Sergio Barreto Motta
Primeira Linha
Um importante interlocutor da construção naval – que não quis ser identificado por estar a polêmica sobre conteúdo local a nível de Presidência da República – afirma que a denúncia de que obras destinadas ao Brasil foram transferidas para a China é vista como fator incidental: “É como se um restaurante, eventualmente, comprasse comida pronta em um concorrente para atender a demanda extra. Não afeta a posição do primeiro”, diz.
Ao receber o Dragão do Mar, da Transpetro, Dilma Rousseff lembrou que Lula resolveu tirar teias de aranha dos estaleiros, em 2003, e agora o setor conta com 80 mil empregados diretos e previsão de 100 mil em 2017. Em seguida, um jornal paulista denunciou que, enquanto cantava loas ao conteúdo local, o Brasil passou para a chinesa Cosco diversas plataformas. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, Alex Santos, citou que, enquanto a P-74 está na antiga Ishibrás – estaleiro Inhaúma, no Rio – passará para a China a P-75, 95% da P-76 e metade da P-77.
Dilma aproveitou seu programa semanal de rádio para esclarecer a questão. Não negou as obras na China – sequer as citou – mas garantiu que o conteúdo local está mantido. E lembrou, de forma sarcástica, que, ao fim do último Governo FHC, os estaleiros tinham apenas 7.465 empregados, a maioria usada para realizar pequenos reparos de emergência; como se um hospital não fizesse mais operações, mas mantivesse alguns enfermeiros no pronto-socorro, apenas.
A fonte admite que tem havido atrasos. No Inhaúma, por exemplo, os trabalhadores da construção civil, que em geral recebem apenas 1/3 dos R$ 2.500 de piso da construção naval, interromperam a reconstrução do estaleiro por longos períodos. Todos sabem que o pernambucano Atlântico Sul ficou alguns meses sob intervenção branca, até retomar os trabalhos. No Sul, a Engevix repassou parte da P-68 para a China. E há problemas em diversas regiões, inclusive com o estaleiro de Eike Batista no Norte fluminense.
Conclui a fonte: “Na gestão de FHC, a Transpetro lançou o programa Navega Brasil, que implicou a encomenda de zero navio no país. Agora, os estaleiros estão cheios, há novos investidores chegando, e o panorama é excelente. O envio de obras para a China mostra deficiências localizadas da construção naval e atende à pressa da Petrobras. Mas nem de longe afeta, pelo menos até agora, a política de se dar prestígio à indústria local”