duvidosa.
A consolidação da indústria se dará em torno de uma ou duas empresas a nível nacional. A nível regional, o governo pretende criar 20 grandes empresas. A ideia é aproximar o mais possível a produção e a venda, a fim de baratear os preços dos medicamentos.
Preocupa o governo chinês, no entanto, o fato de as novas invenções terem origem, em sua maior parte, em laboratórios multinacionais, o que é percebido como uma fraqueza do país.
Em média, o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento da China aumentou a uma taxa anual de 9% em relação ao PIB nos últimos dez anos.
O investimento vem se concentrando progressivamente nas empresas, representando em 2006 cerca de 70% do total, em detrimento dos institutos de pesquisa, que viram reduzidas as verbas de 40% para cerca de 20% do total.
Nos últimos anos houve uma preponderância do financiamento para desenvolvimento de tecnologias, que chega a cerca de 80% do total de recursos. Houve também um aumento do número de pessoas envolvidas em Pesquisa e Desenvolvimento, em particular no número de cientistas e engenheiros.
A parcela relativa às universidades e outras instituições se manteve inalterada, em torno de 10%.
O documento traz em sua contracapa um texto não assinado que pode servir de conclusão do estudo, que teve início com uma pergunta básica: o quanto a dimensão tecnológica é relevante na competitividade chinesa?
"O que se observou no campo foram empresas que, tendo começado absorvendo tecnologia licenciada, foram, ao longo do tempo, inovando "secundariamente", absorvendo mais tecnologias por acordos, engenharia reversa ou grande esforço próprio, acumulando capacitações tecnológicas de produção e de inovação, e ganhando mercado.
"Migrando de ciclo em ciclo de inovação, e se recriando organizacional e competitivamente, a cada rodada de crescimento e sofisticação empresarial.
"No processo, algumas poucas empresas já alcançaram a liderança em segmentos de sua indústria, ou acabaram por desenvolver trajetórias tecnológicas próprias que as suportam em posições competitivas singulares e sustentáveis.
"Se o vasto sistema produtivo chinês ainda não está neste patamar, isso não quer dizer que não se possa seguir caminhando nessa direção.
"Não é só o estado atual da República Popular da China que é impressionante; o que realmente fascina é a sua evidente capacidade de aprendizado, evolução e transformação coordenada, em busca de uma posição de liderança no cenário mundial.
"Se por um lado é evidente, e já notório, que o despertar e o crescer de tal gigante industrial ameaça a indústria nacional em múltiplas frentes, por outro se pode constatar que o Brasil tem imensas oportunidades de aprendizado e colaboração com a experiência chinesa.
"O ineditismo da experiência histórica recente, articulando estado forte e múltiplo, planejamento governamental coordenado e para o longo prazo, competição acirrada, empresas dinâmicas, desenvolvimento tecnológico e instituições em mutação, levando-a a mudar o mundo tal como o entendemos, nos coloca de frente à História.
"E pergunta ao Brasil: e o que vocês farão da sua?"