Por Segundo-Tenente (RM2-T) Thaís Cerqueira – Rio de Janeiro, RJ
A Fragata União desatracou hoje (18) da Base Naval do Rio de Janeiro, dando início à Guinex-II 2022. A missão, que vai até 20 de agosto, com cerca de 260 militares, visa promover a interoperabilidade com as Marinhas e Guardas Costeiras na área do Golfo da Guiné, como Costa do Marfim, São Tomé e Príncipe, Camarões, Nigéria e Cabo Verde, por meio de exercícios no mar e no porto, mantendo a representação da Marinha do Brasil (MB) no Atlântico Sul.
Nesta entrevista, o Capitão de Mar e Guerra Flavio Leta Vieira, Comandante do 2º Esquadrão de Escolta e que, na Guinex-II, exerce a função de Comandante do Grupo-Tarefa, fala sobre os objetivos e ações que serão realizados, explica um pouco sobre como a missão colabora para a segurança marítima da região, além de abordar a importância estratégica do Golfo da Guiné para o Brasil.
Agência Marinha de Notícias – Quais os objetivos da Operação Guinex-II?
Um dos objetivos principais da Operação é estreitar os laços da Marinha do Brasil e do Brasil, como nação, com os países da Costa Africana. Nós, historicamente, temos uma grande ligação com essa região e uma atenção especial ao nosso entorno estratégico. Podemos citar como exemplo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. Esse entorno estratégico do Brasil, no qual a costa oeste da África está inserida, é uma região muito importante para o país em termos econômicos e políticos. A presença durante a Operação Guinex também quer promover a interoperabilidade entre as nações, as Marinhas e as Guardas Costeiras dos países com os quais nós teremos oportunidade de trabalhar, contribuindo, assim, com a política externa do país.
Agência Marinha de Notícias – Quais países estão envolvidos na missão?
Diretamente envolvidos estão Costa do Marfim, São Tomé e Príncipe, Camarões, Nigéria e Cabo Verde. Além desses países, os quais serão visitados por nosso Grupo-Tarefa, outras Marinhas estarão operando na região e participarão dos exercícios, tais como: Espanha, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos da América, França, Senegal, Benin, Togo, entre outros. A ideia é termos troca de experiências que elevem a prontidão de todos os meios envolvidos.
Agência Marinha de Notícias – Qual a importância da presença e da atuação da MB no Golfo da Guiné? E qual a relevância estratégica para o Atlântico Sul?
Quando falamos em presença do Brasil no Golfo da Guiné, estamos falando de um importante investimento: apoio à segurança marítima do Atlântico do Sul.
A importância do comércio marítimo para o mundo é enorme e, falando mais especificamente do Brasil, mais de 85% do nosso comércio passa pelo mar. Levando em consideração as linhas de comércio marítimo – a quantidade de navios que trafegam trazendo e levando mercadorias – a importância da MB no Golfo da Guiné é relevante para contribuir com a redução de atos ilícitos na região, principalmente a ação de piratas. Isso pode contribuir, por exemplo, para a redução do custo do frete dos navios e embarcações, o que consequentemente refletirá para a população a médio e a longo prazo no preço dos itens comercializados.
Estrategicamente, estamos falando do entorno que foi estabelecido pela MB como sendo prioritário, ou seja, os países da costa oeste da África, da América do Sul e do continente Antártico. Os países da África e da América do Sul têm uma relevância muito grande para nós. A presença da MB no Atlântico Sul como protagonista das ações, sendo uma Marinha preparada, forte e que tem condições de realizar as tarefas que são a ela apresentadas, faz com que a nossa estratégia de segurança marítima e de apoio à política externa fortaleça o que foi estabelecido como prioridade.
Agência Marinha de Notícias – Como a missão colabora para a segurança marítima do Atlântico Sul?
A ação de presença de um navio militar em uma área onde há ilícitos ou possibilidade de ilícitos é uma contribuição muito grande. Se fizermos um paralelo com o policiamento terrestre, uma área que não é policiada tem muito mais propensão à ocorrência de ilícitos.
A presença da MB no Atlântico Sul faz com que esse tipo de ocorrência seja reduzido. A nossa preparação e atuação visam evitar ou combater atos ilícitos que possam afetar a segurança marítima.
Agência Marinha de Notícias – Quais ações e atividades são realizadas durante a missão?
O foco principal dos adestramentos é a abordagem, visita e inspeção a outros navios, mas os exercícios incluirão manobras de embarcações rápidas, trânsito sob ameaças assimétricas, técnicas de operações especiais, entre outros.
Nós vamos apresentar o que temos de conhecimento e absorver deles outras técnicas, para incrementar a nossa capacitação. O resultado esperado é que todos os envolvidos fortaleçam suas táticas, técnicas e procedimentos em prol da segurança marítima.
Agência Marinha de Notícias – Qual o diferencial da Guinex-I, que aconteceu em 2021, para a Guinex-II?
É difícil falar em grande diferencial, quando tratamos de uma operação de sucesso. Mas, como em toda operação que fazemos, buscamos apontar alguns pontos onde podemos aprimorar nossas ações. Um desses pontos apresentados ao final da Guinex-I foi a necessidade de nos reunirmos mais vezes com os países participantes, antes de suspender. Em 2022, as reuniões de preparação proporcionaram um ambiente de discussão adequado e que habilitaram um planejamento detalhado, o mais próximo possível do que executaremos quando estivermos lá. Isso nos dará condições de obter uma troca de experiências muito mais proveitosa, por já sabermos o que estamos buscando em termos de conhecimento. Além disso, também dará mais segurança para as Marinhas e Guardas Costeiras com as quais vamos realizar os adestramentos e exercícios.
Outro fator importante é a possibilidade de apresentar a esses países alguns produtos da nossa Base Industrial de Defesa, no sentido de evidenciar essas informações e tentar tornar nossa relação ainda mais forte, inclusive comercialmente. Tudo isso faz com que os países incrementem laços de confiança mútua, se desenvolvam e tenham a capacidade de atuar no Atlântico Sul com a necessária independência.