De uma guerra civil que opunha rebeldes e jihadistas ao regime do presidente Bashar al-Assad, o já longo conflito na Síria evoluiu para um enfrentamento internacional no qual potências como Estados Unidos, Rússia, Turquia, Irã e também Israel estão cada vez mais envolvidos.
A derrota quase total de um dos principais atores do conflito (o grupo jihadista "Estado Islâmico"), o avanço das tropas de Assad, as perdas territoriais do rebeldes e a consolidação do domínio dos curdos no norte levam à constatação de que os destinos dos envolvidos estão mais ou menos selados.
Assim, o que interessa agora, para as potências internacionais, é fortalecer posições para o que seria uma difícil fase de negociações pós-guerra civil. Só que justamente isso faz com que o conflito se acirre e ganhe uma nova dimensão, levando a guerra civil original a dar lugar a várias guerras paralelas. É o caso, por exemplo, da operação da Turquia em Afrin contra os curdos.
O domínio de grandes áreas no norte do país pelos curdos eleva o medo dos turcos de que uma região autônoma ou até mesmo um Estado curdo se consolide no norte da Síria. A Turquia é, a rigor, contra o regime de Assad, mas é ainda mais contra um Estado curdo na sua fronteira.
É verdade que boa parte das potências internacionais já está envolvida no conflito há muito tempo. O Irã entrou na guerra já em 2011, com o objetivo de fortalecer Assad, um aliado. Logo em seguida foi a vez da milícia xiita libanesa Hisbolá, uma espécie de sucursal do regime iraniano.
Em 2014, os Estados Unidos iniciaram bombardeios contra o "Estado Islâmico", posicionando-se ao lado dos rebeldes moderados e dos curdos que tentavam derrubar Assad. A Rússia, por sua vez, iniciou seus próprios bombardeios em 2015, atacando bases jihadistas e também rebeldes, só que em apoio a Assad, que deseja manter no poder.
A participação russa foi fundamental para o regime sírio ganhar terreno, às custas dos rebeldes e dos jihadistas. Tanto Rússia como Irã perseguem o objetivo de se estabelecer como potências capazes de determinar os rumos no Oriente Médio.
Já Israel vê com preocupação a crescente presença iraniana na Síria. O principal temor é a possível presença do Hisbolá nas proximidades das Colinas de Golã, no sul da Síria e na fronteira com Israel, onde a milícia poderia estabelecer uma base militar e assim ameaçar Israel.
O fato de os interesses dos atores envolvidos serem em grande parte opostos complica uma solução de paz. Assad quer se manter no poder e garantir a integridade territorial da Síria. Os curdos vão lutar até os últimos recursos para manter os territórios que conquistaram.
A Turquia não quer de jeito nenhum que surja um território autônomo ou mesmo um Estado curdo na sua fronteira. O Irã quer se consolidar como potência regional e manter Assad no poder. A Rússia também quer manter influência na Síria e garantir a continuidade de Assad.
Os Estados Unidos não querem que grupos jihadistas se reagrupem e já indicou que prefere que Assad deixe o poder. Além disso, pretende frustrar os planos iranianos de ampliar sua influência na região. Israel também teme a influência iraniana e a decorrente presença do Hisbolá na sua fronteira.
Esse complicado emaranhado de interesses deixa antever que a guerra na Síria ainda está muito longe do fim.