Primeiro-Tenente (RM2-T) Luciana Santos de Almeida
Nações Unidas (ONU), representando o Brasil, foram homenageados hoje (30) em cerimônia militar conduzida pelo Ministério da Defesa, no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. Para quem não conhece o trabalho desses homens e mulheres conhecidos como “boinas azuis ou capacetes azuis”, eles são civis e militares – das três Forças – que levam segurança e tranquilidade para populações de países marcados por conflitos e tragédias.
A boina ou o capacete azul simbolizam a esperança e o compromisso do Brasil e de todos os países com a paz entre os povos. O Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, destacou em sua Ordem do Dia alusiva à data, a atual prontidão do Brasil no emprego em missões de paz. “Essa capacidade é materializada pela disponibilidade de recursos humanos e materiais das Forças Armadas certificados pela ONU, assim como pela excelência do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil e do Centro de Operações de Paz de Caráter Naval. O Brasil está apto a enviar contingentes militares para missões de paz, contribuindo para a projeção do país no cenário internacional”.
Em referência ao Dia Internacional dos Mantenedores da Paz, o Comandante de Operações Navais da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, destacou, em sua Ordem do Dia, o compromisso da Marinha em continuar preparando seus militares para atuarem na mitigação de conflitos onde se fizer necessário.
“É indubitável que as ameaças hodiernas (atuais) continuarão a pairar, cabendo aos peacekeepers a árdua tarefa de deixar a comodidade de seus lares para se desdobrarem em diferentes teatros de operação. O empenho no preparo físico, intelectual e tático permitirá ao Comando de Operações Navais permanecer em condição de pronto emprego onde quer que a política externa do Brasil assim determine”, reforça.
“Neste Dia Internacional dos Mantenedores da Paz das Nações Unidas, congratulo os integrantes da MB que, no passado e no presente, assinalaram elevado grau de prontidão. Ao mesmo tempo, concito que prossigam com honradez, profissionalismo e crença, garantindo ao País os meios de Poder imperiosos à mitigação dos conflitos e do sofrimento humano”, concluiu.
Para o Comandante do 7º Distrito Naval, Vice-Almirante Gilberto Santos Kerr, um dos Mantenedores da Paz presentes no evento, ter participado de uma missão de Paz da ONU foi muito importante, especialmente do ponto de vista profissional.
“Foi uma oportunidade de preparar o terreno para que a Força-Tarefa Marítima da UNIFIL chegasse no Líbano e pudesse conduzir bem os seus trabalhos. Além disso, foi um orgulho ter sido homenageado hoje numa cerimônia como essa, pois mostra que os peacekeepers e os militares da Marinha do Brasil são respeitados no mundo todo”, afirmou após desfilar.
O Terceiro-Sargento (FN-IF) João Antônio Ribeiro Monteiro, que em 2008 esteve em Missão de Paz no Haiti como soldado, e também desfilou no evento, afirmou que nenhum militar volta do mesmo jeito após uma missão de paz. “Em dias como hoje, nós conseguimos lembrar e valorizar ainda mais as coisas que temos nas nossas vidas, porque ganhamos experiência, crescemos como militares e pudemos ajudar nosso País a ser respeitado no mundo”, disse.
Dia Internacional dos Mantenedores da Paz
O Dia Internacional dos Mantenedores da Paz, estabelecido pelo calendário oficial da ONU, é celebrado todo ano, no dia 29 de maio. As Forças Armadas brasileiras estiveram presentes, nos últimos 74 anos, em 60 missões de manutenção da paz, enviando mais de 59 mil militares.
O Brasil encontra-se como membro ativo em observações de acordos de cessar fogo e paz já em 1933, quando, representado pela Marinha do Brasil, acompanhou a negociação entre Colômbia e Peru na Guerra pela região de Letícia. Batido o nazismo, enviou-se tropa para a fronteira grega, para atuar no Comitê Especial das Nações Unidas para os Bálcãs.
