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KUSRK K-141 – Tragédia do Submarino Russo “Matador de Porta-Aviões”


Frederico Aranha
Pesquisador Independente

 

Advertência: tradução livre

O submarino russo KURSK sofreu duas violentas explosões e afundou no Mar de Barents, cerca de 50 km da costa, em 105 m de água, num ângulo vertical de 20º. Uma explosão rasgou a proa junto à torre de comando, abrindo uma brecha em toda a envergadura do casco (v. foto em Fontes de Consulta).

Ainda assim, 23 dos 118 tripulantes estavam vivos de acordo com anotação de um oficial sênior, o Tenente Capitão Dmitri Kolesnikov, registrada duas horas após a explosão inicial. Esforços desesperados de resgate por parte dos russos – a quem se juntaram equipes britânicas e norueguesas – falharam em salvar os sobreviventes.
 

 

Dmensões da Clase Oscar II comparado com a Los Angeles da US Navy.


Em 2000, um submarino russo projetado especialmente para afundar porta-aviões tornou-se vítima do seu próprio arsenal. O Kursk, armado com mísseis de cruzeiro, foi vítima da explosão de um torpedo detonado acidentalmente. Foi o pior desastre naval sofrido pela Rússia na era pós Guerra Fria.

Os porta-aviões americanos eram os grandes inimigos da União Soviética nos mares, pois com seus versáteis esquadrões aéreos poderiam frustrar os planos de guerra do Pacto de Varsóvia, realizando todo tipo de operações, desde escoltar comboios no Atlântico a bombardear bases da Frota Soviética do Norte no Círculo Ártico. Equipados com armas nucleares, esses grupos aéreos tornavam-se excepcionalmente letais para a região costeira soviética.

 A solução encontrada para neutralizar a ameaça dos porta-aviões foi a construção dos poderosos submarinos da classe Oscar. Um dos maiores submarinos jamais fabricado, media 155 metros de comprimento com uma envergadura de quase 20 metros. Deslocando 19.400 toneladas submergido, era maior do que os submarinos americanos  classe Ohio armados com mísseis balísticos intercontinentais. Eram grandes por uma única razão: cada Oscar carregava duas dúzias de mísseis de cruzeiro P-700 Granit.

Era um míssil enorme projetado para liquidar grandes navios; media 10 metros de comprimento e cerca de 1 metro de diâmetro; pesava cerca de 7.000 quilos, a maior fração correspondendo ao combustível para o motor ramjet que impulsionava o míssil a uma velocidade de Mach 1.6 a baixa altura ou Mach 2.5 em alta altitude, com alcance útil de 600 quilômetros. O míssil podia levar uma ogiva convencional de alto explosivo de 750 quilos, suficiente para danificar seriamente um grande porta-aviões, ou uma ogiva nuclear de 500 quilotons (unidade que serve para avaliar o poder de uma artefato nuclear, comparável à energia produzida pela explosão de mil toneladas de TNT) capaz de pulverizar o maior  porta-aviões existente. Eram alimentados com dados do alvo pelo sistema do satélite Legenda, que podia rastrear e monitorar grupos de porta-aviões rapidamente desde sua órbita.

O que afundou o Kursk? 

 
 

[1] O motor do torpedo é acionado acidentalmente. Como não estava dentro d’água, ocorreu um superaquecimento;

[2]  um duto ou o casco rompeu provocando um escapamento de peróxido de hidrogênio (HTP) no interior do torpedo;

[3] O HTP reagiu em contato com o metal quente expandindo-se e aumentando a pressão, ocorrendo a primeira explosão;

[4] O calor resultante provocou a segunda explosão: todos os torpedos armazenados na seção frontal do Kursk detonaram


Os mísseis estavam posicionados lateralmente no casco, em duas fileiras de 12 unidades de cada lado da torre de comando, em silos que apontavam para cima num ângulo de dezessete graus. Era este arsenal que levou a NATO a classificá-lo como um SSGN, o G significando míssil guiado. Se isso não fosse suficiente, os Oscars levavam um grande complemento de torpedos. Cada submarino tinha quatro tubos de tamanho estândar de 533 mm de diâmetro, que podiam lançar torpedos guiados do tipo padrão, SS-N-15  Starfish antissubmarino ou SS-N-16 Stallion antinavio. Havia, também, dois tubos de 650 mm destinados a lançar os poderosos torpedos guiados tipo 65-76A contra grandes belonaves.

