A história da Marinha do Brasil (MB) foi e é construída por heróis, alguns famosos e muitos desconhecidos. Dos vultos navais aos dias atuais, o nosso pessoal – militares e servidores civis, homens e mulheres -, é a base da instituição. Das disputas pelo território no Brasil colonial à participação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança, da Primeira e Segunda Guerras mundiais à ampliação dos limites do mar brasileiro e às ações de Assistência Hospitalar na Amazônia, foram diversos brasileiros que dedicaram suas vidas em defesa da unidade nacional e do desenvolvimento do País, demonstrando a fundamental participação dos homens do mar na construção de nossa história.
As primeiras figuras de importância para a História Naval brasileira despontaram a partir da defesa dos interesses do Brasil Colônia: Cristóvão Jacques, Martim Afonso de Souza, Estácio de Sá, Salvador Correia de Sá e Benevides, Jerônimo de Albuquerque e tantos outros protagonistas de feitos heroicos que, não raro, sacrificaram a própria vida pela causa que defendiam.
A galeria dos vultos notáveis de nossa História Naval ganha novos personagens com o nascimento do Brasil independente, quando se constituiu a Marinha Imperial, representada pela Esquadra da Independência. Ao longo do tempo, emblemáticos exemplos de heroísmo, coragem, visão estratégica, competência administrativa, fibra, inteligência e dedicação foram oferecidos às gerações futuras por Tamandaré, Barroso, Inhaúma, Custódio de Mello, Wandenkolk, Alexandrino, Júlio de Noronha, Frontin, Álvaro Alberto, os jovens Guarda-Marinha Greenhalgh e Aspirante Nascimento, além de outros nomes de grande valor.
Destaque, também, para o Imperial Marinheiro Marcílio Dias, personagem homenageado na campanha institucional deste ano referente à Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha, que é comemorada no dia 11 de junho. Sua história continua a inspirar muitos brasileiros, especialmente aqueles que resolveram ingressar na MB em busca de um futuro melhor. Marcílio Dias é considerado um dos heróis da Batalha Naval do Riachuelo e ficou conhecido por dar a vida pela nação. Nascido em Rio Grande (RS), ingressou na Armada Imperial aos dezessete anos, quando sua mãe, Pulsena Dias, preocupada com seu comportamento rebelde, inscreveu o filho na Escola de Grumetes do Rio de Janeiro, a fim de transformar o seu futuro.
Em 11 de junho de 1865, a bordo da Corveta “Parnaíba”, atacada por navios paraguaios, Marcílio Dias foi ferido mortalmente em uma luta corpo a corpo contra quatro inimigos, falecendo no dia seguinte. Por sua história, é um dos heróis do passado que encorajam a Marinha a ser a Força que transforma vidas, inspirando os brasileiros de hoje a lutarem por um futuro melhor.
Transformando o presente e inspirando o futuro
Atualmente, a Marinha do Brasil possui em seus quadros da ativa homens e mulheres que buscam, em seu dia a dia de trabalho, honrar aqueles que fizeram da MB uma instituição respeitada pelo povo brasileiro. São brasileiros de todos os cantos do País, de norte a sul, de diversas origens, com diversas histórias de vida, que fazem da Força um retrato de nosso Brasil.
Espalhados por todo o Brasil, nas organizações militares da MB distribuídas por nosso território, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), são cariocas que hoje trabalham em São Paulo (SP), baianos no Rio Grande do Sul (RS), catarinenses em Palmas (TO), pernambucanos em Brasília (DF) e assim por diante. Muitos com histórias de superação, de dedicação à Marinha e de amor à Pátria.
Como exemplo, a Marinha destaca a história de superação dos três personagens da campanha deste ano em comemoração à Batalha Naval do Riachuelo: o Suboficial-ET Francisco Holanda de Miranda; o Primeiro-Sargento-ET Wallace Sabino Albuquerque; e o Terceiro-Sargento (FN) Juares Augusto Raposo Reboita Junior.
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Em janeiro de 1978, nasce, das mãos de uma parteira, o Suboficial-ET Miranda, às margens do Rio Laguinho. A localidade, com cerca de 100 habitantes, fica na Zona Rural do município de Afuá (PA). “Neste rio fui criado por meus pais, bisavós e tios até os sete anos de idade. Como todo ribeirinho aprendi a nadar, pescar e ajudar nas caçadas nas matas em busca de alimentos”, lembrou Miranda.
