Luiz Carlos Azedo
Jornalista, colunista do Correio Braziliense
A ordem no Palácio do Planalto é resistir em todas a frentes. O presidente Michel Temer comanda pessoalmente a tentativa de esvaziar as denúncias dos irmãos Joesley e Wesley Batista contra ele. A linha de argumentação é a seguinte: o diálogo mantido entre Temer e o dono da JBS Joesley Batista foi induzido e a sua gravação seria uma grande armação.
O presidente é acusado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nos áudios da conversa, de ter avalizado o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha em troca de seu silêncio na Lava-Jato. O inquérito foi aberto a pedido da Procuradoria-geral da República, com autorização do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF.
Temer pediu ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para periciar os áudios, a fim de verificar se houve alguma trucagem. Seu objetivo é anular a gravação feita clandestinamente, durante encontro reservado com Joesley no Palácio do Jaburu.
Qualquer indício de edição dos áudios prejudica todo o teor da conversa, que é a maior dor de cabeça do presidente da República, porque o empresário lhe relatou vários fatos que podem ser considerados obstrução de justiça e corrupção.
Ontem, Temer reuniu-se com os comandantes militares e o ministro da Defesa, Raul Jungmann. A conversa estava marcada para a manhã, mas foi adiada para o final da tarde. A permanência do ministro do PPS no cargo, mesmo depois da saída de do presidente do PPS, Roberto Freire (SP), do Ministério da Cultura, faz parte da estratégia de redução de danos do Palácio do Planalto. Até agora, as Forças Armadas têm evitado manifestações sobre a situação política.
Na quinta-feira, pelo Twitter, o comandante do Exército, general Eduardo Villas-Boas, reiterou sua posição de princípio: “A Constituição Federal Brasileira há de ser sempre solução para os desafios institucionais do país. Não há atalhos fora dela!”. Pra bom entendedor, é um recado de que a saída da crise é responsabilidade dos políticos.
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, também togou água fria na crise, em conversa com os jornalistas: “Preocupados com o Brasil nós estamos o tempo todo. O papel do poder Judiciário, no que a democracia ajudar, nós estamos fazendo, temos que continuar, as instituições estão funcionando, o Brasil está dando uma demonstração acho que de maturidade democrática. Os percalços fazem parte das intempéries”, afirmou. Cármem Lúcia é a terceira na linha de sucessão de Temer, caso o presidente venha a renunciar ou se afastado do poder.
Ontem o ministro Luís Roberto Barroso negou o pedido de habeas corpus impetrado pelo advogado Samuel José Orro Silva no Supremo Tribunal Federal, para derrubar a investigação de Temer pela Lava-Jato. Formalmente, o advogado não integra a defesa de Temer junto ao STF nem representa a Presidência da República. No pedido, ele argumentava que o ministro Edson Fachin, que autorizou a abertura do inquérito, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu a investigação, agiram com “ilegalidade”, “açodamento” e “parcialidade”.
Vídeos
O bombardeio contra Temer, porém, continua. Ontem, com autorização do ministro Fachin, foram divulgados os vídeos das delações premiadas da JBS, com revelações estarrecedoras sobre o mundo político, inclusive novas denúncias contra Michel Temer. Como acontece em todas as delações premiadas, as acusações precisam ser corroboradas com provas robustas, apresentadas pelos delatores.
No caso, são movimentações financeiras, áudios e muitos vídeos feitos pela Polícia Federal, como os que flagraram a entrega de dinheiro de propina para o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), o executivo da holding J&F Ricardo Saud afirmou ter “certeza absoluta” de que o suborno foi destinado a Temer.
Loures foi gravado por agentes federais saindo de uma pizzaria, na zona sul de São Paulo, carregando uma mala com dinheiro repassada pelo dono da JBS para que o peemedebista defendesse interesses da empresa em um processo em tramitação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo a PF, dentro da mala havia R$ 500 mil.
O dono da JBS contou aos investigadores da Lava Jato que a Empresa Produtora de Energia (EPE), pertencente ao Grupo J&F, estava perdendo cerca de R$ 1 milhão por dia em razão do monopólio da Petrobras na área de gás natural. Para quebrar o monopólio, o acordo era pagar R$ 500 mil por semana durante 20 anos ao parlamentar do PMDB. Esse é o período do contrato da termelétrica com a Petrobras. Afastado do cargo por Fachin, o parlamentar é uma das dores de cabeça para Temer, mas seu pedido de prisão não foi aceito por Fachin.