A Base Aérea de Campo Grande (BACG) sediou nos dias 27 e 28 de junho o seminário sobre a atividade de Busca e Salvamento (SAR) e Busca e Salvamento em Combate (CSAR). O objetivo foi manter os militares das Forças Armadas do Brasil integrados nos aspectos doutrinários sobre o assunto para facilitar operações conjuntas. O evento foi uma realização do Ministério da Defesa por intermédio do Estado-Maior das Forças Armadas (EMCFA) e coordenado pela Força Aérea Brasileira.
Foram abordados temas como Sistema de Busca e Salvamento Aeronáutico Brasileiro (SISSAR), coordenado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), utilização de helicópteros em operação SAR e CSAR, técnicas de salvamento em combate entre outros. “A realização desse seminário dá a capacidade de operação conjunta.
A doutrina utilizada em missões CSAR necessitada de uma coordenação bastante grande entre os meios envolvidos. No seminário, nós temos a oportunidade de discutir e buscar sempre melhorar essas ações de resgate”, explica o Comandante da Segunda Força Aérea (II FAE), Brigadeiro do Ar Roberto Ferreira Pitrez.
O evento contou com a participação dos militares da Marinha, Exército e Aeronáutica envolvidos com atividades de busca e salvamento. “Como parte integrante desse sistema nós temos que estar aptos e em condições de participar seja como um resgatado, seja compondo uma equipe de resgate SAR. É muito importante atualizar as doutrinas e as evoluções de como o Ministério da Defesa esta tratando sobre o assunto”, afirma o Comandante do Terceiro Batalhão de Aviação do Exército, Tenente-Coronel Emerson Alexandre Januário.
“O compartilhamento de conhecimento é maior ganho de um evento como esse. Quando todo mundo que faz parte desse conjunto de aeronaves que participam de missões CSAR sabem o que outro vai fazer e o que um espera, é muito mais fácil de cumprir a missão”, afirma o Comandante do Esquadrão Poti (2º/8º GAV), Tenente-Coronel Rodrigo Gibin Duarte. O militar explica que em ações de CSAR os helicópteros AH-2 Sabre, operados pelo esquadrão, atuariam como aeronaves de escolta.
Palestrantes da Colômbia e Estados Unidos dividiram as experiências que tiveram em missões de combate, em conflitos internos e internacionais, ou em equipamentos que já estão em combate no cenário mundial. Os militares também assistiram à palestra sobre a aeronave multimissão V-22 Osprey, fabricada pela Boeing/Bell, que possui características de decolagem de helicópteros e voo de avião (Tiltrotor). Também foram apresentados equipamentos para salvamento, equipamentos táticos para os homens de resgate e as aeronaves.
FAB – Saiba quem são os homens de resgate
A virada do ano de 2008 para 2009 marcou a carreira do Sargento Vinicius de Souza Amorim Cruz. Um avião que vinha de Minas Gerais para o Rio de Janeiro colidiu em um morro no município de Vassouras (RJ). “Desci no guincho e constatei que a família inteira (pai, mãe e filha) estava em óbito. Preservamos o local e fizemos o recolhimento das vítimas fatais”, recorda-se o Sargento Amorim.
Essa foi a primeira missão do militar como resgateiro em uma missão de busca e salvamento. Assim como o Sargento Amorim, do efetivo do Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, conhecido como PARA-SAR, muitos outros militares são especializados na atividade de salvar vidas e servem em diversas unidades da FAB espalhadas por todo o País. Eles não se consideram heróis, mas sim pessoas bem preparadas para o cumprimento da missão. E, para isso, passam por um curso específico, denominado Curso SAR, de pelo menos três meses em ambientes de montanha, selva e mar.
No ambiente de montanha, os militares têm treinamento, por exemplo, de rapel e tirolesa . Na etapa de mar, são realizadas várias oficinas e atividades práticas sobre mergulho livre, operações com motor de popa e técnicas de resgate na água, chamada kapoff, um método inglês de içamento. Essa fase inclui um exercício de sobrevivência no mar.
“O objetivo é proporcionar aos alunos um ambiente exato como se fosse um naufrágio ou uma amerrissagem forçada . O homem de resgate aqui nesta situação desenvolve, principalmente, atributos da parte cognitiva. Eles têm a noção exata de como fica a cabeça de uma pessoa numa situação de emergência como essa”, explica o Capitão de Infantaria Igor Duarte Fernandes, um dos coordenadores do curso.
Na última etapa do curso, em ambiente de selva, os alunos têm instruções sobre peconha, técnica utilizada para subir em árvores utilizando meios naturais; construção de abrigos, armadilhas de caça e pesca, e obtenção de fogo. “Além de servir para aquecer e preparar os alimentos, o fogo é fundamental para a sinalização, a fim de que os sobreviventes possam ser resgatados. Por isso, esse conhecimento é de extrema importância para o homem de resgate", afirma o Sargento Roscivaldo Borges Bentes, instrutor da matéria no Curso SAR.
No exercício de sobrevivência, em ambiente de selva, os militares permanecem cinco dias isolados na mata fechada. Todo esse know-how é importante para que os resgateiros estejam preparados para atuar em casos de acidentes aéreos e situações como catástrofes naturais, e ajudar a população brasileira. O sargento Sampaio Júnior, instrutor das atividades de montanha no Curso SAR 2014, atualmente passa o que aprendeu no dia a dia como homem de resgate. Sua primeira atuação, ainda como aluno, foi no acidente da aeronave Gol 1907, ocorrido em 2009. De lá para cá participou também em ajudas humanitárias como nas enchentes em Pernambuco, em 2010.
“Lembro-me que retiramos muitas pessoas de cima dos telhados com guincho. Além disso, também transportamos alimentos e medicamentos para as pessoas que estavam ilhadas”, recorda-se o militar. “Gosto muito da minha atividade. Acho que para ser um resgateiro é preciso, antes de tudo, estar disposto a colocar a sua vida em risco para salvar a de uma pessoa que nem conhecemos. A isso, é necessário somar o domínio de várias técnicas, aprendidas no curso. Quando a gente vê a gratidão da população com o nosso trabalho, ficamos ainda mais animados”, complementa o instrutor.
Acionamento
Os acionamentos dos homens de resgate não têm hora para acontecer. Em 2010, o Suboficial Roberto Emílio Tassinari foi acionado às 23h30min. Às 2h30min da manhã, estava descendo no guincho do helicóptero do H-1H com a tripulação do Esquadrão Pantera (5º/8º Grupo de Aviação) para salvar uma família. Pai, mãe e uma garota de 11 anos estavam ilhados por causa das cheias do Rio Jacuí, no Rio Grande do Sul.
“Estava uma escuridão muito grande e só se via a ponta das casas. Pedimos então que as pessoas piscassem a luz da casa para podermos identificá-las. Descemos e a água já estava na altura da cintura”, relembra o Suboficial Tassinari. “Eles estavam isolados e como a água subia rapidamente, algo mais grave poderia ter acontecido. Mas no final deu tudo certo”, complementa.
Com 30 anos de profissão, sendo 22 só na área de resgate, o militar contabiliza cerca de 1,7 mil horas de voo. Participou, entre outras, de operações nas enchentes de Santa Catarina (2008) e no Espírito Santo (2013). No fim do ano, o Suboficial deixa o serviço ativo com a certeza de que cumpriu a missão.
“Para quem lida com resgate é muito gratificante poder salvar uma vida. É essa a nossa tarefa. A vivência nessa área me tornou uma pessoa melhor. Quando a gente vê o sorriso de uma criança que ajudamos, não precisa de mais nada”, avalia o militar.