Aos sete anos, sua família se mudou para a cidade de Macapá (AP) em busca de uma vida melhor. Miranda começou a trabalhar aos dez anos de idade para ajudar a família, que vivia em uma área de invasão. Aos 17 anos, com muito esforço, concluiu o ensino básico e aos 18 resolveu fazer concurso para ingressar na MB, após ver um anúncio na televisão. Na Marinha, Miranda conheceu diversas cidades no País e no exterior, a bordo dos navios em que serviu.
“Sempre agradeço à Marinha do Brasil por ter me aberto as portas para conhecer o mundo. Antes de fazer a prova para Aprendiz de Marinheiro eu nunca havia saído da região em que nasci e vivi minha infância. Por isso, incentivo os jovens a ingressarem e a seguirem a carreira naval”, complementa.
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Outro militar que possui uma história inspiradora é o Primeiro-Sargento-ET Wallace. Nascido no dia 4 de junho de 1982, em Juazeiro do Norte (CE), como muitos brasileiros ele passou por dificuldades financeiras na infância. Wallace manteve a determinação diante das dificuldades em busca de seus sonhos. Morou em uma casa sem água e sem luz. Se alimentava, na maioria das vezes, com uma mistura de farinha e alguma carne ou ovo.
“Animado com alguns primos que estavam em situação estabilizada, empregados como mecânicos, conquistei uma vaga no SENAI. Foi quando eu conheci um amigo que fez prova para a Marinha e passou”, relembrou.
A partir daí, foram muitas histórias, dias de mar e viagens. “Existem diversas situações vividas, são mais de 1.600 dias de mar e mais de 21 anos de intenso trabalho. Mas mantenho um único pensamento: faria tudo de novo”, complementou.
O Sargento Wallace afirma que a MB o possibilitou a conhecer lugares diferentes a criar amizades que, por vezes, são mais fortes do que os laços sanguíneos. “A MB é minha segunda família, uma segunda casa e foi a chance de transformar não apenas a minha vida, mas a da minha família toda”, afirmou.
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O Terceiro-Sargento (FN) Juares também tem uma história de superação. Oriundo de uma família pobre, com muitos problemas financeiros, o menino franzino, como ele se descreveu, nasceu em 1987, na cidade de Rio Grande (RS). Sua perseverança fez com que ele superasse os obstáculos da vida e fizesse carreira na Marinha do Brasil, instituição que escolheu para poder ajudar a sua família. “Desde criança eu tinha um sonho: queria ser militar e ajudar a minha família, mas naquele tempo eu via isso como algo impossível devido à realidade e ao meio em que vivia, uma comunidade pobre na periferia da cidade em que nasci”.
O Sargento Juares afirma que foi um adolescente problemático e que, em 2002, teve a sorte de ser matriculado por seus pais em um projeto social da MB, conduzido pelo Comando do 5º Distrito Naval, que tinha como propósito resgatar crianças e adolescentes que se encontravam em situação de vulnerabilidade social. Foi durante o projeto que conheceu um dos pilares do militarismo – a disciplina -, e aprendeu a importância de realizar atividades físicas, cumprir horários, ter foco, respeitar e cultuar os símbolos nacionais.
“Agradeço à Marinha por ter investido em mim com inúmeros cursos e missões, me aprimorando técnica e profissionalmente ao longo da minha carreira, proporcionando que aquele jovem do passado realizasse seu sonho. Hoje sou militar, construí a casa da minha mãe, posso ajudar meus familiares e sou referência para vizinhos, amigos e familiares”, concluiu.
Assim como Miranda, Wallace e Juares, existem muitas Marias e Antônios que compõem os quadros de nossa instituição. São homens e mulheres que manifestam no seu dia a dia os valores militares do patriotismo, civismo, culto às tradições históricas, fé na missão das Forças Armadas, orgulho, espírito de corpo, amor à profissão e entusiasmo. São exemplos de hoje que com toda certeza inspirarão futuras gerações de militares da Marinha do Brasil.