Nota DefesaNet
Ao final do segundo semestre de 2012 o prórpio Alm Greenert notificou aos seus comandados a mudança de estratégia aagora voltada ao Pacífico.
ESTRATÉGIA – Quando um Oceano inteiro é pequeno demais
Os movimentos de duas Potências Mundiais em um cenário de turbulências econômicas, como isso modela o futuro de suas Forças e que lições o Brasil pode tirar dos recentes episódios
DefesaNet 26 Novembro 2012 Link
O Editor
CHEFE DE OPERAÇÕES NAVAIS DA US NAVY VISITA
INSTALAÇÕES DA MB
Por Wayne dos Santos Lima
Especialista em assuntos de Defesa Nacional, Segurança Pública
A Visita
Durante todo o dia 16 de janeiro de 2013, o Chefe de Operações Navais da Marinha dos EUA, Almirante-de-Esquadra Jonathan W. Greenert, maior autoridade militar da US Navy, esteve no Rio de Janeiro, como parte de sua visita oficial ao País, reunindo-se com autoridades da Marinha do Brasil (MB) para tratar de questões comuns às duas Forças Navais.
Durante a visita, na parte da manhã, o Almirante Greeenert, acompanhado do Comandante da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto, esteve em Itaguaí (RJ) onde conheceu as obras da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM) e do Estaleiro e Base Naval (EBN) de Submarinos, onde será construído o Submarino com propulsão nuclear brasileiro (SNB), marco maior do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da MB.
Na parte da tarde, a comitiva norte-americana seguiu para o Comando da Divisão Anfíbia (DIVANF), no Complexo Naval da Ilha do Governador (RJ), onde assistiu, junto com a imprensa especializada, a uma demonstração de um Assalto Anfíbio, de um Resgate de Piloto Abatido pelo Grupo Especial de Retomada e Resgate (GERR), culminando com o desfile de um Grupamento Operativo de Fuzileiros navais, nível Unidade Anfíbia, devidamente sobrevoados pelo VANT brasileiro Carcará.
Quase no final da tarde, foi realizada a entrevista coletiva com a participação dos comandantes de amas as marinhas.
A Entrevista Coletiva
O Almirante Moura Neto, inicia agradecendo a presença de toda a imprensa especializada durante a visita do Almirante-de Esquadra Jonathan W. Greenert ao DIVANF, no Complexo Naval da Ilha do Governador, cidade do Rio de Janeiro (RJ), a qual, segundo o Comandante da Marinha do Brasil, só demonstra “o enorme relacionamento entra a Marinha do Brasil e a Marinha dos EUA”.
Por sua vez, o Almirante Greenert declara ser uma honra retornar ao Brasil e estar novamente diante de seu admirável colega brasileiro, o Almirante Moura Neto. Lembrou que em quatro anos, esta é a terceira vez que se reúnem, visando estreitar os laços de amizade e cooperação entre as duas marinhas.
Como de praxe, o Comandante norte-americano, lembrou que tanto as Marinhas do Brasil e dos EUA, quanto os próprios governos dos dois países vem trabalhando alinhados desde a 2ª Guerra Mundial, visando prover segurança e estabilidade não apenas no Oceano Atlântico, mas também em outras partes do mundo, atuando conjuntamente, neste momento, no Golfo Árabe.
Neste momento o Almirante Moura Neto explica que durante sua última reunião foram assinados dois Memorandos de Entendimento visando a troca de oficiais entre as instituições, sendo um o ajuste dos procedimentos para os oficiais de ligação entre as duas marinhas e o outro regula os oficiais de intercâmbio, ou seja, como serão enviados oficiais brasileiros para treinamento nos EUA e vice-versa.
O Almirante Greneert continua, mencionando que também discutiram sobre operações com submarinos e operações anfíbias, além de operações táticas e segurança marítima, sendo desta forma, um leque bem abrangente de áreas o que desejam atuar juntos. Após enfatizar que esta visita também reforçou a amizade pessoal que mantém com o Almirante Moura Neto, o Almirante Greenert encerrou sua fala, agradecendo novamente a presença da imprensa especializada no evento.