Militares brasileiros colaboraram como “boinas azuis” na crise do canal de Suez, África do Sul, Angola, Camboja, Chipre, Costa do Marfim, Croácia, El Salvador, Etiópia/Eritreia, Guatemala, Guiné-Bissau, Haiti, Iêmen, Índia-Paquistão, Irã, Iugoslávia, Líbano, Libéria, Macedônia, Moçambique, Nepal, Nicarágua, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República Dominicana, Saara Ocidental, Sérvia, Sudão, Timor-Leste e Uganda-Rwanda.
Relato de uma militar da Marinha do Brasil na Missão de Paz “MONUSCO” (África)
Para a Capitão de Corveta (T) Sabrina dos Passos Barbosa, que está participando da Missão de Paz “MONUSCO”, na República Democrática do Congo, “ter sido selecionada para contribuir, pelo Brasil, com aquele país é a realização de um sonho. Sempre almejei ter mais contato com o lado operativo das atividades militares”.
O papel da militar na missão está relacionado às atividades dos batalhões e operações no campo, principalmente pela necessidade de desenvolver o trabalho de “construção de confiança” junto à população local. “É recompensador perceber que o fato de ser brasileira e mulher facilita o trabalho que preciso desenvolver.
A imagem do Brasil é muito positiva e nas minhas atividades, confiança mútua é essencial”, destacou. A função que a Capitão de Corveta (T) Sabrina ocupa na Missão é de “FIB G9 Deputy Chief”, em que G9, na estrutura organizacional de Missões de Paz da ONU, significa Coordenação Civil Militar (CIMIC). Seu trabalho consiste em desenvolver atividades em conjunto com os componentes militar, policial e civil no que diz respeito a políticas, segurança, desenvolvimento humanitário, infraestrutura e diversas outras dimensões da missão.
“Também faz parte da minha atividade fomentar o alcance e acompanhar as relações de colaboração com as forças de segurança, autoridades e população locais. Dentro desse contexto, um dos aspectos mais importantes do meu trabalho é a proposição e o acompanhamento de projetos de impacto rápido para melhorar as condições de vida da população local, consistindo em construção ou reforma de pontes, escolas, hospitais entre outros meios e os projetos para redução da violência comunitária, como instalação de luz elétrica nas vias públicas e vilas”, detalhou.
Há quase quatro meses na missão, a experiência mais marcante, segundo ela, foi participar de uma operação de campo, cujos objetivos eram evitar que um grupo armado atacasse acampamentos de pessoas internamente deslocadas e recuperar o controle da região, devolvendo-a para as forças de segurança locais.
“Acompanhei o desenvolvimento da operação no campo e toda a movimentação de tropas no terreno e fiz contato com os líderes locais para pedir apoio para a operação. Além disso, visitei um hospital atacado e apoiei no seguimento ao projeto de reestabelecimento dessa unidade de saúde”, contou.
Diversidade cultural e apoio da família
A diversidade cultural é um dos pontos mais positivos de uma missão como esta. A Capitão de Corveta (T) Sabrina chegou na localidade em 16 de fevereiro deste ano e a previsão de deixar a missão é em fevereiro de 2023, portanto, passará cerca de um ano longe do Brasil e, consequentemente, da família.
“Conviver com tantos comportamentos e percepções diferentes faz com que eu questione muitas coisas e aprenda muito. Em um ambiente tão diverso estou convencida de que a chave para a solução de quase todos os problemas é o respeito mútuo. Deixar o meu País, onde eu conhecia todas as regras de convivência e me encontrar inserida em um ambiente multicultural não terá outro resultado a não ser fazer de mim uma pessoa melhor e mais consciente da importância das relações humanas”, refletiu.
A oficial afirma que grandes mudanças não são possíveis no curto prazo, e que, por isso, em um ambiente como este, onde a carência é extrema e os recursos são limitados, a perseverança e a força de vontade para que as coisas deem certo muitas vezes contam mais.
“Quero ir embora com a percepção de que a situação está melhor do que quando eu cheguei, principalmente considerando as minhas atividades. Espero, de fato, ter essa percepção quando chegar o dia de deixar esse país”, concluiu.