Por De Ottawa
O caso de espionagem canadense no Ministério de Minas e Energia do Brasil azedou uma relação bilateral que já estava longe de ser entusiasmante, mas que vinha melhorando nos últimos anos. O Canadá é o maior receptor de investimento brasileiro no exterior, principalmente por conta dos negócios da Vale no país. O Brasil também é um importante destino de investimento canadense. Ainda assim, por anos os dois países estiveram "invisíveis" um ao outro.
Essa falta de prioridade ficou evidente no governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, que em oito anos visitou 83 países, muitos deles mais de uma vez, mas nunca esteve no Canadá. A presidente Dilma Rousseff também não visitou ainda o país. Avesso a viagens, o premiê canadense, Stephen Harper, no poder desde 2006, esteve no Brasil apenas uma vez.
Nessa visita, em 2011, foi criado um Diálogo de Parceria Estratégica, com o intuito de reforçar as relações, abaladas desde a época do confronto entre a Embraer e a Bombardier e da crise da doença da vaca louca, em 2001.
Mas o caso de espionagem, não negado pelo Canadá, ameaça abortar essa aproximação. Há visivelmente um pacto do silêncio no governo canadense quanto ao embaraçoso incidente, revelado a partir de dados vazados pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden. Questionadas, tanto pública como privadamente, autoridades do país desconversam e cortam o assunto.
Foi o que fez o ministro John Baird na última sexta-feira, ao ser questionado pelo Valor sobre o porquê de o país haver espionado o Brasil. "Veja, eu sou o ministro das Relações Exteriores. Você precisaria falar com o ministro responsável pela inteligência. Fiz uma ótima visita bilateral ao Brasil, e valorizamos a nossa relação com o Brasil, não somente em comércio."
Ele disse não esperar que esse caso prejudique as relações e os negócios entre os dois países. "Nós certamente esperamos que nossa relação seja forte o suficiente para resistir aos desafios." O governo brasileiro fez um pedido formal de informações ao Canadá sobre o caso, mas ainda não obteve nenhuma resposta.
Até a mídia canadense levanta a suspeita de que o serviço de inteligência possa ter repassado informações sigilosas a mineradoras do Canadá que atuam no Brasil.