Humberto Leite
Publicado Aerovisão
Se ao longo de décadas o Brasil precisou pagar para adquirir aeronaves militares modernas fabricadas pelos Estados Unidos, em 2013 a história se inverteu. A Forca Aérea dos EUA (USAF – United States Air Force) anunciou que o Super Tucano foi selecionado como suo futura aeronave de ataque leve. O anúncio, feito no dia 27 de fevereiro, confirmou que o avião desenvolvido pela Embraer após um requisito elaborado pela Força Aérea Brasileira ganhou reconhecimento internacional. Com a compra da USAF já são nove clientes de exportação.
"É um orgulho para a FAB e para o Brasil saber que um avião idealizado em solo nacional, para atender necessidades operacionais de nossa Forca Aérea, tem a sua qualidade reconhecida internacionalmente", disse o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Salto, Comandante da Aeronáutica. No Brasil, o principal uso do Super Tucano é em missões de vigilância das regiões de fronteira a partir das Bases de Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR). "A cada dia nós comprovamos o poder desse avião de defender nosso pais", completou o Brigadeiro.
Os Estados Unidos devem adquirir 20 Super Tucanos em um negócio avaliado em US$ 427,5 milhões. Chile, Colômbia, Equador, Indonésia, República Dominicana, Angola, Mauritânia e Burkina Fasso também já adquiriram a aeronave. De acordo com a Embraer, já há mais de 200 encomendas do Super Tucano, o que torna a aeronave de combate mais vendida na historia da indústria de defesa brasileira. Cento e setenta ia foram entregues. "O Super Tucano é, sem dúvida, a melhor aeronave hoje em operação no mundo para atuar nesse nicho, que é o ataque leve e a defesa aérea contra aeronaves de pequeno porte, afirma o Comandante da Aeronáutica.
Desenvolvimento
O Super Tucano voou pela primeira vez no dia 2 de junho de 1999. 0 projeto da Embraer precisava cumprir o requisito da Força Aérea Brasileira de uma aeronave de baixo custo operacional que fosse ideal para interceptar aeronaves de pequeno porte que tentassem sobrevoar o Brasil sem autorização, pudesse servir de treinador para pilotos de caça e cumprir missões de ataque.
“Nós não tínhamos nenhuma visão de mercado externo. O Super Tucano foi feito exclusivamente para as necessidades da FAB. Mas nós sabíamos que as necessidades da FAB estariam presentes em outros países também", explica o Brigadeiro Fernando Antônio Fernandes Cima, atualmente na reserva. Ele foi o primeiro gestor do então chamado projeto ALX, quando, lembra, o avião ''era só um monte de papel".
"O Super Tucano é, sem dúvida, a melhor aeronave hoje em operação no mundo para atuar nesse nicho, que é o ataque leve e a defesa aérea contra aeronaves de pequeno porte"
Brigadeiro Juniti Saito
Comandante da Aeronáutica
Entre 1993 e 1995, a partir dos Requisitos Operacionais elaborados pela Força Aérea, a equipe do Brigadeiro Cima conversou com a Embraer sobre como seria aquela futura aeronave. A ideia era que o AL-X fosse baseado no Tucano, que na época já era utilizado armado com bombas, metralhadoras e foguetes, mas que fosse mais potente, levasse mais armamentos e seus equipamentos eletrônicos fossem comparáveis aos caças supersônicos mais modernos.
Ao contrário da tradição dos aviões à hélice terem apenas alguns “reloginhos” na cabine, o Super Tucano veio equipado com displays multifunção coloridos, óculos de visão noturna(NVG), computadores para cálculo automático de mira, equipamento de busca no espectro infravermelho e uma cabine projetada no conceito HOTAS (Hand on Throtle and Stick) e com HUD (Head up Display). Essas duas últimas características permitem que o piloto possa cumprir sua missão inteira sem tirar as mãos do manete e ao mesmo tempo, conseguir enxergar as informações mais importantes sem tirar os olhos dos alvos.
"O avião saiu muito melhor que o inicialmente previsto”, diz o Brigadeiro Cima. “Depois que assinamos o contrato de desenvolvimento , em 1995, o avião melhorou muito. Foi colocada uma aviônica mais moderna que o inicialmente previsto o processo construtivo da asa foi melhorado, conta.
