Sergio Leo
Duas empresas chinesas, a China Southern e a Hebei Airlines, aproveitarão a viagem da presidente Dilma Rousseff à China para anunciar a compra de jatos EMB 190, fabricados pela Embraer, em resposta à reivindicação brasileira de vendas de maior valor agregado ao país asiático.
A Hebei, lançada no ano passado, comprará 25 jatos, e a China Southern, que já havia anunciado em janeiro a compra de dez EMB-190, por intermédio da chinesa CDB Leasing, confirmará a aquisição de mais dez. O jato tem capacidade para transportar até 114 passageiros. Dilma chega hoje e fica na China até o dia 18. É a terceira viagem internacional da presidente e a primeira à Ásia.
O Brasil negocia ainda a transformação da fábrica da Embraer na China, para que ela possa montar no país o jato executivo Legacy 600. A unidade está ameaçada de fechamento, por causa da decisão dos chineses de não comprar mais os jatos EMB 145, de 50 lugares, fabricados lá pela associação entre a chinesa Avic e a Embraer. Os contratos com a Embraer fazem parte de um pacote de cerca de 20 acordos e memorandos de entendimento, que devem ser assinados durante a visita de Dilma.
Entre os gestos de aproximação feitos pelos chineses, estará o credenciamento de dez frigoríficos, que serão autorizados a exportar, pela primeira vez, carne de porco do Brasil diretamente à China. Com a medida, a associação dos exportadores de carne suína do Brasil estima que a China, em cinco anos, poderá absorver cerca de 200 mil toneladas anuais, 37% das exportações brasileiros do produto em 2010.
A Petrobras, como antecipou o Valor, assinará contratos com as chinesas Sinochem e Sinopec, para, respectivamente, recuperação de petróleo em reservas de difícil extração e para iniciar exploração de dois blocos no litoral dos Estados do Pará e Maranhão. A Eletrobras e a chinesa State Grid assinarão parceria, o que deve facilitar a entrada da empresa da China nos leilões de energia no Brasil.
A fabricação dos Legacy na China, para aproveitar o crescente mercado de aviação executiva, é o principal objetivo das negociações entre Embraer e chineses, com apoio do governo brasileiro. A retomada das compras de aviões brasileiros, após um período de incerteza, em que a concorrente canadense Bombardier começa a produzir também na China, é, porém, a primeira demonstração concreta dos chineses no interesse em prestigiar a relação bilateral.
Os dois países assinarão, ainda, acordo de defesa, que prevê troca de tecnologias e informações, ações conjuntas e intercâmbio de especialistas. No comunicado conjunto a ser assinado amanhã pela presidente e pelo presidente chinês, Hu Jintao, a China deverá acompanhar o Brasil na defesa de uma reforma nos mecanismos de decisão da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas rejeitava, até ontem, qualquer menção específica ao Conselho de Segurança, em que o governo brasileiro reivindica um assento permanente.
Os últimos gestos chineses, contrários a mudanças nas Nações Unidas por temor de abrir espaço para maior influência de Índia e Japão, concorrentes asiáticos, fazem com que o governo brasileiro já considere uma vitória a concordância em mencionar favoravelmente a reforma na instituição.
Brasil e China devem firmar, também, acordos para instalação de um centro de pesquisas em ciência e tecnologia, com ênfase em nanotecnologia, acordos de troca de informações e experiências entre seus institutos de metrologia, além de cooperação em biocombustíveis e para maior uso do bambu como material em setores como têxtil e construção civil. A Embrapa firmará dois acordos, para projetos de agricultura sustentável e intercâmbio de pesquisadores.
Dilma visita a China acompanhada por uma comitiva de ministros e de 250 empresários, que representam distintos setores da economia. Para os empresários brasileiros, o mercado chinês é fundamental, mas eles também cobram limites para as importações oriundas da China.
Na semana passada, o porta-voz da Presidência da República, Rodrigo Baena Soares, disse que a expectativa da viagem é que as conversas levem à abertura de oportunidades em vários setores do comércio na China.