Francisco Góes
A britânica Rolls-Royce está entusiasmada com o Brasil, nas palavras do presidente mundial da empresa, John Rishton. "As oportunidades aqui são enormes", disse Rishton. Em abril, ele completa um ano como presidente da empresa, conglomerado que, em 2011, faturou 11,3 bilhões de libras (US$ 16,9 bilhões). A empresa, listada na Bolsa de Londres, vive um bom momento apesar da crise na Europa e mercados emergentes como o Brasil já respondem por cerca de metade da carteira de encomendas que, no fim do ano passado, situava-se em 62,2 bilhões de libras.
O otimismo com o Brasil relaciona-se com as atividades da indústria de petróleo e gás no mar. As áreas de energia e marítima tendem a ganhar fatia maior nos negócios do grupo no país nos próximos anos. Esses são dois setores em que a empresa atua globalmente. Os outros são aviação civil, no qual a empresa também está bem posicionada no Brasil e no mundo, e a área de defesa.
A aviação civil representa cerca de 50% das vendas globais da empresa e é um segmento no qual a companhia se beneficia pela enorme demanda por novas aeronaves. A área marítima responde por 20% das receitas globais do grupo; defesa por outros 20% e energia, 10%. No Brasil, a área de energia pode chegar a representar 25% a 30% das receitas da empresa dado o potencial de negócios com o petróleo.
Um dos planos da Rolls-Royce no país, onde vai investir US$ 200 milhões entre 2012 e 2013 em projetos ligados ao pré-sal, passa por ampliar a unidade de São Bernardo do Campo (SP) para fazer manutenção de turbinas de conjuntos de geração de energia usados em plataformas de petróleo. Hoje essa unidade faz reparos e manutenção de turbinas de avião e de motores industriais menores.
A Rolls-Royce vai também construir uma unidade, no Rio, para montar e fazer testes de conjuntos de geração para o setor de petróleo e gás. Está prevista ainda uma segunda unidade, no mesmo local, no bairro de Santa Cruz, zona Oeste do Rio, para fazer montagem e testes de sistemas de propulsão para a área marítima, além da instalação de um centro de treinamento de última geração. A primeira unidade vai começar a operar, no começo de 2013, e já tem programada a montagem de 32 conjuntos de geração de energia acionados por turbinas a gás para uso em plataformas da Petrobras, um contrato potencial de mais de US$ 650 milhões.
Quando esses conjuntos entrarem em operação e cumprirem o número de horas necessárias para serem revisados, as turbinas poderão ser separadas e levadas para São Bernardo para passarem por manutenção. A empresa não informa o valor da expansão. A data para ampliação da unidade do ABC paulista também não está fechada: pode ser em 2016 ou 2017, quando começarão a entrar em manutenção os novos conjuntos encomendados pela Petrobras, ou antes, a partir de 2013, se houver decisão de fazer no país a manutenção de geradores fornecidos pela Rolls-Royce que operam em plataformas da estatal.
Todo esse investimento se relaciona com a exigência de conteúdo local do governo brasileiro. "O Brasil é muito competitivo em algumas áreas, mas não é competitivo em outras, como ocorre em qualquer lugar", disse Rishton. E acrescentou: "Mas se, simplesmente, tivermos um percentual de conteúdo local e precisarmos continuar a usar algumas dessas áreas nas quais o Brasil não é competitivo significa que, em termos gerais, será difícil exportar." Para o país ser bem-sucedido nessa área é preciso desenvolver a cadeia de suprimentos.
A Rolls-Royce identificou que precisará colocar no Brasil profissionais do grupo para ajudar os fornecedores. A empresa conta com 20 pessoas, incluindo engenheiros, no Rio e em São Paulo, para auxiliar os fornecedores. A compra da alemã Tognum, fabricante de motores diesel, no ano passado, na gestão de Rishton, pode ajudar a alavancar ainda mais o negócio da Rolls-Royce no Brasil. A Tognum, adquirida meio a meio pela empresa britânica e pela Daimler, tem operações no Brasil e produtos que são complementares aos da Rolls-Royce.
Francisco Itzaina, presidente da Rolls-Royce na América do Sul, disse que a compra da Tognum pode ajudar a mais do que duplicar os negócios do grupo na região em dez anos. Em média, a empresa fatura cerca de 450 milhões de libras por ano na América do Sul, número que poderá chegar a 1 bilhão de libras em dez anos. Globalmente, a empresa inglesa também espera dobrar as vendas em uma década. Há dez anos, os negócios da Rolls-Royce eram metade do que são hoje. A carteira era de 17 bilhões de libras ante os atuais 62,2 bilhões de libras.
Para Rishton, o bom momento da empresa no mundo – as ações se valorizaram quase 38% desde o fim de fevereiro de 2011 até ontem – é reflexo da demanda nos diferentes segmentos nos quais a companhia atua e da natureza de longo prazo do negócio da Rolls-Royce, que a faz ficar menos exposta a situações de crise como a vivida em várias regiões desde 2008.