Programa Nuclear da Marinha do Brasil
Artigo da página da MB
ABRANGÊNCIA DO PROGRAMA
Nos últimos 23 anos a Marinha do Brasil vem aplicando recursos e pessoal em um programa nuclear cujo principal objetivo é o domínio, por parte dos institutos de pesquisa e da indústria nacional, de todo o vasto espectro tecnológico necessário para que a nação esteja capacitada para projeto e construção de reatores de potência e de combustíveis para esses reatores.
Tal feito permitirá ao país explorar, para uso próprio ou para exportar com valor agregado, uma fonte de energia que existe em abundância em nosso território. Nossas reservas de urânio são de tal monta que, com apenas 30% do território prospectado, o país é a quinta maior reserva mundial. Possuir tamanha riqueza e não saber processá-la seria pior do que ter petróleo e não saber refiná-lo.
O domínio dessa tecnologia, que não é repassada por aqueles que a detêm, permite ao país ter uma alternativa energética para a crise internacional que se anuncia para o início deste século ou, caso haja outra saída viável, vendê-la no mercado internacional. Além disso, seriam criadas condições para que, no futuro, havendo decisão de governo para tal, possa ser dado início à elaboração do projeto específico e à construção do Submarino Nuclear – S(N), de valor estratégico inquestionável, principalmente para o Brasil, que possui enormes interesses econômicos a preservar e a defender no mar.
Além do exposto, cabe ser mencionado que o desenvolvimento e a absorção das tecnologias envolvidas transcendem a aplicação militar, sendo, na verdade, do interesse do Brasil, tal o seu poder de arrasto nos diversos campos de suas possíveis aplicações. Desse modo, o entendimento da MB é que o Programa Nuclear, hoje em execução, não é unicamente da Marinha, mas sim do país, motivo pelo qual deveria receber aportes financeiros de outras fontes, e não somente do orçamento da Força, como vem acontecendo já há alguns anos.
DIFICULDADES ATUAIS
Até hoje foram aplicados, no programa, um bilhão de dólares e faltam cerca de duzentos milhões de dólares para a sua conclusão, que conforme já demonstrado não cogita a construção de submarinos nucleares. Dependendo do fluxo de recursos (que não podem ser exclusivamente do orçamento desta Força), o PNM poderia estar concluído em 2010.
No entanto, com o atual orçamento da Marinha, nem mesmo os custos fixos do programa (mão de obra e custeio), da ordem de cinqüenta milhões de reais, estão podendo ser alocados, tornando inviável sua manutenção ou seu término. Isso nos força à indesejável dispensa de pessoal, abrindo mão de conhecimentos e experiências acumuladas ao longo de anos de trabalho árduo.
Considerando a falta de recursos no orçamento da Marinha, que não está podendo disponibilizar mais do que quarenta milhões de reais, seria necessário um aporte adicional de recursos da ordem de quarenta milhões de reais anuais para concluir o programa em 2010.
O PROGRAMA
O PNM é dividido em dois grandes projetos: o Projeto do Ciclo do Combustível e o Projeto do Laboratório de Geração Nucleo-Elétrica (LAB-GENE).
No Projeto do Ciclo do Combustível, foram iniciados, ao final da década de 70, os estudos para desenvolver no Brasil a tecnologia da separação isotópica do urânio (enriquecimento), principal barreira tecnológica para a fabricação de combustível nuclear. Os primeiros resultados foram obtidos em 1982, quando foi construída a primeira ultracentrífuga com condições de fazer a referida separação.
Seis anos depois, foi inaugurada a primeira cascata de ultracentrífugas para a produção contínua de urânio enriquecido. Essa tecnologia já está dominada e, como resultado, a MB está construindo ultracentrífugas para que a INB (empresa responsável pela produção de combustível para Angra I e II) possa executar no país o enriquecimento que tinha que contratar na Alemanha. À exceção da conversão, cuja Usina de Hexafluoreto de Urânio – USEXA está em fase final de construção, as demais etapas do ciclo do combustível (reconversão, fabricação de pastilhas, fabricação de elementos combustíveis e a capacidade para projetar o próprio combustível) também já estão dominadas e em operação.
