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Infraero sai do azul e tem prejuízo recorde em 2013

O balanço da Infraero tomou um banho de vermelho em 2013, primeiro ano completo após as privatizações de três grandes aeroportos de sua antiga rede, registrando o pior resultado financeiro de sua história. A estatal teve prejuízo de R$ 1,224 bilhão no ano passado, antes dos investimentos, que normalmente são excluídos do balanço porque os ativos aeroportuários pertencem à União. Quando se somam os investimentos, o vermelho fica mais forte e sobe para R$ 2,654 bilhões.
 
Esse quadro ilustra o tamanho do desafio da Infraero para se adequar à nova realidade do setor, que teve o monopólio quebrado em 2012, com as concessões de três aeroportos superavitários: Guarulhos, Viracopos e Brasília. Juntos, eles correspondiam à movimentação de 30% dos passageiros, 57% da carga e 19% das aeronaves do sistema.
 
O processo de transferência desses aeroportos à iniciativa privada, após uma fase de transição, foi concluído no último trimestre de 2012. Naquele ano, a estatal teve lucro de R$ 396,7 milhões (antes dos investimentos) e de R$ 114,6 milhões (depois). Ambos os resultados eram positivos, sem exceção, desde 2008.
 
Para o diretor de administração da Infraero, Mauro Pacheco, a empresa vive um "período de transição" e os resultados do ano passado são "incomparáveis" com exercícios anteriores. Além da perda dos três aeroportos, houve uma "somatória de eventos" com reflexos negativos no balanço, segundo o executivo.
 
A combinação mencionada por Pacheco inclui uma despesa de R$ 191 milhões com o programa de demissões voluntárias, que já teve a adesão de aproximadamente 800 empregados, e a perda de receitas do adicional do Ataero, uma taxa aeroportuária que engordava o caixa da estatal e agora vai parar diretamente no Fundo Nacional de Aviação Civil.
 
Pacheco explica ainda que, por orientação de auditores independentes, a Infraero se adequou antecipadamente às exigências do padrão internacional de relatórios financeiros conhecido pela sigla IFRS. Com isso, foi preciso baixar em R$ 398 milhões o valor "recuperável" de investimentos feitos em aeroportos que permanecem na rede da estatal, além de aumentar em R$ 383 milhões as provisões para clientes "duvidosos". Essas pressões no balanço, conforme pondera o diretor, não devem se repetir em 2014 ou ter seus efeitos bastante atenuados.
 
"É uma condição transitória de desajustes", afirma Pacheco, sem negar o peso da retirada de grandes aeroportos superavitários da lista de terminais administrados pela Infraero. Os contratos de concessão de mais dois aeroportos – Galeão (RJ) e Confins (MG) – devem ser assinados na semana que vem. A transição operacional será concluída em agosto.
 
"Há um lado negativo e um lado positivo. O negativo é que perdemos três aeroportos importante, vamos perder mais dois e temos o desafio de nos equilibrarmos financeiramente nos próximos anos", observa o diretor administrativo. "O positivo é que estamos nos reestruturando e procurando ser mais eficientes na geração de receitas, bem como na redução de despesas. E temos 49% de participação em concessionárias que buscam o lucro e já podem render dividendos aos acionistas a partir de 2017 ou 2018."
 
O novo quadro financeiro revela uma empresa mais dependente do Tesouro Nacional para manter seus investimentos nos aeroportos, que também atingiram valor recorde no ano passado, e com um longo caminho a percorrer até sua desejada abertura de capital. A meta do presidente da estatal, Gustavo do Vale, é prepará-la para uma oferta inicial de ações em torno de 2016.
 
Para isso, a empresa de consultoria Falconi fez um trabalho detalhado, com sugestões para o enxugamento de custos e a exploração de mais receitas. As dificuldades, no entanto, são óbvias.
 
Por exemplo: o programa de demissões voluntárias tornou-se ainda mais necessário, porque apenas 27% dos empregados da Infraero nos três aeroportos privatizados em 2012 decidiram migrar para as novas concessionárias, apesar dos incentivos negociados com os sindicatos antes dos leilões. Agora, em 2014, o número de funcionários que mudarão para as operadoras privadas do Galeão (Odebrecht TransPort) e de Confins (CCR) é incógnita.
 
Não menos desafiador é o fato de que a Infraero ficou basicamente, tirando algumas exceções, com o "osso" do sistema aeroportuário. Basta ver a diferença dos resultados operacionais: essa conta saiu de um azul de R$ 994,8 milhões em 2012 para um saldo de R$ 80,8 milhões em 2013. Com a perda de mais dois aeroportos superavitários, há boas chances de que esse indicador também entre no vermelho neste ano, apesar do esforço no sentido contrário.

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