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China eleva o tom contra sanções ocidentais por uigures

A China rebateu, nesta terça-feira (23), o que considera serem "mentiras" e "informações falsas" divulgadas pelos países ocidentais sobre o tratamento dado à minoria uigur e convocou o embaixador da União Europeia (UE).

De acordo com estudos de institutos americanos e australianos, pelo menos um milhão de uigures foram internados em "campos" na região de Xinjiang (noroeste) da China, e alguns, submetidos a "trabalhos forçados" e "esterilizações".

A China nega categoricamente estas duas últimas acusações e afirma que os "camps" são "centros de formação profissional" destinados a manter a população afastada do extremismo religioso e do separatismo, na sequência de uma série de ataques atribuídos aos uigures.

Em resposta, a União Europeia impôs, na segunda-feira, sanções contra quatro autoridades passadas, ou atuais, de Xinjiang. O Reino Unido e o Canadá seguiram o exemplo.

Os Estados Unidos, que já tinham instituído sanções a dois líderes em 2020, acrescentaram os outros dois à sua lista.

Pequim retaliou, aplicando sanções a dez personalidades europeias, incluindo cinco membros do Parlamento Europeu. Todos são acusados de "espalhar mentiras" baseadas em estudos que a China considera tendenciosos.

Os europeus e suas famílias não poderão entrar na China continental, nem em Hong Kong e Macau.

Quatro fundações europeias também estão na mira de Pequim, incluindo a Aliança das Democracias, uma instituição dinamarquesa liderada pelo ex-secretário-geral da Otan Anders Fogh Rasmussen.

"Lições" da UE

Pequim anunciou nesta terça que convocou "durante a noite" o embaixador da UE na China, Nicolas Chapuis, para "condenar nos termos mais fortes" as sanções europeias "baseadas em mentiras e informações falsas".

"A UE não está em posição de dar lições à China sobre direitos humanos", disse a ele o vice-ministro das Relações Exteriores, Qin Gang.

"A China insta a UE a reconhecer a gravidade de seu erro, corrigi-lo e encerrar o confronto, de modo a não causar mais danos às relações sino-europeias", acrescentou.

O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, também reagiu às acusações nesta terça-feira, durante uma reunião na China com seu homólogo russo, Serguei Lavrov.

"Nos últimos dias, uma minoria de potências ocidentais se manifestou para difamar e criticar a China", disse Wang.

"No entanto, devem saber: os dias em que podiam inventar histórias, ou fabricar uma mentira, para interferir nos assuntos internos da China acabaram", acrescentou.

As sanções ocidentais decididas na segunda-feira podem ser um sinal de fortalecimento dos laços entre os Estados Unidos e seus aliados contra Pequim, após a relativa desunião observada durante o mandato do ex-presidente Donald Trump.

Visita a Xinjiang

Os pontos de conflito entre os países ocidentais e a China são numerosos: dea repressão à oposição em Hong Kong ao acesso ao mercado chinês, passando pelos investimentos chineses na Europa, o Mar da China Meridional, ou Taiwan.

A saída de Trump poderia ter iniciado uma distensão entre Pequim e Washington, mas o secretário de Estado americano, Antony Blinken, adotou o termo "genocídio" para evocar o tratamento dos uigures. A palavra já havia sido usado por seu antecessor Mike Pompeo.

Jornalistas estrangeiros podem ir a Xinjiang, mas são vigiados de perto pelas autoridades. Isso dificulta o trabalho de confirmar, ou negar, informações sobre a região.

Majoritariamente muçulmanos e de língua turca, os uigures são um dos 56 grupos étnicos da China. Eles representam pouco menos da metade dos 25 milhões de habitantes de Xinjiang.

Vários embaixadores de países da UE pedem há meses permissão para visitar a região livremente, mas a visita está paralisada, disseram fontes diplomáticas à AFP na semana passada.

Segundo a mesma fonte, o bloqueio se deve a um pedido de Ilham Tohti, acadêmico uigur condenado em 2014 à prisão perpétua por "separatismo" e acusado de apologia a atentados, para ter acesso à região.

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