Neli Trindade / Ten Evellyn Abelha
O Grupo de Estudo do Projeto MRM (Maintenance Resource Management – em Inglês) reuniu-se para discutir a segunda fase de estudos da manutenção quanto à necessidade de treinamento dos mantenedores. O encontro ocorreu na última quarta-feira (31/05), na sede do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), em Canoas (RS).
O objetivo do grupo é gerar recomendações, considerando as melhores práticas internacionais, adaptadas e aprimoradas para o contexto da aviação civil e militar no Brasil. Por meio da análise de dados e informações observadas na realidade do profissional de manutenção, busca-se uma evolução nas condições de trabalho. Por ser uma atividade focada no fator humano, depende do comprometimento de todos os profissionais para alcançar os melhores resultados.
O Suboficial Milton Cardoso de Lima, especialista em manutenção da equipe do SERIPA V, teceu algumas considerações sobre a origem do projeto e breve retrospectiva sobre as atividades já desenvolvidas. Ele também destacou as tratativas do Acordo de Cooperação Científica entre o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ressaltando a sua importância na sustentação do projeto. “A assinatura do contrato permitirá avançar no cumprimento do extenso calendário de atividades previsto pelo Grupo de Trabalho”, declarou.
O MRM promete revolucionar a manutenção com a quebra dos atuais paradigmas, evidenciando autonomia e proatividade na prevenção de problemas futuros e agir, de forma eficiente, para evitá-los ou amenizá-los.
As discussões perpassam pela formação do técnico, cuja responsabilidade é manter o perfeito funcionamento de uma aeronave. Para isso, o Grupo de Trabalho analisou artigos científicos, documentos técnicos encontrados na literatura mundial, além de realizar entrevistas, storytelling (capacidade de contar histórias relevantes) e outros recursos que formarão a base do convencimento para as mudanças necessárias.
Para o Chefe do SERIPA V, Tenente-Coronel Aviador Leonardo Pinheiro de Oliveira, a comunicação entre piloto e mecânico, ainda apresenta muitas barreiras. “O MRM surge como uma recomendação para mitigar as dificuldades de comunicação, trazendo esses profissionais para ocuparem o devido espaço na segurança de voo”, afirmou.
Ainda de acordo com o Suboficial Milton, na aviação civil, observa-se que a situação do mecânico está defasada do avanço tecnológico na área. "O Manual do Mecânico de Aeronaves empregado nos cursos de formação traz nomenclaturas e legislações fora de contexto. Muitos conceitos já estão ultrapassados, se comparados desde os primórdios da aviação às modernas aeronaves. É preciso falar de estocagem de aviões, combustível e lubrificantes, materiais compostos [composite], tecnologias embarcadas e outros temas relevantes”, explicou.
Segundo a Psicóloga Rosana Bauer, a conclusão do projeto resultará na elaboração de um manual de MRM, que abre caminho para a consideração do conhecimento técnico do profissional de manutenção. “Estamos repensando o papel do mecânico de voo e a sua contribuição no processo decisório, para que ele possa influenciar na eliminação de falhas ou erros humanos. Após a conclusão do projeto, será necessário um trabalho de divulgação para o convencimento de chefes, diretores e comandantes de organizações civis e militares”, afirmou.
Origem
A estruturação do MRM foi pesquisada com base nos manuais da Força Aérea Americana (USAF). O Tenente-Coronel Especialista em Avião Jocelyn Santos dos Reis, atualmente no CENIPA, conhece o assunto com profundidade. Ele se dedicou à tradução e à adaptação do manual em inglês para o português e elaborou uma apostila. Desde então, o tema tem sido disseminado em palestras, ampliando a rede de informação.
O MRM, que segue o modelo de abordagem inspirado no CRM (Crew Resource Management – na sigla em Inglês) é focado na valorização do homem de manutenção. “O treinamento abrange a atualização permanente, desde o planejamento, comunicação e apoio mútuo das equipes, passando pelo gerenciamento de serviço, consciência situacional, tomada de decisões e o debrifim, para minimizar erros humanos”, esclareceu.
A manutenção é um conjunto de ações capazes de manter a aeronavegabilidade de uma aeronave, seja avião ou helicóptero, para um voo seguro. São alvos do MRM o gerente de manutenção, mecânico, inspetor, suprimentistas e bibliotecários, ou seja, toda a equipe de profissionais de solo que desempenham atividades de manutenção de aeronaves.