Leonardo Kronos Grand Mobile High Power
Uma solução completa para a defesa aérea e antibalística
Pedro Paulo Rezende
Especial para DefesaNet
O Aeroporto Militar Coronel Mario de Bernardi (Nota 1) é o sonho de qualquer maníaco por aviação. Ele abriga a Base Aérea de Pratica di Mare, localizada a 20 quilômetros de Roma, e é um exemplo de operações combinadas. A área abriga um dos centros de pesquisa e dois esquadrões, um de combate e outro de busca e salvamento, da Aeronáutica Militar Italiana, e o Comando Operativo Aeronaval da Guarda de Finanças (Nota 2), ligada ao Ministério da Economia e de Finanças. Além de centralizar os voos de testes, abriga a avaliação de sistemas de combate antiaéreo de ponta.
No momento, há três unidades de radar da família KRONOS, desenvolvida pela LEONARDO, participando de testes de homologação na área. DefesaNet teve acesso a dois modelos: uma unidade do KRONOS Power Shield instalado em terra e uma unidade do KRONOS Grand Mobile High Power. Otimizados para defesa aérea e antimísseis integrada (IAMD), os dois sistemas compartilham a mesma technologia (Active Electronically Scanned Array — AESA) com módulos de transmissão e recepção digitais constituintes (TRMs). Manufaturados a partir de tecnologia desenvolvida pela LEONARDO à base de nitreto de Gálio (GaN) o Kronos Grand Mobile High Power opera em banda “C”, Kronos Power Shield é em Banda “L”.
Concebida para ser instalada em navios com deslocamento superior a 600 toneladas, KRONOS Power Shield foi otimizado como radar de vigilância de grande alcance para ser empregada contra alvos estratégicos (mísseis balísticos, supersônicos, hipersônicos e de cruzeiro). O KRONOS Grand Mobile High Power é móvel e pode ser transportado por veículos de oito ou seis rodas com tração total e foi desenvolvido para enfrentar todas as ameaças de um campo de batalha moderno, de drones a bombas guiadas. Ambos possuem capacidade de identificação amigo-inimigo (IFF) integrada e podem atuar como emissores de contramedida eletrônica interferindo e cancelando ativamente os sinais nos equipamentos de designação de alvos inimigos.
Os dois empregam antenas rotativas refrigeradas a líquido, eles proveem informações aos sistemas C2I (Comando, controle e Inteligência) ou C3I (Comando, Controle, Comunicação e Inteligência) por meio de datalink e são capazes de acompanhar, designar e engajar alvos para baterias de mísseis antiaéreos e antibalísticos, no caso italiano o sistema de mísseis terra-ar SAMP/T New Generation do Consórcio EUROSAM, que emprega os mísseis ASTER 15 e ASTER 30 com alcance máximo superior a 30 quilômetros e 120 quilômetros respectivamente. Empregam um sistema de emissão ativo que emite ondas aleatórias de rádio para dificultar a ação adversária.
Recentemente, duas novas opções foram agregadas ao sistema. O ASTER 30 BLOCK 1 possui uma ogiva equipada com um radar ativo velocidade de banda Ka, adequada para engajar um míssil balístico de curto alcance (SRBM— 600 quilômetros de raio de ação). A versão ASTER 30 NT usa um radar ativo na banda Ku ou de médio alcance (MRBM — 1500 quilômetros de raio de ação). O modelo também é capaz de engajar mísseis táticos equipados com múltiplas ogivas.
Vigilância em todos os níveis
O KRONOS Power Shield integrated in the Combat Management System tem uma interface extremamente amigável por meio de um monitor colorido touchscreen, está interligado aos sistemas de identificação automáticos e possui capacidade de tratar alvos aéreos e navais por meio de inteligência artificial. Basta tocar em um ponto na tela para receber todas as informações da aeronave ou do navio detectado, sua rota prevista e posição exata. Ao todo, consegue processar até 400 alvos a uma distância máxima aproximada de 1.500 quilômetros a um teto máximo superior a 20 mil metros.
Como sistema antibalístico, ele é capaz de detectar o lançamento desde a origem e, por meio de inteligência artificial, diferenciar pelo comportamento do vetor se é um alvo falso ou um míssil verdadeiro. A antena necessita de quatro segundos para completar um giro. Capaz de fornecer informações a Sistemas C3I, ele pode definir a melhor maneira de engajar o alvo e pode acionar baterias móveis instaladas em terra ou em navios em alto mar.
Próximo, estava uma unidade do KRONOS Grand Mobile High Power, um sistema extremamente compacto. A unidade tem o tamanho de um container padrão ISSO de 20 pés. Na configuração de transporte, a antena é rebatida para dentro da estrutura. Para entrar em ação, quatro pernas estabilizadoras são estendidas, o equipamento abre um espaço livre acima do transporte que segue adiante para liberar a carga. As pernas, além de sustentarem o radar, estabilizam o sistema automaticamente. A peça pode ser colocada em operação em apenas 10 minutos e possui uma pequena sala de controle e sistemas de alimentação e de refrigeração próprios
Múltiplas funções
O KRONOS Grand Mobile High Power é um radar multifuncional de alto desempenho, projetado para Vigilância e Defesa Aérea e de Mísseis, que pode ser utilizada tanto em ambiente terrestre quanto litorâneo e pode enfrentar qualquer tipo de ameaça. Basicamente, os desenvolvedores da LEONARDO anteciparam as necessidades que o cenário da Guerra da Ucrânia apresentou.
