Rosenildo Gomes Ferreira
No mapa-múndi da americana Gulfstream Aerospace Company, a sigla Bric, que reúnes os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China, ganha cada vez mais relevância em sua estratégia. Mas é no primeiro dessa lista que a fabricante de jatos executivos, que fatura cerca de US$ 3,5 bilhões por ano e é controlada pela gigante General Dynamics Company, vem alçando voos cada vez mais altos.
Desde 2009, as vendas da companhia mais que dobraram no Brasil, passando de 14 unidades para 33 unidades. Parece pouco. Afinal, o País tem uma frota estimada de cerca de 1.225 jatos executivos, segundo a Associação Brasileira de aviação Geral (Abag). As aeronaves da Gulfstream, contudo, são comercializadas por valores entre US$ 15 milhões e US$ 64,5 milhões. São "brinquedinhos" destinados para quem tem bastante dinheiro em caixa. Esse valor, no entanto, não assusta os novos bilionários locais.
O Gulfstream 650 (G650), principal aposta da corporação desde 2001, já conta com encomendas de dez brasileiros. A empresa não revela, mas comenta-se no mercado que a lista inclui o homem mais rico do Brasil, Eike Batista, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, e o cantor mais popular do País, Roberto Carlos.
Com o novo jato, a Gulfstream espera colocar o segmento de jatos executivos em outro patamar. A aeronave é capaz de percorrer, sem escala, o trajeto São Paulo-Moscou. O projeto, que consumiu cerca de US$ 400 milhões em investimentos, deverá colaborar com US$ 16 bilhões para o caixa da empresa, em um período de dez anos.
O superjato custa em torno de US$ 60 milhões, dependendo dos acessórios de conforto (poltronas que se transformam em cama e chuveiro, por exemplo) e de funcionalidade (estações de trabalho dotadas de internet via satélite, fax e sistema de entretenimento que pode ser comandado por iPhone). "O G650 foi desenhado para empresários e gestores que atuam de forma global", disse à DINHEIRO Roger Sperry, vice-presidente de vendas internacionais da Gulfstream.
Desde que assumiu o cargo, em agosto de 2010, Sperry tem viajado pelo mundo para promover essa aeronave e os outros seis integrantes do portfólio da Gulfrstream. No Brasil, ele desembarcou no final de maio, onde passou cerca de 24 horas. Tempo suficiente para se reunir com clientes e visitar a subsidiária. O País vem crescendo de importância nos planos da companhia.
Não apenas por deter a segunda maior frota de jatos executivos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 20 mil unidades, mas, principalmente, porque as grandes corporações locais sustentam um forte processo de internacionalização. "Não fabricamos apenas aeronaves, mas escritórios sobre asas que permitem aos executivos e empresários manter sua rotina de trabalho enquanto eles se deslocam", afirma Sperry.
Outros indicadores também corroboram suas expectativas positivas. No final de abril, todos os estandes para a edição 2011 da Latin America Business Aviation Conference and Exhibition (Labace), que acontece em agosto, já tinham sido comercializados. "Trata-se de um recorde nos oito anos de realização da feira", afirma Ricardo Nogueira, presidente da Abag. Pelas contas de Nogueira, a Labace deverá gerar negócios em torno de US$ 550 milhões, um incremento de 10% em relação a 2010. "O crescimento vem se mantendo nesse patamar nos últimos quatro anos."
Apesar disso, nem tudo é céu de brigadeiro na trajetória da Gulfstream. O acidente, ocorrido em abril, em Roswell, nos Estados Unidos, com uma aeronave de testes da família G650, lançou uma nuvem de incertezas sobre o projeto. O temor é de que a empresa atrase a entrega das primeiras 200 encomendas, prevista para a partir de janeiro. Hipótese descartada por Sperry. "O episódio está sendo investigado pelas autoridades da área e pela empresa", diz ele. "Lamentamos o ocorrido, mas isso não altera em nada os planos de crescimento da companhia."