Christiana Sciaudone
A Embraer SA está apostando no crescimento da economia americana para atrair compradores ricos para seus novos jatos comerciais, mesmo quando companhias cientes dos custos reduzem viagens em aviões privados e alguns proprietários, incluindo o ex-bilionário Eike Batista, estão sendo obrigados a vender seus aviões.
O primeiro dos modelos, o Legacy 500 – de tamanho médio, com até 12 assentos – iniciará operações no primeiro semestre de 2014 e será o modelo inaugural da Embraer construído para esse nicho do mercado. Um ano depois chegará o Legacy 450, chamado de um modelo ligeiro médio, anunciou a Embraer.
O desafio da Embraer: justo quando a maior fabricante de aviões do Brasil aposta nos novos jatos corporativos para reduzir sua dependência dos aviões comerciais, a demanda mundial é quase a metade do ritmo de 2008. O presidente Frederico Curado afirmou numa teleconferência que o mercado está “se enfraquecendo”, porém ele espera que a companhia cumpra suas metas de vendas.
Até a apresentação dos Legacy 450 e 500, a Embraer tirou os modelos de tamanho médio da sua tradicional linha de jatos regionais, convertendo-os em jatos de luxo. Agora, oferecerá os novos modelos num mercado já cheio de jatos da Bombardier Inc. e da Gulfstream da General Dynamics Corp, assim como de aviões usados, como Legacy 600, vendido recentemente por Eike Batista.
Foram os pedidos de jatos regionais comerciais e não os de aviões de negócios os que potenciaram a Embraer em 2013, elevando suas ações em 33 por cento, até ontem, em comparação com o Ibovespa, que caiu 17 por cento.
A Bombardier cresceu 30 por cento. Os pedidos das linhas aéreas dos Estados Unidos ajudaram a impulsionar as encomendas da Embraer, totalizando 366 jatos regionais, superando os 279 pedidos de modelos concorrentes da Bombardier.
A entrega global de jatos de negócios caiu de 1.315, em 2008, para 672, em 2012, conforme a Associação Geral de Fabricantes de Aviação. O total deste ano será de 649, segundo a consultoria Forecast International, baseada em Newtown, Connecticut.
Nesse mercado reduzido, os modelos do tamanho da linha Legacy enfrentam uma “seca” de encomendas, disse Brian Foley, ex-diretor de marketing na unidade de jatos comerciais Falcon da Dassault SA, atualmente consultor de aviação em Sparta, Nova Jersey.
Enquanto a Embraer não divulga sua carteira de pedidos, suas previsões de entregas são de entre 25 e 30 aviões da linha Legacy e da Lineage 1000 – de maior tamanho –, este ano, que representariam um ganho mínimo em relação aos 22 do ano passado. A companhia também prevê a entrega de entre 80 a 90 jatos leves Phenom, comparados com os 77 em 2012.
“Observamos certo enfraquecimento na faixa superior do mercado para o Legacy 650 e para o mercado de jatos comerciais mais caros”, disse Curado, em 26 de julho. “Diria que provavelmente apontaremos para as faixas inferiores mais do que para as superiores, mas continuo confiante em que podemos cumprir as nossas metas”.
Embraer, Bombardier
Curado estima vendas por até US$ 6,4 bilhões neste ano. O total da Bombardier – que também fabrica trens urbanos – poderia chegar a US$ 18,4 bilhões, segundo estimativas de analistas consultados pela Bloomberg. A margem operacional da Embraer, em 2012, foi de 10 por cento e a da Bombardier, de 4,78 por cento, segundo dados da Bloomberg.
Com 3,1% de margem de lucro operacional, a unidade de jatos executivos da Embraer continua atrás da aviação comercial, com 11,7 por cento, e da de defesa e segurança, com 10,9 por cento, segundo um relatório.