O radar tem uma detecção de alta probabilidade e precisão de rastreamento, mesmo em ambiente de grande complexidade. É capaz de identificar drones, armas vagantes suicidas (loitering munition), aeronaves de ataque, mísseis balísticos táticos de curto raio de ação, mísseis de cruzeiro, supersônicos e hipersônicos, UAVs de pequeno porte, alvos pop-up, helicópteros, foguetes e tiros de artilharia. No cenário naval, pode conter ameaças variadas de navios de combate a pequenos barcos furtivos tripulados ou guiados remotamente.
A velocidade de varredura da antena é de 60 giros por minuto e o alcance máximo supera 250 quilômetros. O sistema pode ser usado em conjunto com as versoes naval da familia Kronos para o monitoramento de mísseis balísticos e hipersônicos em trajetória final e pode ser integrado a qualquer modelo de míssil antiaéreo de fabricação europeia e norte-americana.
O modelo foi escolhido pela Força Aérea Grega para atuar como sistema integrado de defesa aérea e antimísseis na NAMFI (NATO Missile Fire Installation), a instalação da Organização do Tratado do Atlântico Norte na Ilha de Creta. Ele garantirá altos níveis de segurança aérea durante os exercícios, contribuindo para o treinamento de alta qualidade das Forças Armadas da coalizão, bem como para testes de homologação e validação de sistemas. O Kronos Grand Mobile High Power também foi escolhido como o radar de vigilância e engajamento para a versão italiana do sistema de mísseis terra-ar SAMP/T New Generation do Consórcio Eurosam (Nota 3).
Os dois novos equipamentos se somam a uma família que reúne mais de trinta anos de experiência desde o desenvolvimento de sistemas de radar multifuncionais de varredura eletrônica. O processo teve início com o sistema EMPAR de varredura passiva (PESA), desenvolvido para os contratorpedeiros da Classe Orizonte, que deu origem aos sistemas KRONOS que reúnem a mais moderna tecnologia de varredura ativa.
Para aplicações terrestres, entre as diversas variantes, a Leonardo desenvolveu o radar Kronos Land. Com implatação altamente rápida e móvel, este radar é capaz de detectar e seguir alvos com capacidade de alta manobra, alvos pairando e alvos de baixa altitude. O sistema está equipado com uma antena de banda C AESA que permite ações de vigilância e rastreamento, além de dar suporte à atividades de avaliação de riscos e controle de incêndio originado de diferentes tipos de ameaças aéreas e marítimas, incluindo aeronaves (ABTs), mísseis de alta velocidade, UAVs de baixo desempenho, helicópteros em vôo, foguetes e projéteis de artilharia (capacidade C-RAM), bem como navios e pequenos barcos.
Com um alcance de vigilância de até 250 km, o Kronos Land pode ser facilmente integrado a uma rede de vigilância para controlar sistemas de defesa aérea de curto (SHORAD) e muito curto (VSHORAD) alcance. Ele também oferece recursos superiores de Counter-UAS (C-UAS), permitindo que os operadores detectem e rastreiem alvos potencialmente hostis mesmo em cenários desafiadores. O Kronos Land também foi apresentado como radar de vigilância do sistema de defesa aérea SIRIUS da MBDA.
Vários clientes em todo o mundo, inclusive na Europa, Oriente Médio, Ásia-Pacífico e América do Sul, já usam a avançada tecnologia de radar Kronos como parte da arquitetura principal do sensor IAMD, que tem mais de 40 radares em serviço.
Nota 1: O Coronel Mario de Bernardi foi um ás da aviação experimental italiana entre a Primeira Guerra Mundial e meados da década de 1950. Foi o primeiro piloto italiano a derrubar um adversário em combate aéreo e, em 1918, somava quarto vitórias confirmadas e uma não confirmada. Como integrante da equipe italiana na Copa Schneider (uma corrida de aviões que galvanizou o desenvolvimento aeronáutico), foi o primeiro homem a superar a marca de 300 milhas por hora e a superar a velocidade de 500 quilômetros por hora (dois recordes mundiais). Em 27 de agosto de 1940, tornou-se o primeiro piloto a voar oficialmente em um avião a jato no comando de um Caproni-Campini N1. Também foi o primeiro a executar um voo de longa distância em um aparelho a reação a completar, em 30 de novembro de 1941, o trajeto entre Milão e Roma no Caproni-Campini N1. Em 8 de abril de 1959, ele teve um ataque cardíaco em pleno voo. Conseguiu pousar, mas morreu pouco depois de ser atendido.
Nota 2: A Guarda de Finanças está subordinada ao Ministério da Economia e Finanças da Itália. Equivale à Receita Federal do Brasil, mas serve como força ostensiva e fardada com capacidade de atuar em terra, mar e ar. DefesaNet publicará, em breve, um artigo sobre o Comando Operativo Aeronaval da Guarda de Finanças.
Nota 3: O grupo MBDA é formado pelas três maiores empresas europeias e tem a seguinte divisão acionária: Airbus, detentora de 37.5% do capital; BAE Systems, responsável por 37.5% das ações, e LEONARDO, com 25% do total restante. É a única empresa ocidental a fabricar mísseis para uso terrestre, marítimo e aéreo. No consórcio EUROSAM, a MBDA tem 66,6% do capital e a Thales Group, francesa, 33,3%.