Ao passarmos para as perguntas, coube ao DefesaNet a oportunidade da primeira pergunta e, considerando o que já havia sido dito a respeito das parcerias, reuniões e documentos assinados por ambas as marinhas, bem como o tema recorrente sobre a reativação da 4ª Frota, decidimos abrir o debate com uma pergunta simples e direta sobre qual seria o grau de importância que o Almirante Greenert atribuía a Marinha do Brasil para a segurança do Atlântico Sul.
O Chefe de Operações Navais da US Navy então nos respondeu que seria, em sua opinião e entendimento, de “Grau Máximo ou de Total Importância”, uma vez que tanto o governo do Brasil, quanto a Marinha do Brasil são quem possui a melhor visão e o melhor entendimento dos problemas desta região, não sendo possível assim se pensar na segurança do Atlântico Sul sem a participação e cooperação da armada brasileira.
Questionado sobre quais seriam os programas da US Navy a serem afetados pelos cortes no orçamento de defesa norte-americanos e se havia algum planejamento ou tratativa de se enviar meios navais em processo de desativação daquela força para a MB, como já ocorrera em outras ocasiões, Greeenert lembrou que os cortes ainda não haviam sido feitos, mas estavam em vias de ocorrer. Desta forma estaria trabalhando diretamente com o Secretário de Defesa e o Secretário da US Navy de forma a encontrar um equilíbrio entre os navios que a marinha norte-americana possui hoje e os navios que pretendem construir para o futuro.
Ressaltou ainda que precisava se certificar de terem total capacidade para atenderem a estratégia de defesa dos EUA, além de manterem a capacidade de estar em qualquer parte do mundo, onde o povo americano achar que fossem necessários.
O Almirante Greenert destacou ainda que sua maior preocupação, seriam os recursos humanos, ou seja, investir na capacitação e aprimoramento de profissionais aptos às tomadas de decisão e atuação na área, afirmando que quaisquer que sejam os recursos do orçamento, ainda assim eles terão a melhor marinha que o dinheiro possa comprar, devendo essa quantia atender aos interesses da estratégia de defesa norte-americana e do povo dos EUA.
Quanto à transferência de vasos de guerra para a MB, respondeu que embora não houvesse nada firmado, seria uma possibilidade, pois quando eles descomissionam seus navios de guerra, procuram sempre por governos e forças armadas aliadas, como a Marinha do Brasil, para efetuarem a transferência destes meios, considerando as necessidades da marinha em questão e os meios específicos a serem transferidos.
Em relação a tal tema, os comandantes das duas marinhas já estariam tendo algumas conversas, embora não tenha sido muito específico sobre em que nível estariam.
Novamente foi perguntada sua opinião, desta vez a respeito do Programa do Submarino Nuclear Brasileiro, tendo em vista o fato do mesmo haver visitado, tanto no dia anterior, quanto no período da manhã daquele mesmo dia, as obras da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM) e do Estaleiro e Base Naval (EBN) de Submarinos em Itaguaí (RJ).
O Chefe de Operações da US Navy respondeu então, haver ficado impressionado com as instalações inovadoras da MB e, particularmente com o esforço, determinação e grau de profissionalismo em pesquisa, desenvolvimento, treinamento e capacidade de construção da Marinha do Brasil.
Explicou ainda que, embora seja difícil para ele definir o grau de habilidade com que os profissionais brasileiros atuam, pois aquela não seria sua área de expertise, contudo, comoo militar, ficou realmente impressionado com o grau de profissionalismo e empenho dos brasileiros e sua capacidade de tocar o programa adiante, de tal forma que já teria conversado com o Comandante da Marinha do Brasil sobre formas de trocar experiências a respeito do tema.
Sobre críticas de alguns ramos da sociedade ao PROSUB, em específico ao SNB, o Almirante Moura Neto considerou que em um projeto de grande vulto como o da construção do 1° Submarino Nuclear Brasileiro, é absolutamente normal, principalmente em um país democrático como o nosso, que algumas pessoas se posicionem tanto contra quanto a favor.
O importante, ainda segundo Moura Neto, foi mostrar ao Almirante Greenert, através da visualização das novas instalações em Itaguaí, que a construção de nosso Submarino de Propulsão Nuclear é um projeto real e muito grande no qual o governo brasileiro está totalmente empenhado.