Os requisitos da FAB ainda incluíam a necessidade de operar a partir de pistas difíceis, sem asfalto. “A capacidade de operar em qualquer lugar é importante.
Requisitos Operacionais elaborados pela Força Aérea, a equipe do Brigadeiro Cima conversou com a EMBRAER sobre corno seria aquela futura aeronave. A ideia era que o ALX fosse baseado no Tucano, que na época já era utilizado armado com bombas, metralhadoras e foguetes, mas que fosse mais potente, levasse mais armamento e seus equipamentos eletrônicos fossem comparáveis aos caças supersônicos mais modernos. Ao contrário da tradição dos aviões à hélice terem apenas alguns ''reloginhos" na cabine, o Super Tucano veio equipado com displays multifunção coloridos, óculos de visão noturna (NVG), computadores para cálculo automático de mira, equipamento de busca no espectro infravermelho e uma cabine projetada no conceito HOTAS (Hands on Throlle and Stick) e com HUD (Head Up Display). Essas duas últimas características permitem que o piloto possa cumprir sua missão inteira sem tirar as mãos do manche e da manete de potência e, ao mesmo tempo, conseguir enxergar as informações mais importante sem tirar os olhos dos alvos.
"O avião saiu muito melhor que o inicialmente previsto'', diz o Brigadeiro Cima. 'Depois que nós assinamos o contrato de desenvolvimento, em 1995, o avião melhorou muito. Foi colocada uma aviônica mais moderna que prevíamos inicialmente, o processo construtivo da asa foi melhorado", conta.
Os requisitos da FAB ainda incluíam a necessidade de operar a partir de pistas difíceis, sem asfalto. "A capacidade de operar em qualquer lugar é importante. Se ele só operasse em pistas asfaltadas, qualquer um saberia que só pode utilizar poucas pistas na Amazônia. Operando de pistas não preparadas, aumenta muito esse número", explica o Brigadeiro. Este também foi um dos requisitos da concorrência vencida pelo Super Tucano nos Estados Unidos. Nos voos de demonstração, armada com bombas, a aeronave mostrou a capacidade de pousar e decolar em pista de terra. A vitoria nessa concorrência foi comemorada pelo Brigadeiro Cinta. "É uma vitória de toda a Força Aérea, de todos", disse. Mas ele faz questão de homenagear o Tenente- Coronel Luis Augusto Lancia, já falecido, que atuou como piloto de testes do então ALX. "Ele foi fundamental para o desenvolvimento da aeronave. Ele era extremamente criativo. Muito do que nos vimos hoje de sucesso veio da cabeça dele".
Parcerias: FAB e indústria nacional
O anúncio da compra da USAF ainda é pequeno: 20 Super Tucanos é bem menos que, por exemplo, as 99 unidades recebidas pela FAB. Mas além de haver a possibilidade de novos lotes, a venda para os americanos serve como atestado da qualidade do avião. "E a chancela de uma Força Aérea operacional como a USAF. Não está mais em dúvida se esse avião é bom ou não, se ele cumpre ou não a missão explica o Brigadeiro Cima. O Presidente da EMBRAER Defesa e Segurança, Luiz Carlos Aguiar. disse que a empresa já está pronta para iniciar a construção das aeronaves. "Nosso compromisso é avançar com a estratégia de investimentos nos Estados Unidos e entregar o Super Tucano no prazo esperado e conforme o orçamento contratado", afirmou. Esta não é a primeira vez que uns avião é desenvolvido a partir de um requisito da FAB. Nascida na década de 60,a EMBRAER construiu o Bandeirante. Nas anos 80 e 90, o treinador Tucano, utilizado pelos cadetes brasileiros na Academia da Força Aérea, pode ser visto voando com as cores de mais 10 países, como França, Egito, Argentina e Peru. A versão construída sob licença no Reino Unido também serve para o treinamento dos pilotos da Royal Ai, Force e também do Quênia e Kuwait.
