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A missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo começou a utilizar drones para monitorizar a atividade de grupos rebeldes nas zonas de fronteira com o Uganda e Ruanda, numa medida considerada inédita.
Os primeiros dois drones, explica a BBC, foram lançados a partir da cidade de Goma, que durante o último ano chegou a estar ocupada pelos rebeldes do M23, também denominado por Exército Revolucionário Congolês. Porém, outras milícias continuam em atividade e as Nações Unidas consideraram que esta poderia ser uma forma pacífica de controlarem a situação.
Uma das principais suspeitas está em que as milícias consigam abastecer-se nos países vizinhos — uma situação que a ONU quer travar. Tanto o Uganda como o Ruanda têm negado as acusações de Kinshasa de apoio aos rebeldes do M23, derrotados por 22 mil efetivos das forças das Nações Unidas, mas as suspeitas permanecem.
O responsável da ONU pela missão no Congo, Herve Ladsous, garantiu à BBC que os drones são “veículos aéreos desarmados e não tripulados”, pelo que não têm qualquer objetivo de confronto, sendo apenas uma ajuda para “ter uma melhor imagem do que está acontecendo”. Se o instrumento se mostrar útil e bem-sucedido, Ladsous não descarta que esta experiência seja expandida em outros países.
Os drones vão apenas sobrevoar território congolês, já que não há autorização para operar nos países vizinhos. Nos próximos meses, as Nações Unidas esperam contar com mais três equipamentos: um até ao fim de Dezembro e dois até ao final de Março de 2014. O alcance é de 250 quilometros a partir da base.
O ministro da Defesa do Congo, Alexandre Luba Ntambo, também citado pela BBC, congratulou-se com a novidade, considerando que será uma preciosa ajuda no trabalho do exército contra os rebeldes. “Quando soubermos exactamente onde é que se estão a esconder, as nossas operações serão muito mais eficientes”, defendeu.
A missão pacífica com drones é a segunda notícia na mesma semana de uma utilização diferente para este polemico instrumento, depois de na segunda-feira a Amazon ter anunciado que está a preparar um sistema de entregas com recurso a drones e que demorará apenas meia hora a chegar ao cliente após a encomenda online.
Conflito de dois anos
O confronto militar entre o exército do Congo e as milícias do M23 durou quase dois anos. Desde o início do conflito, em Abril de 2012, que mais de 800 mil pessoas abandonaram as suas casas. O movimento M23 está ligado ao Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), uma milícia armada que já tinha enfrentado o exército do país em 2006.
A 23 de Março de 2009, data que deu o nome ao movimento rebelde, o CNDP assinou um acordo de paz com Kinshasa, transformando-se em partido político e integrando a sua facção armada no exército. No início de 2012, os membros do CNDP no exército congolês organizaram um motim contra as más condições e os baixo salários que recebiam. De acordo com alguns especialistas, a verdadeira razão para a rebelião do CNDP foi a promessa do Presidente congolês, Joseph Kabila, de julgar o antigo líder rebelde Bosco Ntaganda. Posteriormente, Ntaganda entregou-se à embaixada norte-americana no Ruanda e espera julgamento em Haia pelo Tribunal Penal Internacional.
Desde então, o M23 tentou estabelecer um domínio militar na região do Kivu Norte, na fronteira com o Uganda e o Ruanda. Foi para o nordeste do Congo que várias milícias hutus, responsáveis pelo genocídio, em 1994, de 800 mil tutsis no Ruanda, terão fugido. O Governo tutsi de Kigali tem, desde então, apoiado várias frentes armadas, entre as quais o M23 – composta maioritariamente por tutsis – para combater os hutus que ainda permanecem na região.
Contudo, este conflito poderá ter sido diferente. Uma das razões para a derrota do M23 deverá ter sido o reduzido apoio do Ruanda, pressionado pela comunidade internacional. Os EUA, um dos maiores contribuintes para o orçamento militar do Ruanda, diminuíram o apoio dado, acusando o Governo de Kigali de apoiar os rebeldes congoleses.
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