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Os 60 anos de uma força diferenciada

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Marcos Ommati

A manhã da quarta-feira, dia 15 de fevereiro, foi agitada no Comando da Divisão Anfíbia do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil (CFN). Além dos preparativos para a cerimônia de comemoração dos 60 anos da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), que seria realizada no dia seguinte, uma notícia importante chegou aos ouvidos dos militares presentes ao local: dois assaltantes que tentavam roubar uma moto – sendo um deles armado – foram surpreendidos por uma patrulha de Fuzileiros Navais. Na fuga, um deles atirou contra os militares e acabou sendo baleado, vindo a falecer no local.

Os fuzileiros patrulhavam a região em cumprimento às orientações e procedimentos para atuação na Operação Carioca, que entrava em seu segundo dia nos principais bairros do Rio de Janeiro, além dos municípios de Niterói e São Gonçalo. A atuação das tropas federais foi autorizada pelo presidente Michel Temer após pedido do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão.

“Desculpe ter interrompido nossa conversa, mas é fundamental neste momento dar todo o apoio necessário ao militar que fez o disparo em legítima defesa”, explicou o Vice-Almirante Fuzileiro Naval Alexandre José Barreto de Mattos, atual comandante da FFE que, no momento em que soube do ocorrido, concedia uma entrevista à Diálogo. “É importante manter o moral da tropa elevado e que eles saibam que o almirantado está aqui para apoiá-los em momentos como este.”

Garantia da lei e da ordem

O patrulhamento das ruas cariocas pelos Fuzileiros Navais, considerada uma operação de garantia da lei e da ordem, assim como outras missões como a participação nas ações de segurança da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016, conta com o envolvimento fundamental da FFE. “Nós temos um órgão de adestramento muito intenso que prevê a preparação do nosso pessoal, desde o nível mais baixo, para estes tipos de operações. Isso obedece a um ciclo de adestramento e a parte principal desse ciclo nós chamamos de eixo central do adestramento”, contou o V Alte Alexandre que, no dia anterior à entrevista à Diálogo, tinha sido promovido a Almirante-de-Esquadra e será, em breve, o comandante-geral do CFN.

Um pouco de história

Para entender o escopo da participação da FFE nestes tipos de operações, é preciso um pouco de história. O CFN nasceu como uma brigada dentro da Marinha de Portugal, em 1808, e foi constituído como a tropa anfíbia que foi acompanhando a família real portuguesa que, fugindo de Napoleão Bonaparte, seguiu para o Brasil naquele mesmo ano.

Depois da Guerra de independência do Brasil, também em 1808, a Marinha portuguesa permaneceu em solo brasileiro, e os atuais Fuzileiros Navais foram então chamados de soldados marinheiros. “Como tudo ainda era muito incipiente no país, foram enviados oficiais da Marinha do Brasil (MB) para visitas, estágios e cursos nas principais organizações de Fuzileiros Navais estrangeiras, principalmente junto ao Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, os famosos Marines”, esclareceu o Contra-Almirante José Luiz Corrêa da Silva, comandante da Tropa de Reforço da FFE.

“Os fuzileiros navais do Brasil e dos Estados Unidos estabeleceram, ao longo dos anos, uma forte e duradoura relação. Há décadas, ambas as Forças têm intercambiado experiências e conhecimento”, concordou o Contra-Almirante Kevin M. Iiams, comandante da Força do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, Sul.

Com o passar dos anos, houve a necessidade de se criar uma força moderna, que permitisse o emprego de tropas de desembarque em cenários de operações anfíbias. E foi assim que, em 1957, alguns homens, usando barracas como local de trabalho e utilizando equipamentos ultrapassados, porém com um romantismo quase cinematográfico, deram início ao que tempos mais tarde se transformaria no principal braço operativo do CFN: a FFE.

“Ao mesmo tempo, foram adquiridos os navios-transporte e as embarcações de desembarque que passaram a integrar o treinamento e operação dos recursos humanos, ajudando a consolidar uma mentalidade de operações anfíbias na Marinha do Brasil”, contou o Contra-Almirante Fuzileiro Naval César Lopes Loureiro, atual comandante da Divisão Anfíbia dos Fuzileiros Navais, que também foi promovido recentemente e substituirá o V Alte Alexandre no comando da FFE.

Durante muitos anos o comandante-geral do CFN acumulou ambas as funções, chefiando também a FFE. Em 1981, com a promoção de um almirante fuzileiro a quatro estrelas pela primeira vez, tudo mudou. O Almirante-de-Esquadra (FN) Domingos de Mattos Cortez passou a comandar o CFN e transferiu o cargo de comandante da FFE ao Vice-Almirante (FN) Carlos de Albuquerque. Houve então a separação do comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais, que passou a ser um membro do almirantado, grupo subordinado diretamente ao comandante da Marinha, para seu assessoramento, e criou-se um setor de Comando-Geral. Esse setor de Comando-Geral cuida dos recursos humanos, da parte de material e da doutrina de emprego dos Fuzileiros Navais brasileiros.

Setor operativo da MB

“A FFE, na verdade, foi criada para ser a Força de Fuzileiros de UMA esquadra, não DA Esquadra, pois existia a intenção da Marinha do Brasil de ter outras esquadras, como daqui a alguns anos deve ocorrer”, disse o C Alte Luiz Corrêa. “Então, a FFE é uma tropa de Fuzileiros Navais com a sua organização, e que está à disposição do comandante de operações navais, ou seja, já estamos falando do setor operativo da Marinha, que é capacitado para fazer operações anfíbias e planejar, executar e controlar a realização de uma operação anfíbia. É a única força, dentro das Forças Armadas brasileiras, com essa capacidade, em termos de pessoal preparado para isso, material especificamente comprado para esse fim e a doutrina especificamente de emprego em operações anfíbias nas suas seis modalidades”, completou.

Em seu discurso durante a cerimônia de comemoração dos 60 anos da FFE, realizada no Comando da Divisão Anfíbia, dia 16 de fevereiro, o V Alte Alexandre disse: “A FFE, juntamente com suas Forças Subordinadas, a Divisão Anfíbia e a Tropa de Reforço, externa a conjuração de uma tropa especializada não limitada às Operações Anfíbias, mas uma tropa pronta para qualquer missão designada pela MB, podendo ser empregada em múltiplas atividades, sempre respondendo aos anseios da sociedade brasileira. E continuou: “Passaram-se sessenta anos desde que o presidente Juscelino Kubitscheck assinou o decreto de criação da FFE mas, apesar de um passado glorioso, as forças não são estáticas nem em seu caráter expedicionário, nem na sua visão de futuro. Vislumbramos sempre o horizonte em buscas de novos desafios.”

“O sexagésimo aniversário da FFE é uma excelente oportunidade para se refletir e celebrar o quanto é importante essa nossa parceria naval para o sucesso de nossos corpos de fuzileiros navais. Aproveito para desejar um feliz aniversário aos meus amigos Fuzileiros da FFE," concluiu o C Alte Iiams.

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