Na década de 1960, os aviões se pareciam muito pouco com as modernas aeronaves que cruzam o céu atualmente. Sistemas de navegação computadorizada não existiam e cada voo transportava, no máximo, poucas dezenas de pessoas — com a segurança dependendo, quase que exclusivamente, da habilidade dos pilotos. Se, nos últimos 50 anos, a aviação passou por uma verdadeira revolução, os fabricantes de aeronaves estão preparando outra leva de novidades para reescrever a história do setor. O design deve se tornar mais orgânico, os derivados de biomassa devem substituir a querosene como principal combustível da aviação e o já conhecido como “mais seguro meio de transporte” deve se tornar ainda menos perigoso.
Em uma feira de aviação, no mês passado, a Airbus, uma das três maiores fabricantes de aviões de todo o mundo, apresentou suas apostas sobre como será a aviação comercial em 2050. A empresa acredita que, daqui a 40 anos, a relação dos passageiros com o avião terá, mais uma vez, mudado drasticamente.
A principal mudança deve ser o desenvolvimento de novos materiais, que substituirão o alumínio e a fibra de vidro, principais componentes atuais das aeronaves. “Foram pesquisadas mais de 10 mil pessoas ao redor do mundo, que serão passageiros em 2050. Pedimos que eles opinassem o que querem do setor da aviação no futuro”, contou Charles Champion, chefe dos engenheiros da Airbus. “A mensagem obtida foi clara: precisamos ajudar tantas pessoas quanto possível a terem acesso aos benefícios que o transporte aéreo garante, mas precisamos conseguir isso respeitando o meio ambiente”, completa.
Por isso, a aposta dos engenheiros da empresa é de aeronaves mais silenciosas e com sistemas estruturais baseados na própria natureza, inspiradas pelos pássaros, cujos ossos não são rígidos, como os dos humanos, mas uma espécie de estrutura porosa.
Os engenheiros criaram um novo conceito de Airbus, em que a tradicional lataria seria substituída por um sistema inteligente de metal, estruturado como uma teia, por onde os equipamentos passariam. A economia de espaço prevê janelas e portas maiores, além de paredes revestidas de membranas com a capacidade de ficarem transparentes, possibilitando uma vista panorâmica do céu durante o voo (veja infografia). “São apenas sonhos do engenheiros, ideias, mas o protótipo oferece um vislumbre de algumas das possibilidades muito reais de que tipo de coisas a tecnologia existente e talento podem oferecer — com o investimento certo, apoio e cooperação”, completa Champion.
Para superarem o desejo dos consumidores que querem aviões mais ecológicos, os laboratórios das grandes fabricantes também trabalham em um tradicional problema aéreo: o combustível. Atualmente, o mais utilizado é o querosene. Derivado do petróleo, ele não é renovável, além de altamente poluente. “A grande complexidade de se desenvolver uma alternativa é a de que ela precisa ser compatível com os atuais sistemas dos aviões. Não dá para adaptar milhares de aeronaves ou criar novas estruturas de abastecimento com o novo combustível”, explica Guilherme de Almeida Ferreira, diretor de Estratégias e Tecnologias para o Meio Ambiente da Embraer, fabricante nacional de jatos e aviões comerciais, terceira maior produtora de aeronaves do mundo.
Segurança
Apesar do obstáculo técnico, algumas alternativas já surgem como candidatas a novo combustível da aviação. “Uma das possibilidades, que vem principalmente da Ásia, é o uso de um combustível derivado do gás natural, semelhante ao que já existe para veículos”, conta. A outra aposta, mais limpa e renovável que o gás, é o HJ. “Trata-se de um primo do biodiesel feito de oleoginosas, como o pinhão-manso. A sua viabilidade depende, no entanto, da disponibilidade em grande escala da planta que serve de matéria-prima, hoje limitada”, completa o especialista em combustíveis para a aviação. Ele acredita que a novidade estará disponível em cinco anos.
Se a perspectiva para os próximos anos é voar com mais conforto e de maneira mais limpa, a segurança é um dos aspectos que não podem ficar de fora quando o assunto é aviação. Um dos problemas mais antigos da aviação e que permanece com soluções arcaicas é o do controle de objetos na pista. Pequenas peças, animais e manchas de óleo sujam e ameaçam os locais de pouso e decolagem. À primeira vista, isso pode parecer um problema pequeno, mas as consequências podem ser catastróficas. Basta recordar o acidente envolvendo um jato supersônico Concorde, em 2000, que explodiu depois que uma peça solta na pista estourou os trens de pouso, que jogaram borracha dentro do tanque de combustível, causando sua explosão e matando 113 pessoas.
Atualmente, para livrar as pistas da sujeira, é preciso, de tempos em tempos, fazer uma varredura visual no asfalto e retirar, manualmente, os objetos que porventura não deveriam estar ali. Pesquisadores do Instituto Fraunhofer de Física de Alta Frequência e Técnicas de Radar, da Alemanha, criaram um sistema que localiza objetos, identifica o que são e, quando necessário, avisa aos operadores do aeroporto.
“Dispositivos instalados ao longo de toda a pista analisam continuamente a superfície, detectando até mesmo o menor dos itens, tais como parafusos”, explica o pesquisador Helmut Essen, um dos líderes do desenvolvimento do aperelho, equipado com câmeras de infravermelho, câmeras ópticas 2D e 3D e sensores de radar em rede. “No entanto, o sistema só irá emitir um aviso se um objeto permanecer na pista por um longo período de tempo. Um saco plástico trazido pelo vento ou um pássaro descansando brevemente não vão acionar o alarme”, conta.