Os seis tubos estavam armados com 24 torpedos. Os Oscars precisavam ser rápidos para interceptar os porta-aviões movidos a reatores nucleares, o que implicava em ser também a propulsão nuclear. Cada um era aparelhado com dois reatores nucleares OK-650 que, em conjunto, acionavam duas turbinas proporcionando até 99.000 HP, capazes de imprimir velocidade de 15 nós (28 km/h) na superfície e até 33 nós (61 km/h) submergido.

O plano era construir 20 submarinos da classe, porém apenas 13 foram concluídos, ou estavam em construção, antes da desintegração da União Soviética e do fim da Guerra Fria. O K-141 denominado Kursk, foi lançado somente em março de 1992 e comissionado na Frota Russa do Norte em dezembro de 1994.

Em 12 de agosto de 2000, o Kursk fazia parte de uma grande exercício da Frota Russa do Norte no mar de Barents, que incluía o porta-aviões  Admiral Kuznetsov e o cruzador de batalha Pyotr Velikiy. Estava com a carga completa de torpedos e mísseis Granit com ogivas convencionais e sua missão era realizar um ataque simulado a um porta-aviões. As 11:28 a.m., uma explosão submarina foi detectada, seguida por uma segunda explosão muito maior. Foram registradas pelo cruzador de batalha Pyotr Velikiy, por dois submarinos americanos ao largo, presentes em missão de reconhecimento apesar do fim da Guerra Fria, e pelo Instituto Norueguês de Sismologia.

Foram 09 dias de esforços para tentar salvar a tripulação porventura sobrevivente. No dia 21, mergulhadores noruegueses penetraram no casco e constataram a morte de todos os tripulantes. Em 23 de agosto, o Procurador Militar Chefe russo abriu uma investigação criminal para apurar as causas da destruição do K-141 Kursk.

 Dezoito hipóteses foram formuladas, entre elas:

  A colisão do Kursk com um submarino ou navio de superfície russo ou estrangeiro;

 

Um submarino ou navio de superfície russo ou estrangeiro teria acertado o Kursk com um torpedo ou um míssil;

 

  Sabotagem;

 

  Ação terrorista;

 

  Choque do Kursk com uma mina do tempo da Guerra Patriótica;

 

A destruição do Kursk resultara de uma situação anormal com seu próprio armamento.

A investigação concluiu que um dos torpedos do Tipo 65-76A do Kursk havia explodido no seu casulo ou no tubo. Possivelmente, uma solda mal feita de um duto ou um dano no casco do torpedo causado pela movimentação no armazenamento causara um fuga de peróxido de hidrogênio e acionado seu motor, gerando aquecimento.

Como a maioria dos torpedos, o Tipo 65 usa esse composto como combustível. Infortunadamente, o peróxido de hidrogênio torna-se explosivo quando em contato com compostos orgânicos (água, detergentes e aditivos em geral) ou calor – foi o que ocorreu.

As teorias conspiratórias prosperaram durante algum tempo, sendo a mais insistente a de que o Kursk fora torpedeado por um submarino americano. Embora tecnicamente possível (na ausência de uma evidente explosão interna) não havia um motivo remotamente plausível, numa época de boas relações US-Rússia. Por que atacar o Kursk?  Por que só o Kursk e não o Kuznetsov ou o Pyotr Velikiy?

Na verdade, o afundamento do Kursk foi causado por um simples fenômeno químico acidental. A tragédia ocorrida só reforça a ideia de como a vida é perigosa a bordo de submarinos e o quanto é importante cuidados radicais com a segurança debaixo d’água.

Finalmente, a possibilidade de pensar em conspiração é um alerta de que, se esse incidente ocorresse durante uma crise genuína, o acidente poderia causar uma perigosa escalada rumo a um confronto indesejável.

Seis submarinos Classe Oscar permanecem em operação e mais dois estão em processo de modernização, por ora paralisado.

FONTES DE CONSULTA

https://www.theguardian.com/world/2001/aug/05/kursk.russia

http://www.pravdareport.com/society/stories/12-08-2016/121163-kursk_submarine-0/

http://www.verim.org/ship/katastr/k-141-kursk/start

https://www.nytimes.com/2000/08/15/world/frantic-russian-effort-to-rescue-crew-of-sub.html

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