Sempre que é registrado um acidente de avião, os usuários desse tipo de transporte são lembrados dos perigos relacionados a essa atividade. A possibilidade de problemas mecânicos e erros humanos torna voar sempre um risco, mesmo que o avião seja, ainda assim, um dos meios de transporte mais seguros.
Mas nem sempre a queda de uma aeronave se deve ao que acontece no céu – às vezes, o problema é o que está lá embaixo.
No mundo da aviação comercial, há regiões que são reconhecidas como zonas arriscadas para se voar por causa da possibilidade de os aviões serem derrubados por armas utilizadas em conflitos.
Essas regiões voltaram a ganhar destaque depois do que ocorreu há uma semana, quando um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, caiu no leste da Ucrânia, uma área disputada entre forças do governo e separatistas pró-Rússia. A suspeita é de que a aeronave tenha sido abatida por um míssil.
Desde então, devido à ofensiva movida por Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, e a resposta palestina – com mísseis disparados contra o território israelense –, empresas aéreas cancelaram voos para a região.
Por fim, nesta quinta-feira, um avião de passageiros caiu no norte da África com 116 pessoas a bordo. Embora não se saiba ao certo o motivo, a região onde a queda ocorreu foi até recentemente palco de enfrentamentos entre tropas malinesas e insurgentes islâmicos.
A BBC preparou abaixo uma lista com algumas dessas áreas tidas como as mais perigosas para a aviação civil.
Ucrânia e o trauma do MH17
De acordo com o governo ucraniano, apoiado por relatórios de inteligência do governo dos EUA, o MH17 foi abatido por um míssil.
Depois da queda, na última quinta-feira, do voo MH17 da Malaysia Airlines, a FAA estendeu a proibição que já existia desde abril, de voar sobre a Crimeia, até o leste da Ucrânia. Já a AESA recomendou "evitar o espaço aéreo de Simferopol e usar rotas alternativas disponíveis".
Segundo relatos iniciais do governo ucraniano, baseados em relatórios de inteligência do governo dos EUA, o MH17 foi destruído por um sofisticado míssil lançado por um sistema terra-ar, aparentemente um BUK, fabricado pela Rússia.
Isso ocorreu enquanto o avião estava voando a uma altitude de cerca de 10 mil quilômetros sobre o leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia.
Entre 50 e 60 países têm um sistema de mísseis de grande altitude controlados por radar como o que pode ter afetado o Boeing 777, disse John Pike, diretor da GlobalSecurity.org, site de informações militares, à agência de notícias Associated Press.
Líbia: Mísseis menores, mas eficazes
Mas os protagonistas do conflito na Ucrânia não são os únicos com tecnologia para derrubar um avião.
Os lançadores de mísseis portáteis ou sistemas de defesa aérea portáteis (Manpads, na sigla em inglês) são armas menores, mas eficazes e muito mais fáceis de transportar.
Um desses mísseis pode atingir um avião a uma altitude de até 4,5 mil metros. Muitos são carregados no ombro, e treinar um homem para lançar um dele é questão de horas.
Um dos principais focos deste tipo de perigo é a Líbia.
Em Trípoli, a capital, milícias armadas que têm esses lançadores portáteis estão disputando o controle do principal aeroporto do país.
De acordo com um relatório do Departamento de Estado dos EUA, "a situação de segurança na Líbia permanece imprevisível e instável." A Autoridade Aérea dos EUA proibiu qualquer forma de voo sobre o território líbio, e a recomendação é que nenhum cidadão americano viaje ao país.
E, após a queda do ex-líder Muammar Khadafii, importantes peças de artilharia, incluindo sistemas de defesa aérea portáteis, foram distribuídos por toda a região do Sahel no norte da África. A área está localizada entre o deserto do Saara no norte e a savana do Sudão no sul, com o oceano Atlântico a oeste e o Mar Vermelho a leste.
De acordo com um relatório da ONU de março deste ano, lançadores líbios foram distribuídos para áreas de conflito em Chade, Mali, Tunísia e Líbano.
Ao sul do Saara, a região do Mali pode ser agora um novo potencial ponto de perigo para a aviação, refletindo a possibilidade de que o acidente da Air Algerie, que caiu nesta quinta-feira, tenha sido derrubado. No entanto, não havia, até a tarde desta quinta (hora de Brasília) nenhuma indicação de que isso tenha acontecido.
Iraque, Síria e Oriente Médio
O conflito interno na Síria e no Iraque recrudesceram com o avanço de grupos islâmicos radicais.
No Oriente Médio, a guerra civil generalizada na Síria e os recentes acontecimentos no Iraque, depois da tomada de regiões por grupos islâmicos radicais como o Estado Islâmico – anteriormente conhecido como ISIS – tornaram a fronteira entre os dois países uma área que várias companhias aéreas preferem evitar.
"Nenhuma parte da Síria deve ser considerada a salvo da violência", diz um comunicado do Departamento de Estado dos EUA.
"Há um risco significativo para as operações de voos civis na Síria", disse um relatório da FAA, instituição que também proibiu voos americanos comerciais ou de carga a menos de 20 mil pés (6.096 metros) de altura pelo Iraque.
Outras regiões que "representam uma ameaça para a aviação dos EUA" na área, de acordo com a agência, são a Península do Sinai, no Egito, o Irã, o Iêmen e, na Ásia Central, o Afeganistão.
Em decorrência do atual conflito entre palestinos e israelenses, Israel também passou a ser considerado zona de risco.
Nesta terça-feira, a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) proibiu companhias aéreas americanas de voar para o aeroporto de Tel Aviv, após um foguete aparentemente disparado por palestinos cair perto do aeroporto Ben Gurion.
Após as autoridades americanas anunciarem a medida, a Agência Europeia da Segurança Aérea (EASA, na sigla em inglês) emitiu uma circular em que "recomenda enfaticamente que usuários do espaço aéreo se abstenham de operar no Aeroporto Internacional de Tel Aviv Ben Gurion."
Algumas companhias aéreas europeias, como Lufthansa, Air France e KLM, cancelaram voos.
Milícias, guerrilhas e conflitos civis na África
A FAA proíbe voos comerciais no norte da Etiópia e alertou aviões para não pousarem em Mandera, no Quênia, a poucos quilômetros da fronteira da Etiópia com a Somália.
Este último país tem também uma proibição parcial pela FAA: voos comerciais não podem voar a menos que 20 mil pés (6.096 metros) de altura, dada a instabilidade e conflito interno somali.
Outro país que tem aviso sobre potencial ameaça é o Congo, depois que, em 1998, rebeldes usaram um lançador de foguetes, o SA-7, para derrubar um avião que transportava 40 civis. Todos morreram.
Coreia do Norte: Testes de mísseis sem aviso prévio
Outro país em que há recomendação de evitar os céus é a Coreia do Norte.
O líder norte-coreano Kim Jong-un geralmente inspeciona pessoalmente os locais de onde os mísseis são lançados.
A FAA proíbe os operadores de voo de entrar no espaço aéreo de Pyongyang em determinada longitude.
No entanto, após os testes de mísseis mais recentes feitos em março deste ano pelo governo norte-coreano, a agência advertiu: "A Coreia do Norte tem um histórico de lançamentos de mísseis de alcance curto e médio sem aviso prévio", e por isso recomendou evitar toda a região.