Em paralelo ao Projeto do Ciclo do Combustível, mas com alguma defasagem no tempo, foram iniciados os estudos relativos ao Projeto do LAB-GENE, buscando o desenvolvimento e a construção de uma planta nuclear de geração de energia elétrica, totalmente projetada e construída no país, inclusive o reator. Essa instalação servirá de base e de laboratório para qualquer outro projeto de reator nuclear no Brasil. As obras de montagem dessa instalação estão em andamento.
Todavia, o desenvolvimento de uma tecnologia desse porte não se faz sem o investimento considerável de recursos financeiros e humanos. Assim, ao longo dos quase vinte e cinco anos de existência, o PNM custou cerca de um bilhão de dólares, sendo considerado, pela imprensa especializada e os meios acadêmicos/ científicos, um dos mais econômicos de todos os projetos nucleares já realizados. Cita-se como exemplo, o Projeto Manhattan (norte-americano), cuja grande dificuldade foi dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio (já desenvolvida pelo PNM), e que consumiu, na primeira metade da década de 40, dois bilhões de dólares, que hoje equivaleriam a cerca de vinte e cinco bilhões de dólares.
A tecnologia de enriquecimento de urânio é conhecida e aplicada, comercialmente, por apenas sete países, além do Brasil, a saber: EUA, França, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, Japão e Holanda. Desses países, os dois primeiros utilizam a difusão gasosa, que é considerada obsoleta pois consome vinte e cinco vezes mais energia do que a tecnologia de ultracentrifugação, empregada pelo Brasil e os demais países. A título de informação, é possível verificar-se no site da USEC (empresa norte-americana que enriquece urânio para utilização nos diversos reatores que lá existem) que é intenção daquela firma realizar o enriquecimento por ultracentrifugação, a partir de 2010.
Cabe ser mencionado que existe uma diferença marcante entre a tecnologia de ultracentrifugação desenvolvida no Brasil e aquela utilizada pelos outros cinco países. O rotor da ultracentrífuga desenvolvida nesses países gira apoiado em um mancal mecânico, enquanto o rotor desenvolvido no Brasil gira levitando por efeito eletromagnético, o que reduz o atrito e, em conseqüência, os desgastes e a manutenção. Não existem informações de que algum outro país tenha desenvolvido essa tecnologia.
Nesse ponto, a fim de possibilitar o perfeito entendimento do que representa o PNM, em termos de desenvolvimento tecnológico para o Brasil, apresenta-se uma longa série de atividades executadas em seu bojo: formação/aperfeiçoamento de pessoal; compra de equipamentos e construção de diversos tipos de laboratórios, incluindo um reator nuclear de pesquisa; projeto, construção e testes de todos os equipamentos que compõem a planta de geração; projeto e construção de ultracentrífugas; projeto e construção de usinas de transformação de "yellow cake" em hexafluoreto, de reconversão, e de fabricação de elemento combustível; incremento tecnológico de várias oficinas de fabricação de diferentes tipos de peças, incluindo válvulas de alto vácuo, inexistentes no Brasil; desenvolvimento de vários tipos de materiais, antes importados, como o aço "maraging" e a fibra de carbono; além de uma infinidade de projetos que, desenvolvidos pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, em parcerias com universidades, institutos de pesquisa e a indústria nacional, trouxeram ao país elevado ganho em tecnologia e qualidade.
Como resultado desse grande esforço nacional, temos capacidade de projetar e fabricar o próprio combustível, sem nenhuma dependência externa, e o conhecimento para projetar e construir plantas nucleares de potência, que custam no mercado internacional acima de três bilhões de dólares cada