Roberto Godoy
A OrbiSat, empresa de alta tecnologia aeroespacial, está lançando no Salão de Aeronáutica de Le Bourget, em Paris, o primeiro radar de sensoriamento remoto embarcado em um veículo aéreo não tripulado (Vant) de pequeno porte.
Segundo o presidente da OrbiSat, Maurício Aveiro, o sistema é o primeiro do mercado internacional a operar na banda P – isso significa que, em voo sobre áreas de mata fechada, o equipamento "enxerga" eletronicamente debaixo da copa das árvores. Assim, a leitura permite saber a altura da cobertura vegetal, o desenho do relevo e a constituição do solo. O mapeamento envolve a coleta de outras informações, como o perfil geológico e do microclima.
A empresa vai oferecer inicialmente apenas os serviços, usando um Vant, turboélice, construído pela Aeroalcool, de Franca, a 400 km de São Paulo. O conjunto aviônico é da AGX, de São Carlos, 233 km distante da capital. A OrbiSat faz parte da Embraer Defesa e Segurança.
Maurício Aveiro estima o mercado interno imediato em cerca de R$ 25 milhões. "A demanda externa, todavia, é bem maior, pode chegar a R$ 100 milhões", afirma. Ainda assim, a operação é de baixo custo, "significativamente inferior à contratação do mesmo levantamento por meio de satélites especializados", sustenta Aveiro.
De olho na selva. A empresa está acumulando experiência na operação por sensoriamento remoto. Contratada pelo Comando do exército, executa o projeto Cartografia da Amazônia, que implica na produção de imagens e dados em uma área equivalente à da Europa Ocidental.
O conjunto do Sarvant vai trabalhar em espaços menores – fazendas, hidrelétricas, reservatórios, reservas ambientais, glebas agrícolas, campos de mineração, plataformas de petróleo e pontos de interesse estratégico para a Defesa. "Em outro viés, o radar será útil em missões pontuais de patrulha, ou ainda, de busca e salvamento em florestas", diz.
A aeronave tem autonomia de 10 horas e pode mapear 500 km², na escala 1:5.000, em um só voo.
O Sarvant, pronto para decolagem, pesa pouco mais de 140 quilos. A fuselagem, compacta, não passa de 3,2 metros de comprimento. A asa é extensa, tem seis metros de envergadura. Velocidade: 200 km/hora.
Embraer no comando. A Embraer Defesa e Segurança assumiu, em março, o controle da OrbiSat da Amazônia S/A. Pagou R$ 28,5 milhões por 64,7% do capital social da divisão de radares da companhia, que tem previsão de faturamento estimada em R$ 50 milhões até dezembro, acredita Luis Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa. Criada em 1998, a OrbiSat mantém instalações em Manaus, São José dos Campos e Campinas. No total, as fábricas nas três praças empregam 250 técnicos.
A organização desenvolveu e está construindo para o Exército nove radares digitais de campo M60 Saber. O Comando da Aeronáutica está estudando a aquisição de mais quatro. O equipamento permite detectar e seguir, simultaneamente, 40 alvos aéreos em um raio de 60 quilômetros, na altitude de até 5,2 mil metros. Cheio de possibilidades, o M60 é capaz de apontar helicópteros pairando no ar , caças em voo rasante e objetos em deslocamento lento, na faixa de 32 km/ hora.
O radar pode trabalhar integrado a uma rede de 12 diferentes armas. Exigência do projeto, o Saber precisa de três soldados para ser montado e de 15 minutos para entrar em operação.
Funciona assim: identificados os alvos, as informações são levadas por um programa do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Sisdabra). Os dados transmitidos em tempo real mostram a localização dos veículos aéreos inimigos, diferenciados por tipo – helicópteros, aviões, mísseis ou foguetes. Da mesma família, a OrbiSat projeta o M200, com alcance de 200 km.
PARA ENTENDER
O Ministério da Defesa e os três comandos das Forças Armadas correm contra o calendário para resolver uma das equações mais complexas e menos discutidas entre os requisitos de segurança da Copa 2014 e Olimpíada 2016.
O País precisa apresentar seu plano de defesa contra ataques terroristas – aéreos, principalmente. Potências como os EUA e a Alemanha ameaçam não vir ao Brasil se o esquema não for convincente. Não é só. A garantia de reservas naturais, do espaço e das fronteiras, depende de um programa conjunto, combinando caças da Força Aérea, artilharia do Exército e mísseis terra-ar da Marinha.
Atrasado por causa de sucessivos cortes e contingenciamento de recursos, o segmento da Força Terrestre é o que exige mais cuidados. Nesse viés é que entram os sistemas produzidos pela OrbiSat, como os radares antiaéreos Saber M60, já em fase de entrega, e M200, ainda na etapa de projeto.
Trata-se de recursos tecnologicamente avançados, O governo tem recebido ofertas de fornecedores estrangeiros. Fabricantes chineses, italianos e franceses entregaram propostas.