Nos anos 90, após um requisito da FAB, a EMBRAER transformou seu jato ERJ 145 em uma plataforma para missões de inteligência, reconhecimento e vigilância. As primeiras aeronaves,entraram em, serviço no Brasil, em 2002, mas agora também já podem ser vistas nas cores das Forças Aéreas do México, índia e Grécia, sendo que sete último pais utilizou o modelo em missões reais durante a ofensiva da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Líbia em 2011.
O próximo desafio é o KC-390, o maior avião ja projetado no Brasil. Após um contrato de desenvolvimento assinado entre FAB e EMBRAER em 2009, o projeto já ganhou parcerias de Portugal, República Tcheca, Chile e Argentina, todos já dispostos a adquirir unidades. Em 20I2, a BOEING, dos Estados Unidos, também assinou convênio com a EMBRAER para ajudar na comercialização do jato de transporte. O primeiro voo do KC-390 está previsto para 2014 e as primeiras entregas devem acontecer em 2016.
Ficha Técnica Aeronave leve de ataque, de reconhecimentoarmado e cobertura na tarefa de interdição; ataque escolta, interceptação e patrulha aérea de combate, na tarefa de superioridade aérea; controle aéreo avançado, na tarefa de sustentação ao combate. Versões Monoposto e Biposto |
Fabricante
Velocidade Máxima
Envergadura
Comprimento |
Armamento 2 metralhadoras .50" M3P (12,7mm) da FN Herstal, além de 4 pontos duros sob as asas e 1 sob a fuselagem Equipamentos Forward Looking Infrared (FLIR) |
SUPER TUCANO EM AÇÃO
Ataque de precisão
A cena parece um jogo de vídeo game: uma lista negra aparece em destaque e, de repente, enormes manchas aparecem na tela. Feitas a partir de um sistema de visualização por infra–vermelho, chamados pela sigla FLIR (do inglês Forward Looking Infrared), as imagens mostram a operação real de bombardeio de urna pista clandestina na região amazônica. O ataque aconteceu em agosto de 2011 e foi realizado às três horas da manhã por quatro A-29 Super Tucano da Força Aérea Brasileira. Cada A-29 lançou duas bombas de 230 Kg. o suficiente para impedir que a pista de 1.400 metros de comprimento voltasse a ser utilizada para atividades ilícitas na região de fronteira. Além dos sistemas de navegação precisos o suficiente para sobrevoar a Amazônia em plena madrugada, onde praticamente não há referências visuais, os pilotos da FAB puderam utilizar na missão tecnologias como óculos de visão noturna (Night Vision Googles- NVG) e computadores, que calculam automaticamente a hora certa de atirar para acertar° alvo.
De acordo com Tenente-Coronel Ricardo Assis, Comandante do Esquadrão Escorpião (1º/3º GAV), de Boa Vista (RR), o SuperTucano pode cumprir muitas das missões que poderiam ser realizadas por caças a jato, porém de forma mais econômica. "As características de precisão. Baixo x custo de manutenção e de operação fazem desta, uma das aeronaves com o melhor custo-benefício de sua classe no mundo", diz.
Defesa continental
Fronteira tio Brasil com a Bolívia, quase horário do por do sul. Um avião monomotor entra ilegalmente no espaço aéreo brasileiro voando a apenas 5oo metros de altitude. Para surpresa do piloto irregular, dois A-29 aparecem e ordenam que o piloto entre em contato, mude sua rota e pouse em Cacoal (R0), onde seria interrogado pelas autoridades policiais. O estrangeiro se recusa a cumprir as ordens e reduz a sua altitude para 100 metros. A tensão aumenta. Após autorização vinda de Brasília (DF), o piloto de caça brasileiro faz um tiro de aviso com suas metralhadoras. Desesperado, o infrator musa sua aeronave em uma estrada de terra na zona rural de Alta Floresta d'Oeste (RO). Os Super Tucano, então, sobrevoaram a área até a chegada da Policia. Dentro da aeronave boliviana foram encontradas 176kg de pasta base de cocaína, o que poderia render mais de 800kg da droga. Dois dias depois, o traficante foi preso.
Esta missão real aconteceu no dia 03 de junho de 2009, e não foi a única do tipo. A partir de 1994, os aviões Tucano foram baseados próximos à fronteira para se contrapor à ameaça das aeronaves de pequeno porte que tentam invadir o espaço aéreo brasileiro. A partir dc 2005, os Super Tucano chegaram nessas Bases na fronteira.
