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BluePex : Brasil precisa produzir seu próprio antivírus

Fabiano Candido

São Paulo – A BluePex é uma pequena empresa de soluções de segurança, com sede na cidade de Campinas, interior de São Paulo. No final do ano passado, ela ganhou uma grande missão: desenvolver um antivírus 100% nacional capaz de proteger os 60 mil computadores do Exército Brasileiro.

Ulisses Penteado, gerente de operações da BluePex, é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do software de segurança, chamado AvWare Defesa BR. Quando alguém lhe pergunta se isso não é um negócio arriscado, já que existem empresas famosas e com soluções bem estabelecidas no mercado, ele não titubeia e diz: `Não quando o parceiro é o Exército Brasileiro`.

Nesta entrevista, ele conta quais são os desafios para vencer essa missão. E, principalmente, como ele vai tentar transformar o antivírus num sucesso e deixá-lo entre os cinco mais vendidos do país.

Como transformar um produto com menos de dois anos de vida em um software capaz de proteger computadores com informações delicadas e críticas, como os do Exército?

O software realmente é novo, principalmente quando comparado às soluções tradicionais do mercado. Mas com a parceria do Exército, a BluePex segue finalmente o caminho que muitas empresas de antivírus trilharam: o de poder trabalhar em conjunto com grandes especialistas, que são muito bem preparados e capacitados em desenvolvimento de sistemas fortes e resistentes a ataques digitais. Com o apoio deles, o AvWare Defesa BR passa por testes avançadíssimos que medem sua capacidade de proteção. Por causa desses processos, o software está muito aprimorado e avançou muito em relação às suas primeiras versões. É um software diferente, diria. Já se encontra num nível similar e, dependendo do ponto de vista, até mais avançado do que os estrangeiros.

Qual tecnologia o faz diferente dos antivírus tradicionais e de empresas multinacionais?
O AvWare Defesa BR é obviamente preparado para detectar vírus de todos os tipos. Só que ele tem uma grande base capaz de detectar vírus que só costumam circular pelos computadores brasileiros e que, geralmente, visam a informações bancárias ou a roubo de informações. Além disso, ele tem um módulo de captura remota de telas. A solução pode interessar a empresas que precisam monitorar seus empregados.

Como vocês ganharam a licitação do Exército?

Para a licitação de software de segurança de PCs, o Exército colocou no edital que a empresa fornecedora de antivírus deveria ser obrigatoriamente brasileira. E que a tecnologia também deveria ser. A BluePex e mais uma empresa se qualificaram para a disputa. No final, a gente acabou levando a licitação, no valor de 800 mil reais, por termos atendido os requisitos. Temos até o final deste ano para instalar o AvWare Defesa BR nas 60 mil máquinas do Exército. No momento, ele roda em alguns computadores, já que está em processo de homologação.

E quais os desafios desse projeto?

Eu diria que é deixar o AvWare redondo, ou seja, com uma interface intuitiva, rápido e muito eficiente na proteção. Ele terá que funcionar bem em um parque de computadores com diversas configurações. E chegar ao ponto certo é um pouco trabalhoso, porque exige vários testes e levar em conta opiniões de diversos usuários. Mas como a equipe de tecnologia do Exército nos auxilia bastante, estamos conseguindo evoluir bem.

Por que o Exército preferiu uma solução nacional incipiente ao invés de uma solução já estabelecida no mercado?

O Exército Brasileiro quis uma empresa brasileira por dois motivos. O primeiro deles é para fomentar a tecnologia nacional. As Forças Armadas de qualquer país têm esse viés de desenvolver os vários ramos industriais. E com as brasileiras não é diferente. O segundo, e talvez mais importante deles, é que o exército não quer mais trabalhar com empresas estrangeiras. Elas, numa possível guerra cibernética, poderiam demorar para atender as demandas do Brasil. E, também, favorecer seus governantes – numa guerra, tudo pode acontecer. Outro motivo é que uma empresa nacional, como a BluePex, pode criar um centro de atendimento específico pra o Exército – desse modo, o suporte é rápido e o quartéis não vão precisar enviar arquivos infectados para serem analisados em outro país.

Como o Exército será capaz de ajudar a BluePex?

Ele já colabora com seu conhecimento para deixar o antivírus mais poderoso. E a ideia é usar essa parceria para dizer aos consumidores brasileiros que um software nacional protege os 60 mil computadores do Exército do país. Isso nos dá credibilidade e, obviamente, sensibiliza muito consumidor. Afinal, o Exército é um órgão que exige muita segurança e seriedade dos seus fornecedores. E com a gente não está sendo diferente.

A empresa espera chegar onde com o AvWare Defesa BR?

Com o contrato do Exército, a BluePex aprimorou bastante os seus processos para atender uma base grande de computadores que têm o antivírus. Até o ano passado, a gente não sabia muito bem como lidar com isso. Agora, estamos com servidores robustos, equipes treinadas e capacitadas, uma equipe de engenharia afinada para entregar um bom nível de serviço para os usuários do nosso antivírus. Isso nos dá confiança para encarar outras licitações públicas e oferecer nossa solução no mercado corporativo. Nossa ideia é estar, em pouco tempo, entre os cinco melhores antivírus do país.

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