Todavia seja um projeto dificultoso, uma vez que se trate de uma tecnologia muito avançada e que apenas cinco países (EUA, França, Inglaterra, Rússia e a China) a dominam totalmente (com o Brasil e a Índia tentando, cada um de sua forma dominá-la) o Brasil deseja adentrar neste seleto grupo.
Lembrando, ainda segundo o Almirante brasileiro, que se trata de uma tecnologia nacional, pois na área de tecnologia nuclear ninguém repassa tal tecnologia, por ser um segredo de Estado e, se nós conseguirmos chegar lá, será uma grande vitória tecnológica da MB e do Brasil.
Destacou que a Marinha do Brasil tem orgulho de estar participando deste grande projeto, empenhando todos os esforços para vê-lo funcionar e reconhecendo o apoio na transferência de tecnologia que pudessem ser transferidas pelas nações aliadas e que auxiliaram no desenvolvimento do projeto.
Ao ser questionado novamente sobre a IV Frota, o Almirante Greeenert, agradeceu ao governo brasileiro e em especial a Marinha do Brasil por ajudar a explicar que a função da frota em questão é cooperar na segurança da região através de apoio humanitário, logístico, anti-terrorismo e anti-narcotráfico, só atuando quando solicitada e sempre cooperando com outros países.
O Almirante Moura Neto complementa que atualmente todas as marinhas percebem uma figura mundial que se chama “Maritime Domain Awareness”¹ (MDA), como a consciência que está ocorrendo nos mares, sendo a base desta MDA a cooperação entre as marinhas, respeitando as soberanias, os governos e as águas jurisdicionais.
Ainda segundo o Comandante da MB, todas as marinhas sabem que tem que cooperar umas com as outras, uma vez que o mar é muito grande e é impossível que apenas uma ou outra instituição tome conta de tudo, estando todas as marinhas perfeitamente conscientes, tanto que em diversas reuniões internacionais o tema recorrente é: “Como nós podemos aumentar esta cooperação, entre as marinhas?”.
Sendo necessário, para Moura Neto, que todos entendam que as marinhas hoje procuram cooperar entre si para exatamente fazer com que o mar seja uma área pacífica e segura. Por ser uma área muito grande, sem esta cooperação é impossível que qualquer estratégia ou política de segurança internacional ou regional funcione.
Por fim, lembrando que diversos navios, inclusive submarinos, brasileiros são enviados para os EUA para realizarem operações de Deployments capitaneados por navios da US Navy, foi questionado ao Almirante Greenert se haveria a possibilidade de navios da marinha norte-americana virem ao Brasil realizar o mesmo tipo de operação nas costas brasileiras, capitaneados por um navio da MB.
O Chefe de Operações Navais da US Navy respondeu que a possibilidade existe, bastando haver o desejo do governo do Brasil e da MB, ressaltando que tanto a US Navy quanto a MB vão onde são necessárias, devendo as duas instituições trabalharem sempre para manter esta cooperação entre as instituições. Destacou que atualmente as missões são, em via de regra, de Segurança Marítima e por isto deseja estreitar cada vez mais a cooperação e parceira com as marinhas da região.
O Almirante Greenert reafirmou a seguir que estaria sim à disposição para o Deployment ou outras operações com nossa marinha, respeitando a vontade e decisão do Governo e Marinha do Brasil.
A seguir o Comandante da Marinha do Brasil complementa dizendo que a MB está sempre buscando em seu planejamento conjunto com a US Navy atuar também conjuntamente com aquela marinha, sendo certo que, assim que houver uma oportunidade de se atuar com um Grupo Tarefa, normalmente capitaneado por um Porta-Aviões, realizando Deployment em águas brasileiras, tal será muito bem-vinda, embora destaque não haver nenhum planejamento neste sentido no momento.
O Almirante Moura Neto finaliza a entrevista coletiva destacando que a cooperação é o verdadeiro sentido de todo este trabalho e a cooperação passa por um ponto muito importante e no qual se vem trabalhando a bastante tempo que seria a troca de informações para que os sistemas de controle de tráfego marítimo falem entre si, permitindo que se saiba o que está acontecendo nas áreas de interesse e atuação conjunta das marinhas envolvidas.