Eliane Oliveira
Portal O Globo
17 Março 2021
BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira que o Paraguai será o primeiro país a receber vacinas do Brasil, quando isso for possível. Com seu país sem imunizantes e equipamentos para o atendimento às vítimas do coronavírus, o chanceler paraguaio, Euclides Acevedo, manteve reuniões, em Brasília, com Araújo e o presidente Jair Bolsonaro, para pedir ajuda.
— O Brasil tem como prioridade na sua cooperação internacional o Paraguai. Assim que estivermos prontos para começar a cooperar internacionalmente no provimento de vacinas, o Paraguai será a nossa prioridade número um — afirmou o ministro brasileiro.
No Brasil, o processo de imunização é considerado desastroso por especialistas. A campanha de vacinação não deslancha como deveria e é criticada como lenta demais, pelas dificuldades de o governo federal fechar contratos e garantir as entregas dos imunizantes importados, além de dificuldades de trazer insumos para a fabricação nacional.
Ernesto Araújo também informou que o Brasil está pronto para reabrir as negociações para a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu. O documento, que estabelece as bases financeiras da prestação de serviços de eletricidade, determinará as condições de comercialização e preços de energia da usina binacional a partir de 2023, 50 anos depois deda construção da hidrelétrica, quando as dívidas da obra estarão pagas.
— Estamos prontos a começar as discussões tão logo as circunstâncias da pandemia minimamente o permitam —afirmou o chanceler.
Em agosto de 2019, o Paraguai mergulhou em uma forte crise política depois que veio à tona que o governo do país havia assinado com o Brasil um documento em que se comprometia a comprar energia mais cara do que o habitual da Usina de Itaipu.
Isso provocou a queda de altos funcionários paraguaios e, por pouco, o presidente Mario Abdo Benítez — aliado de Bolsonaro na região — não foi destituído. A negociação em novas bases é considerada crucial pelas autoridades paraguaias.
O Ministro @ernestofaraujo recebeu, hoje, o Ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Euclides Acevedo @euclides_py, em visita a Brasília. O encontro reforça o excelente momento na relação entre #Brasil e #Paraguai. pic.twitter.com/AXJ9GlvF3g
— Itamaraty Brasil ?? (@ItamaratyGovBr) March 17, 2021
Os avanços em infraestrutura (segunda ponte sobre o rio Paraná, ponte sobre o rio Paraguai e corredor bioceânico indo do MS ao Chile e passando pelo Paraguai e Argentina) e a dinamização das negociações do Mercosul também constaram da pauta.
— Itamaraty Brasil ?? (@ItamaratyGovBr) March 17, 2021
Os Chanceleres trataram da cooperação contra a Covid e ressaltaram o compromisso comum com a democracia e o combate ao crime organizado em toda a região.
— Itamaraty Brasil ?? (@ItamaratyGovBr) March 17, 2021
Euclides Acevedo agradeceu. Chamou Ernesto Araújo de amigo, e elogiou a disposição do Brasil em discutir o Acordo de Itaipu e a solidariedade brasileira quanto a um futuro fornecimento de vacinas. O apoio do Brasil, mesmo tímido, é importante para o presidente paraguaio. A crise sanitária no país vizinho levou milhares de pessoas às ruas do Paraguai em protestos contra o governo de Abdo Benítez.
Nesta quarta, a oposição apresentou um pedido de abertura de um processo para o julgamento político de Abdo, mas não teve maioria para levá-lo adiante.
— Temos dinheiro, mas não temos vacinas para comprar — disse o chanceler paraguaio, que também viajará para a Argentina e o Chile em busca de ajuda.
Na noite anterior ao embarque para o Brasil, Acevedo deixou claro o desapontamento de seu governo com o consórcio Covax, criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o fornecimento de vacinas aos países pobres e em desenvolvimento. O Paraguai comprou 4 milhões de vacinas em outubro do ano passado, mas não recebeu uma única dose por esse mecanismo.
Com 7 milhões de habitantes, só chegaram ao país até agora 4 mil doses da Sputnik, doadas pela Rússia. O chanceler paraguaio disse que está tentando um contato com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Acrescentou que também já conversou com autoridades de Índia, dos Emirados Árabes e de Taiwan.