Roberto Godoy
O Estado de São Paulo
Matéria Publicada originalmente em 14 Dezembro 2018
O submarino S-41 Humaitá pode muito – quando estiver operando, vai disparar torpedos de 533 mm, lançar mísseis com alcance de 200 km, depositar minas e transportar times de forças especiais, combatentes de elite liberados debaixo d'água prontos para entrar em ação. É o segundo de uma classe de quatro navios de 2,2 toneladas, 76 metros de comprimento e quatro andares de altura, todos em construção no complexo de Itaguaí, um conjunto de 520 mil m² em instalações avançadas no litoral sul do Rio.
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O primeiro, o S-40 Riachuelo, foi recebido pela Marinha em dezembro de 2018. Há pouco menos de um mês, em agosto, começou a fazer as provas de mar, um duro ciclo de ensaios que vai se estender até o segundo semestre do ano que vem. Na sexta-feira, dia 11, o presidente Jair Bolsonaro vai ao estaleiro da Ilha da Madeira para participar da cerimônia de integração final das cinco seções que compõem o S-41.
Submarino S-41 Humaitá
Os outros dois, o S-42 Tonelero e o S-43 Angostura, vão ser comissionados em 2021 e 2022. Antes disso, em setembro de 2020, será a vez do Humaitá, que entrou agora na fase final de produção e montagem. É possível que no futuro próximo seja definido um aumento dessa flotilha, com a contratação de mais duas unidades.
"Essa é uma decisão política que depende de uma só condição: haver dinheiro, simples assim" disse ao Estado um oficial integrante do Almirantado. Iniciado em 2008, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) é o principal elemento de dissuasão naval do País. É caro. Em 2029, quando deverá finalmente entrar na água o primeiro submarino de propulsão nuclear, de 6 mil toneladas e 100 metros, a conta vai bater nos R$ 37 bilhões.
O investimento faz sentido. O Brasil projeta seu interesse estratégico por 4,5 milhões de km² ao sul do Oceano Atlântico, uma área quase do tamanho da Europa Ocidental por onde circulam 95% dos bens envolvidos no comércio exterior. Desse espaço, saem ainda 91% do petróleo e 73% do gás natural nacionais.
O submarino Humaitá, que está prestes entrar na fase final de construção no Rio de Janeiro Foto: Alex Ribeiro/Estadão
Um mapeamento preliminar e até certo ponto secreto, indica a localização de extensas reservas de metais como o manganês, essencial no desenvolvimento de aços finos. Há também evidências de novas províncias petrolíferas além dos campos do Pré-Sal. "É a parcela dos oceanos sobre a qual temos responsabilidades, direitos e deveres", diz o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior.
A tecnologia escolhida pela Marinha é francesa, dos submarinos Scorpéne, que usam motores diesel-elétricos e uma forte carga digital e eletrônica de quarya geração O processo de transferência de conhecimento sensível é amplo. No navio atômico, último do pacote binacional contratado, a participação da engenharia do Naval Group está limitada às partes não nucleares.
O projeto original dos quatro modelos convencionais sofreram alterações em benefício do conforto dos 31 tripulantes regulares e da capacidade de alcance. A "Versão Br", uma denominação informal, é cerca de 10 metros mais longa que a da especificação de catálogo. E ganhou peso, chega perto das 2,2 mil toneladas.