De acordo com o comandante do Escorpião, para interceptar aeronaves de pequeno porte, mais lentas, o Super Tucano é melhor que caças supersônicos. "Aeronaves como o F-5 e Mirage quando têm que acompanhar as manobras feitas por aeronaves que voam em baixas velocidades são como peixes fora d'água", explica.
"VENDA FORTALECE O BRASIL"
Em entrevista à Aerovisão, o Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), Tenente–Brigadeiro-Ar Aprígio Eduardo de Moura Azevedo, ressalta a importância desta aeronave na formação dos pilotos de caça, no desenvolvimento tecnológico e da indústria de segurança e defesa, além do papel estratégico na fronteira continental de Brasil.
Aerovisão – Qual é o papel do Super Tucano, hoje, na Força Aérea Brasileira?
Ten Brig. Azevedo – É a espinha dorsal do intenso programa de treinamento avançado dos nossos Pilotos de Caça, sob encargo da Primeira Força Aérea, na Base Aérea de Natal. Noutra via, no âmbito da Terceira Força Aérea, principalmente na área de atuação das Unidades Aéreas que conformam o "cinturão de controle" das linhas fronteiriças do Centro-Oeste e do Norte, configura-se como vetor de combate aos descaminhos das organizações criminosas transnacionais. Fortalece a capacidade de emprego da Força Aérea na luta diuturna contra o contrabando de armas e o tráfico de drogas- flagelo do século XXI que atormenta as famílias e a sociedade como um todo. Nesse cenário, o Super Tucano tem-se mostrado como destemido combatente, elegante nos traços aerodinâmicos, preciso e seguro em suas investidas, um audacioso guerreiro a serviço do Estado brasileiro.
Aerovisão – O que representa a venda dessa aeronave para nove países, incluindo os Estados Unidos?
Ten Brig. Azevedo – Incontestável reconhecimento da capacidade – criativa e inovadora – da Força Aérea, pois foi o Estado-Maior, ouvidos todos os atores envolvidos com o tema, que produziu os requisitos originadores dessa fantástica aeronave. Agrega-se, nesse pensamento, a nossa indústria aeronáutica e de defesa, que aceitou o desafio do desenvolvimento e produção da aeronave. É um atestado de credibilidade, de confiança, que fortalece a presença do Brasil na cena internacional. Também constitui-se em motivo de júbilo para aqueles que, movidos à energia da teimosa persistência, desde os precursores como Casemiro Montenegro Filho (criador do ITA) e Ozires Silva (fundador da EMBRAER), acreditaram e construíram o pujante parque industrial aeronáutico no Pais. Seguramente, ainda há muito caminho a percorrer, contudo, sem ufanismos inconsequentes, se torna possível vislumbrar um belo futuro pela frente. O sucesso além-fronteiras do Super Tucano, inequivocamente, emoldura esse contexto. Que o céu seja o limite!
Aerovisão – Como o senhor avalia a integração do Comando da Aeronáutica com a indústria de defesa nacional?
Ten Brig. Azevedo – Sinérgica, sólida, responsável e profícua, comprovando-se por um consistente plano de carga colocado na cadeia produtiva do setor, que se reflete no significativo montante de recursos orçamentários, na rubrica investimentos, afixados para a contratação de projetos estratégicos na indústria nacional. Nos últimos 10 anos, tais valores alcançaram a expressiva cifra de quase RS 10 bilhões. Estes dados representam exuberante sinal de confiança na capacidade das empresas de produtos de defesa, que trabalham com tecnologia de ponta, capital intensivo, investindo a risco, aprimorando a competitividade, lançando-se a novos desafios, enfrentando obstáculos e conquistando importantes espaços nos mercados interno e externo. Por isso, de vital importância para os eventos da Copa do Mundo2014 e Jogos Olímpicos 2016, desde já, dentre outros, a Força Aérea pode contar com as frotas dos F-5M, dos A-1M, dos E-99 (vigilância) e R-99 (monitommento) e, por último, mas não menos relevante, na verdade uma jóia preciosa nesse conjunto, os Super Tucano, cujas asas juntaram-se, em harmonioso voo, àquelas que protegem o Pais.